Jornal de Letras: Quais os objectivos deste congresso?
Dionísio Vila Maior: Em primeiro lugar, homenagear as personalidades ligadas ao Orpheu. Estamos a falar de uma revista que marcou profundamente a cultura e a sociedade portuguesas e que trouxe consigo uma plêiade de escritores de grande peso. Em segundo lugar, subjacente ao congresso há a ideia de que é fundamental olhar de novo para as obras destes escritores. Nestes últimos cem anos foram feitas muitas leituras, mas diversos conceitos da crítica literária evoluíram, o que possibilita novas abordagens.
São também cada vez mais os estudiosos, em Portugal e no estrangeiro, a interessarem-se pelo legado de Orpheu.
É verdade – e não me surpreende. A revista Orpheu é um marco muito forte. E os escritores que a constituíram deixaram um legado importante que as comunidades académicas têm sabido interpretar e divulgar, através do discurso canónico. Além disso, também sabemos, sem qualquer desrespeito pelos outros protagonistas, do impacto que Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros têm. Tudo isto facilita a proliferação de especialistas um pouco por todo o mundo.
Como se organiza este congresso?
Em dois momentos. Na Gulbenkian, nos três primeiros dias, com uma índole mais académica e científica. E no Centro Cultural de Belém com outro tipo de convidados. Aí tentaremos associar, em diversas mesas-redondas, a revista Orpheu a outras áreas culturais, literárias, artísticas e científicas. A mesma filosofia está presente na última etapa deste projecto, o congresso do Brasil.
Como surgiu essa ligação transatlântica?
Em 2012, quando começámos a pensar nestas comemorações, ficou logo muito claro a importância da ligação ao Brasil. E posso garantir que tem sido uma colaboração muito positiva.
O que trará o olhar brasileiro?
A ligação à Semana de Arte Moderna de 1922, que representa o grande momento modernista brasileiro, que tem fortes ligações com o português. Na verdade, essa semana foi uma espécie de passagem do testemunho da revista Orpheu, um prolongamento das experiências futuristas europeias. Com esta ideia, quisemos, com este duplo congresso, voltar a passar o testemunho, fortalecer a ligação, destacando não só o impacto português no outro lado do atlântico, mas também as figuras brasileiras que estão presentes na revista Orpheu. Aliás, este abraço luso-brasileiro prolongou-se, com influências múltiplas, ao longo do século XX. O congresso é mais um passo nessa história comum.