Aigra Nova
A única aldeia com uma “maternidade de árvores” consegue surpreender o visitante que percorra as suas ruas
A aldeia é de malha urbana simples, correspondendo a um acesso que, no início, se divide em três pequenas ruas que a atravessam e se encontram na saída pelo acesso do lado oposto. O material de construção predominante é o xisto, estando algumas construções rebocadas. As padieiras das portas são, em geral, de madeira de carvalho ou castanho.
Todas as casas erigidas com blocos de xisto obedeceram a regras de construção, de modo a se afirmarem resistentes às intempéries e ao passar do tempo. Dispostas em aglomerados, incluem dois pisos: o piso assobrado, ou primeiro andar, e o rés do chão, geralmente térreo, que deveria albergar o gado.
Contudo, também desta regra surgiu a exceção e construíram-se nas imediações de cada povoação vários grupos de currais, ou cortes. Cada um ou mais destes edifícios era propriedade da respetiva casa da comunidade, consoante o património e poderio do proprietário, em cabeças de gado. O segundo piso funcionava também como loja, uma área de arrumos, onde estariam armazenados os cereais, a talha com o azeite, a salgadeira com a carne de porco, as alfaias agrícolas e, por vezes, tinham ainda uma pequena adega com pipas e dornas de fazer o vinho.
É uma aldeia viva: há hortas, há gado e há muitas novas atividades capazes de surpreender o visitante.
A ver
Maternidade de árvores
Espaço de educação ambiental, no Núcleo da Maternidade de Árvores do Ecomuseu Tradições do Xisto é possível conhecer e participar no processo de reprodução de espécies autóctones (plantas, arbustos e árvores). Para além de ficarem a conhecer o Núcleo, os visitantes podem integrar programas de educação ambiental, fazer apadrinhamentos e contribuir para campanhas de plantação de árvores.
Loja Aldeias do Xisto
Além de vender os produtos tradicionais e locais, com o selo das Aldeias do Xisto, tem também um serviço de bar e de refeições ligeiras.
A origem do nome
O nome Aigra Nova terá surgido após uma designação como “aigra fundeira” respeitante a quinta ou a um novo campo de cultivo instalado, quando comparado com a existência de outra aigra (Aigra Velha). Localmente, o nome é tido como originário a partir de acrum que tem o sentido de áspero, amargo, duro, difícil, em referência às condições de trabalho e vida no local.
Natureza
Do património natural riquíssimo que envolve a região, destacam-se os Penedos de Góis e o Parque Florestal da Oitava, habitat de aves em vias de extinção e de mamíferos, como veados e corços, que dificilmente se encontram noutras zonas do País.
História
Pouco se encontra registado sobre a história desta aldeia mas, pelo “Cadastro da população do Reino (1527)”, sabemos que já no séc. XVI existia no termo da villa de Goys a então denominada hegra fumdeyral, onde viviam quatro moradores. A designação parece indicar que, naquela época, já existiria um “campo” ou “quinta” que aqui era cultivado.
Aigra Velha
Pequena aldeia, com elementos antigos, permite o acesso a uma zona natural de grande beleza, que merece ser descoberta devagar e a caminhar
O conjunto das construções, sendo pequeno, tem uma malha urbana complexa, em virtude das relações familiares e comunitárias que se estabeleceram entre os diferentes proprietários. Estas apenas possuem o nível térreo e organizaram-se num arranjo defensivo contra as intempéries meteorológicas, os intrusos e os animais selvagens (lobos), permitindo comunicação e circulação entre os diferentes espaços, mas mantendo a privacidade de cada família. Encontramos semelhante organização no núcleo primitivo da Aldeia do Xisto de Figueira (Proença-a-Nova).
Cada cozinha tinha um esconderijo, entre a cozinha e os currais, que servia para esconder alimentos considerados excedentes pelos fiscais do Estado Novo, que vinham às aldeias do Interior confiscar os seus mantimentos. Cada casa tinha uma gateira, um buraco na parede para a passagem dos gatos. Estes animais eram muito estimados, pois serviam para liquidar os roedores que se alimentavam de cereais e, dentro dos armários, do vestuário das pessoas. Havia também, em cada cozinha, um caniço, estrutura localizada acima da lareira/fogão, que servia para fumar as castanhas no outono, conservando-as durante o inverno.
À medida que nos afastamos da aldeia, podemos ver os terrenos praticamente sem vegetação. Só aqui é possível ver isto. São terrenos de pastagem que são no verão queimados para rebentar vegetação nova. Há algumas décadas, a serra estava toda assim e os aldeões tinham que caminhar muito para conseguir arranjar lenha.
