Entra-se nesta garagem na Graça, que fica num beco sem saída e Margarida Girão recebe-nos com um sorriso. Aqui funciona uma espécie de cowork informal, apenas no feminino, onde a arte oscila entre a joalharia e as surpreendentes ilustrações de Margarida, 41 anos, que vive a poucos minutos a pé deste aletier.
No entanto, só em 2015 assentou aqui. Nasceu e cresceu na Sertã, na Beira Baixa, e foi lá que começou a fazer colagens para se entreter, teria uns 11, 12 anos. Mas já era coisa pensada, pois cada obra que terminava, fruto de recortes de revistas que ia comprando, só levava um ponto final depois da sua assinatura e data.
Saiu da vila para Coimbra com o intuito de terminar o Secundário. E depois rumou mais a norte para tirar a licenciatura em Novas Tecnologias da Comunicação, na Universidade de Aveiro. Depressa se tornou web designer e mais tarde bolsista da mesma instituição em que se formou.
Foram só quatro meses, mas a experiência de dar aulas em Díli, Timor, foi inesquecível e tornou-a inquieta, para sempre. Nem o aterrar em Lisboa, por volta dos 30, a fez assentar. Rapidamente se mudou para São Paulo para ganhar a vida, quer na área de web design, quer mostrando o que valia na área da ilustração, que já tinha a marca colagens. Só que a cidade brasileira não era o que esperava e isso fez com que colocasse uma mochila às costas e andasse oito meses a descobrir o país – sempre a trabalhar.
No final da aventura brasileira, precisou de um tempo na Beira para se reencontrar. Agora, está de volta à capital e é neste atelier que passa a maior parte dos seus dias e dá graças ao programa de business mentoring (Women Win Win) que fez com que se orientasse no seu negócio artístico. “Foi mega útil, existe um antes e um depois. Hoje, já não tenho medo de ir bater à porta com propostas”, conta, visivelmente satisfeita com a aprendizagem.
No meio dos seus negócios, ainda arranjou tempo para organizar, aos fins de semana, workshops para dar algumas luzes acerca das suas técnicas. Por 25 euros, os interessados, especialmente mulheres acima dos 30, recebem um kit com o material para escortinharem e criarem a sua versão do tema do dia (erotismo, felicidade, viagens, sonhos). “Estão aqui, nesta mesa grande, completamente focados, e saem bem dispostos e mais leves.” Também já fez despedidas de solteira e experiências para turistas, através do Airbnb.
Quando tem algum tempo livre, Margarida dedica-se à sua arte e faz peças limitadas, que depois vende online. Como aquele desenho que nos encantou, com colagens, aplicações de flor de anis, malmequeres e alguma maquilhagem seca, finalizado no photoshop. Mas obras como estas não se criam assim, em cima desta mesa espaçosa e cheia de papéis, como no mini workshop que fizemos durante a nossa visita a este atelier e reproduzimos neste vídeo. Mas é um começo, temos esperança nisso.