No último tema, e capa, que lhe dedicamos (JL 1282, de 2 de dezembro de 2019) lembrei a sua destacada presença nas nossas páginas, ainda ele estava muito longe de ser o arquiteto de fama mundial em que se tornou. Refiro-me, claro, a Álvaro Siza Vieira – e aquela destacada presença, com grande relevo, começou logo na nossa quarta edição (14/27 de abril de 1981), como as anteriores com o respetivo nº, o 4, na capa de João Abel Manta. Logo a abrir, um perfil/entrevista pelo Manuel António Pina (“Siza Vieira, arquitetura, arquitetura”), depois um seu longo e muito interessante diálogo de Siza com o seu também prestigiado colega, e estudioso do ofício, Nuno Portas. Quase cinco páginas – então, recordo de novo, maiores que as atuais -, quase compactas… Às quais se segue um texto, ainda sobre o mesmo tema, de outro importante arquiteto, dez anos mais velho, Manuel Taínha.
Outro tema, a figura e obra do filósofo e escritor que nesse início dos anos 80 continuava na primeira linha da atenção, e amiúde da polémica, um pouco em todo o mundo culto, e sobre o qual o Centro Nacional de Cultura e o Instituto Francês de Lisboa iam organizar um colóquio: Jean Paul-Sartre. E sobe ele, em mais quatro páginas, escrevem nada mais nada menos do que Eduardo Lourenço, Eduardo Prado Coelho e Luiz Francisco Rebello.
Vinha a seguir o texto mais longo sobre literatura desta edição, “Intimismo e intervenção literária”, de Clara Rocha, na qual analisa designadamente o romance Bolor, de Augusto Abelaira. No seu “Amador de Poemas” David Mourão-Ferreira escreve sobre – e traduz – Walther von der Vogelweide, o sempre atento Irineu Garcia dedica a sua “Zona Tórrida” a João Cabral de Melo Neto; e, ao lado, Arnaldo Saraiva fala de Drummond. Enquanto, após os dois grandes poetas brasileiros é de novo Gabriel Garcia Marquez que aparece, no âmbito do nosso exclusivo para Portugal da revista espanhola Cambio-16. Além do essencial “O Guarda-Livros”, de que já aqui falei, outras críticas, entre elas a primeira de Manuel Frias Martins.
Em matéria de “Ideias”, destaque para o texto “A questão do marxismo”, por José Fernandes Fafe, e para as duas páginas sobre/com Alain Touraine: um ensaio de António Fonseca Ferreira e uma pré-publicação do seu livro L’après-socialisme. Nas artes, por exemplo, France Huser a falar de Modigliani, o cinema e o teatro na visão de nossos críticos já aqui referidos, a fotografia a justificar uma chamada especial de atenção por um magnífico artigo de análise de António Sena, a propósito das imagens do atentado contra Ronald Reagan, com 14 fotos a ilustrá-lo. E a música em evidência com um artigo de Fernando Lopes-Graça sobre o centenário de Béla Bartok, além da coluna de João de Freitas Branco.
Enfim, várias matérias jornalísticas de atualidade, entre elas uma peça de Fernando Dacosta sobre “Lydia Barloff, o anti-travesti”, duas páginas de “Debate-Papo”, com a primeira colaboração de Mário Cláudio aqui no JL, e os cronistas permanentes da quinzena, no caso Maria Velho da Costa, Augusto Abelaira e Nuno Júdice. Na última página, “‘God save the Portuguese’, com astúcias, manhas e patranhas”, de Miguel Esteves Cardoso.