Nesta evocação das edições do 1º ano do JL, neste caso a oitava (9/22 de junho de 1981), vejamos a sua sequência. Como as anteriores caracterizada por muitas magníficas matérias, da autoria de já então figuras literária e intelectualmente ‘consagradas’, ou ‘famosas’, de par com autores – escritores e/ou jornalistas mais novos, muitos dos quais não o viriam a ser menos. Caso logo do nosso colaborador permanente que assinava o primeiro texto, M. A. Pina, ou seja o Manuel António Pina que exatamente 30 anos mais tarde seria distinguido com o Prémio Camões. E que, aqui, fazia um perfil, com entrevista, de “Júlio/ Saúl Dias: dois rostos dum artista”, seguido dum texto inédito do poeta e pintor, o presencista também conhecido por ser irmão de José Régio.
A seguir, duas páginas com Carlos de Oliveira, que fazia a capa, com mais um admirável retrato de João Abel Manta. Sobra o autor de Finisterra escrevia outro nosso colaborador permanente, e colunista, Nuno Júdice, seguindo-se por igual um inédito do admirável ficcionista e poeta de Sobre o lado esquerdo, com reflexões que foi anotando sobre os problemas que lhe levantou a escrita daquele romance. Páginas, pois, do que chamamos “o seu próprio laboratório romanesco” – e que laboratório!… – e que muito me custou arrancar-lhe, apesar da nossa amizade e relação constante, pois Carlos era de uma enorme exigência com tudo que fazia, publicava pouquíssimo e ‘aparecia’ o mínimo possível…
Depois, vêm poemas de Gottfried Benn traduzidos e apresentados por Vasco Graça Moura. E “A escala de Richter”, a crónica de Agustina Bessa-Luís, sobre Oblomov, a propósito de um filme apresentado na Semana do Cinema Soviético, comentada, lá mais para a frente, por Lauro António, num nº em que sobre cinema e sobre filmes escrevem mais, só…, Fernando Lopes, António-Pedro Vasconcelos, João Mário Grilo, João Lopes e Michel Mardore (este sobre os então ‘dominantes’ Cahiers du Cinéma).
Então, repare-se: estamos na p. 7 e já tivemos textos de Manuel António Pina, Nuno Júdice, Vasco Graça Moura, Agustina, inéditos de Júlio/ Saúl Dias e Carlos de Oliveira, poemas de Benn em versões do VGM!… E a seguir, três exclusivos: sobre o “Buñuel íntimo”, o surrealismo e François Miterrand como escritor. Este da autoria da Gabriel Garcia Marquez e com um retrato do Presidente francês por João Abel – uma das suas oito ilustrações para a edição.
Vem depois um texto que é a “estreia” nas nossas páginas de alguém que hoje todos conhecem, o que – muito novo, embora já prof. nos EUA – não acontecia à época, e que continua a ser nosso colaborador: Onésimo Teotónio Almeida, com um ensaio, de mais de duas pp., sobre o conceito de filosofia.
Alem das crónicas do Abelaira e do Irineu Garcia, sempre em dia com a atualidade literátura e cultura brasileiraa, e do debate-papo – as notícias, entre elas a de que O Jornal ia editar Chico Buarque, e Garcia Marquez dar a lume a Crónica da morte anunciada – que O Jornal também conseguiria vir a editar, o que foi para mim uma alegria talvez ainda maior do que publicar o Chico, essas são outras histórias. E diversas matérias, como o Assis a entrevistar Ángel Crespo, o Manuel Beça Múrias a escrever sobra Saroyan em Portugal e o Fernando Dacosta sobre o Alentejo.
Até chegar à final secção de Crítica, com o imperfível “o guarda-livros”, os críticos permanentes, ou quase (como o Urbano Tavares Rodrigues, a recensear um livro de Maria Ondina Braga), das diversas áreas. Tendo a abrir um texto de página e meia, do Eduardo Prado Coelho, sobre um livro de estreia, ainda antes dele chegar às livrarias (como acontece nesta edição com o novo romance de João de Melo), e de que também se antecipavam uns excertos. Texto que é daqueles que – como não poucos saídos no JL ao longo doas anos – sei, tenho a certeza, foi muito importante para o imediato lançamento e sucesso da autora. Livro: O silêncio; (estreante) autora: Teolinda Gersão.