O material de construção predominante é o xisto, acompanhado por escassos elementos de quartzito. Esta pequena aldeia forma um conjunto que também integra – numa relação de proximidade e de funcionalidade – as outras Aldeias do Xisto do concelho de Góis.
A aldeia apenas é dotada dos equipamentos mínimos, alguns no espaço público, outros privados.
A ver
Forno e alambique da Família Claro
Equipamentos particulares, pertencentes à família Claro, utilizados para a confeção de produtos (pão e aguardente de mel) de consumo próprio. Ambos os equipamentos foram recentemente restaurados ao abrigo do projeto ECO-ARQ.
Tanque
Aqui armazena-se a prevenção contra um eventual incêndio.
Fonte
No início da Quelha da Bica, uma fonte canta, permanentemente, notas de água fresca que flui para o encontro, lá em baixo no fundo vale, com a ribeira da Pena.
Natureza
Do património natural riquíssimo que envolve estas aldeias destacam-se os Penedos de Góis, ex-líbris da região, e o parque florestal da oitava, habitat de aves em vias de extinção e de mamíferos, como os veados e corços, que dificilmente se encontram noutras zonas do País.
Onde fica
Aigra Velha fica a 14 km de Góis. É servida pela EN342 (passando por Comareira e Aigra Nova), da qual dista 6 km, e pela EN2 (passando por Pena), da qual dista 7 km, dois dos quais num troço em terra batida, transitável com as devidas precauções de condução.
A origem do nome
O nome Aigra Velha terá surgido após uma designação como aigra cimeira respeitante a quinta ou a um campo de cultivo que foi instalado em altitude superior, quando comparado com a existência de outra aigra (Aigra Nova).
Pena
Um castanheiro secular guarda a entrada desta aldeia de construção exemplar
Uma única rua e várias pequenas quelhas tecem a malha urbana de Pena. Os materiais de construção predominantes são o xisto e o quartzito. Algumas fachadas estão rebocadas e pintadas com cores tradicionais. Uma ou outra casa, construídas na segunda metade do séc. XX não conseguem perturbar a harmonia arquitetónica da aldeia.
Todas as casas erigidas com blocos de xisto obedeceram a regras de construção, de modo a se afirmarem resistentes às intempéries e ao passar do tempo.
A povoação já deveria existir no séc. XVI, dado que no “Cadastro da população do Reino (1527)” consta no termo da villa de Goys a existência da então denominada pena onde viviam cinco moradores.
As primeiras formas de povoamento que se conhecem no concelho de Góis datam do período Neolítico ou Bronze I, como testemunham os diversos vestígios e achados arqueológicos, encontrados a norte deste território.
A ver
Alminha
É o único elemento de vocação religiosa.
Moinho de água
Na margem esquerda da ribeira da Pena (particular).
Alambique
Na rua que atravessa a aldeia (particular).
Levada de água
Ao longo da margem esquerda da ribeira da Pena.
Fontanário
No centro da aldeia.
Natureza
Incluída no Sítio de Importância Comunitária Serra da Lousã, da Rede Natura 2000. Um castanheiro monumental espera-nos junto à ponte sobre a ribeira da Pena, nas margens da qual, para montante e jusante, abunda o azereiro.
A ribeira de Pena nasce e alimenta-se deste vale encaixado a oeste dos Penedos de Góis.
Onde fica
Localizada no flanco norte da serra da Lousã, junto aos Penedos de Góis, alcandorada sobre o vale escavado pela ribeira da Pena, encontra-se a escassos 5 km da EN2 e a um total de 12 km de Góis.
A origem do nome
Pena é topónimo que tem origem latina em penna, variante de pinna, que significa penha, isto é, penhasco ou rochedo, situação característica da envolvente à aldeia, que se situa junto à crista quartzítica dos Penedos de Góis. Entre os vários afloramentos rochosos, destaca-se o denominado Penedo da Abelha, sobranceiro à aldeia, na margem direita da ribeira de Pena. Também poderia significar local de construção de pequeno castelo ou pequena estrutura defensiva.
Casal Novo
Da eira da aldeia pode observar-se a Lousã e o seu castelo
À passagem pelo estradão, quase que nos escapa a presença do Casal Novo. A aldeia desenvolve-se na dobra da encosta, em declive acentuado, orientando-se a norte, e a envolvente arbórea da aldeia não permite perceber o seu perfil. A malha urbana corresponde, quase exclusivamente, ao eixo criado pelo caminho que atravessa a aldeia no sentido ascendente-descendente e que a liga ao Santuário de Nª Srª da Piedade. Duas ou três vielas perpendiculares, e umas quantas entradas laterais, quebram o contínuo de construções que, de um e do outro lado, se encavalitam umas nas outras. O material de construção predominante é o xisto, muito escuro e em aparelho tosco. A esmagadora maioria das fachadas não tem qualquer reboco.
MEMÓRIA
“No dia em que o último habitante se meteu ao caminho, já de malas aviadas, avistou as camionetas que chegaram para abrir a estrada e ligar a luz, objetivos por que sempre lutara dezenas de anos” - in Serras de Portugal (1994)
A ver
Das construções tradicionais e de utilização coletiva apenas restam a fonte, o respetivo tanque e a eira, que é atualmente utilizada como miradouro, tirando partido do panorama que se alcança sobre a planura da Lousã. Na linha do horizonte avista-se até a serra de Montemuro.
História
Foi em 1885 que se registou a maior população residente nesta aldeia: 65 habitantes. Desde 1981 que a aldeia não regista qualquer habitante permanente. De então para cá, quase todas as casas passaram ao estatuto de segunda habitação.
Natureza
Na floresta envolvente à aldeia escondem-se esquivos veados e corços. A ribeira das Hortas, em pouco mais do que 2 km de comprimento, apanha água a cerca de 900 m de altitude e descarrega-a aos 200 m na ribeira de S. João. Faz um percurso vertiginoso num vale profundo. As suas águas quase que não têm tempo para contemplar a aldeia. Mas leva as saudades dela para o Ceira e para o Mondego.
A origem do nome
Casal é um termo do português arcaico que, na Idade Média, correspondia a um aglomerado de duas ou três casas em meio rural. O segundo elemento, Novo, indica-nos ser esta uma povoação de fundação mais recente, quando comparada com outras que lhe são mais próximas (Chiqueiro e Talasnal).
Candal
Exemplo típico de apropriação do território pelo Homem: todas as casas foram erguidas de forma a assegurar a melhor exposição solar
Na bacia hidrográfica da ribeira de S. João encaixa, entre outros, este anfiteatro onde se alojou o Candal e a sua ribeira. Está aninhada na serra da Lousã, numa colina voltada a sul. Estrategicamente colocada junto à Estrada Nacional, que liga Lousã a Castanheira de Pera, esta aldeia está habituada a receber visitantes. Estes são recompensados por subir as suas ruas inclinadas, pois, chegados ao miradouro, uma belíssima vista sobre o vale se apresenta, refrescada pela ribeira do Candal. E quando voltam a descer, a Loja Aldeias do Xisto aguarda-os.
Beneficiado pela acessibilidade privilegiada que lhe proporciona a Estrada Nacional, Candal é muitas vezes considerada a mais desenvolvida das aldeias serranas e uma das mais visitadas. Aos seus habitantes de sempre é comum juntarem-se ocupantes de férias e fins de semana que aqui acorrem em busca de ar puro e boa companhia.
A malha urbana é irregular e complexa. A aldeia desenvolve-se em encostas que se confrontam e sobre as quais o casario se desenvolve como que em anfiteatro. O único elemento estruturante é a EN236 que a bordeja na parte inferior. O material de construção predominante é o xisto, com fachadas sem reboco, evidenciando um aparelho tosco. A banda de casas junto à estrada evidencia sinais exteriores de maior modernidade, com fachadas rebocadas e pintadas de cores garridas, mas que respeitam o traço e a volumetria dominante na aldeia.
As habitações e os edifícios que albergavam o gado doméstico são as construções mais significativas. Mas nesta aldeia é o aspeto do conjunto arquitetónico que a torna verdadeiramente singular, com os contornos pouco uniformes dos edifícios e as construções justapostas ou mesmo sobrepostas a contribuírem para uma paisagem de rica diversidade.
Para lá dos edifícios habitacionais e dos que albergavam o gado doméstico, o Candal não possui significativas construções. Mas as que existem têm a sua história e a sua importância.
A ver
Antiga escola primária
Construída na década de 1920 graças às remessas de divisas enviadas pelos candalenses emigrados nos EUA.
Chafariz do Candal
Implantado na berma da EN236 e datado de 1941, tem poema que o enobrece.
Alminha
É a única construção religiosa que existe na aldeia. Encontra-se no largo da aldeia e foi mandada construir por uma família de candalenses como pagamento de uma promessa.
Moinhos
Cinco moinhos hidráulicos, construídos na década de 1920, ao longo da margem direita da ribeira de Candal, aproveitavam a força da água para acionar o mecanismo que moía os grãos de cereal produzidos nas pequenas leiras da aldeia.
Lagar de azeite
Construído em 1919, foi, recentemente, alvo de intervenção de recuperação, estando o seu mecanismo operacional.
Natureza
Sobreiros e castanheiros crescem próximo das habitações, espécies arbóreas permitidas pelas antigas gentes da serra, valorizadas pela sua cortiça, madeira e frutos, e azereiros e azevinhos refugiam-se em alguns troços das linhas de água próximas da aldeia. Podemos encontrar veados na envolvente da aldeia.
A origem do nome
O nome Candal poderá estar associado à arte de trabalhar a pedra. Os canteiros – os homens que trabalham a pedra – e os pedreiros – que com elas erguem muros e casas –, cantavam enquanto desenvolviam o seu trabalho. “Cantar a pedra” poderá ter evoluído para “candar” e depois para Candal, o local onde se canta a pedra.
História
Em 1911, viviam na aldeia 129 pessoas. Na década de 1920, inicia-se a emigração para os EUA, mas, mesmo assim, em 1940, atingiu o máximo de 201 habitantes. Por esta altura, a aldeia contava com dois rebanhos de cabras e ovelhas, num total de 1200 cabeças. Em 1976, começaram a ser adquiridas as primeiras habitações para recuperação e para funcionarem como segunda residência.
Talasnal
Descobrir esta aldeia significa mergulhar no mundo mágico da serra da Lousã e embrenhar-se numa vegetação luxuriante por onde espreitam veados, corços, javalis e muitas outras espécies
Está é, desde há muito, a Aldeia do Xisto da serra da Lousã que tem dado mais visibilidade e carisma ao conjunto. Pela sua dimensão e disposição, mas também pelos muitos pormenores das recuperações das suas casas. E também pela forma como a aldeia nos seduz pela boca.
A fonte e o tanque emitem a melodia que acompanha a nossa visita. As casas decoram-se com os ramos das videiras.
A ruela principal acompanha o declive da encosta, num percurso íngreme. Dela derivam quelhas e becos, que criam um ambiente de descoberta que todos gostam de explorar à espera da surpresa de um novo recanto.
Aqui reina a Natureza, sensível, que pede respeito. Mas que permite inúmeras possibilidades de lazer e de desportos ativos. Aqui sente-se o pulsar da terra e a sua comunhão com os homens quando se avistam ao longe as aldeias. Parecem ter nascido do solo xistoso, naturalmente, como as árvores.
A malha urbana é complexa, distribuindo-se o casario por uma encosta mais orientada a sul (a maioria) e por outra mais orientada a norte. O material de construção predominante é o xisto, de tons escuros, e a quase totalidade das fachadas dos edifícios não possui qualquer reboco.
Descobrir esta aldeia representa mergulhar no mundo mágico da serra da Lousã e embrenhar-se numa vegetação luxuriante por onde espreitam veados, corços, javalis e muitas outras espécies.
A ver
Alminha
Na ruela principal, num nicho envolvido por moldura de madeira.
Lagares de azeite
Existiram dois lagares de azeite na aldeia. Um está em ruína. O outro, particular, foi recentemente recuperado. São os testemunhos do muito “ouro verde” que por aqui se produzia.
A comprar
Talasnicos
O matrimónio entre o mel e a castanha é um casal perfeito em termos de doçaria conventual. O nome de batismo dado a esta criação é uma homenagem à aldeia onde germinou a ideia deste bolinho e se testaram os primeiros ensaios. Foram mãos de fada a moldar este sabor que os deuses inspiraram. A sua autora foi Mirita Meira Santos.
Retalhinhos
É a mais recente criação de confeitaria inspirada pelo Talasnal. Estes pastéis, à base de castanha e amêndoa, foram criados por Maria José, proprietária da Casa da Urze e do Retalhinho.
Natureza
A serra da Lousã conjuga de forma única a vertente cultural e humana das Aldeias do Xisto, com a natureza e as possibilidades de lazer que a sua paisagem proporciona. É casa de veados, javalis e corços que espreitam por entre sobreiros, castanheiros, carvalhos e, claro, pinheiros.
É atravessada por inúmeros trilhos pedestres/BTT e por caminhos que nos levam ao St. António da Neve, ao Alto do Trevim, ao Castelo da Lousã, à Sra. da Piedade e às praias fluviais.
História
Atingiu o auge de população residente em 1911, com 129 habitantes. Possuiu escola e dois lagares de azeite. A escola foi o orgulho da população, que se quotizou para a construir. Depois, quando ficou pronta, faltaram os professores, e, quando eles vieram, faltaram os alunos, até que, em 1975, foi encerrada quando apenas duas crianças a frequentavam. Em 1981, já só existiam dois habitantes permanentes. Atualmente, todos os primitivos habitantes já partiram. As casas foram transformadas em segunda habitação, em unidades de alojamento ou estabelecimentos comerciais.
Chiqueiro
Apenas as campainhas dos rebanhos contrariam a sensação de que por aqui o tempo parou há muito
A aldeia é delimitada por duas pequenas linhas de água e dissimulada pela frondosa vegetação que a envolve. Possui malha urbana simples, basicamente organizada por duas ruelas íngremes ladeadas pelo casario. O material de construção predominante é um xisto escuro, e, à exceção da capela, nenhum outro edifício é rebocado. A envolvente florestal e a fauna que a povoa tornam-na num ponto de partida de eleição para caminhadas de descoberta.
As aldeias de Casal Novo, Talasnal e Chiqueiro são bastante semelhantes do ponto de vista arquitetónico, podendo encontrar-se, essencialmente, dois tipos de casas. As com apenas rés do chão e cobertura em colmo, que serviam para currais e as casas de habitação com dois pisos, sendo o superior, acessível por uma escada em xisto, uma só divisão para alojamento, muitas vezes com forno de pão ao canto. As paredes eram de xisto com massa de argila e palha, e a estrutura feita em madeira de castanho ou pinho.
A ver
Capela da Senhora da Guia
Esta capela era partilhada pelos habitantes do Casal Novo e do Talasnal. É uma construção em xisto de planta retangular, rebocada e pintada nas esquinas com faixa em azul-espanta-espíritos.
Inscrição religiosa
Na fachada de uma casa junto à capela, vê-se uma pequena inscrição gravada. São visíveis as letras “I H S”, que correspondem ao trigrama e símbolo que foi utilizado pela Companhia de Jesus.
História
Teve a sua maior população residente em 1940, com 45 habitantes. Desde 1991 que mantém dois habitantes.
Natureza
Aos azevinhos existentes à entrada da aldeia, juntam-se os soutos na sua envolvente, criando uma moldura arbórea cujas cores e tons variam ao ritmo das estações do ano.
A avifauna florestal e os grandes mamíferos – veado, corço, javali – são aqui abundantes e facilmente observáveis. Daqui partem duas pequenas linhas de água ao encontro da ribeira da Vergada, que corre, encosta abaixo, passando ao lado do Talasnal, a caminho da ribeira de S. João.
A origem do nome
De chico – que tem o significado de porco – mais eiró, significa curral de porcos, pocilga ou lugar imundo. Deduz-se que a aldeia possuiu um número significativo de imóveis e construções rústicas vocacionadas para cortes de animais, provavelmente pertencentes ou ocupados por pastores transumantes que, da serra da Estrela, vinham pastorear os seus gados para a serra da Lousã.
Comareira
Singela mas cheia de encantos, é ponto comum de paragem para quem visita as praias fluviais
É a mais pequena aldeia da rede. Integra o conjunto das quatro Aldeias do Xisto do concelho de Góis e é abrangida pela dinâmica criada em torno do Ecomuseu das Tradições do Xisto. A aldeia é um pequeno grupo de construções, para habitantes e gado doméstico. Soalheira todo o dia, a Comareira é feita de casas aninhadas umas nas outras, avistando a paisagem que se estende até perder de vista. Os habitantes orgulham-se de dizer que este é um ponto estratégico para os visitantes das Aldeias do Xisto que se interessem pelas praias fluviais desta região ou pelo Parque Florestal da Oitava.
Xisto e quartzito são os materiais de construção predominantes, embora algumas fachadas dos edifícios estejam revestidas com um característico reboco crespo.
Todas as casas erigidas com blocos de xisto obedeceram a regras de construção, de modo a serem resistentes às intempéries e ao passar do tempo. Dispostas em aglomerados concentrados, têm dois pisos: o piso assobrado, ou primeiro andar, e o rés do chão, geralmente térreo, que deveria albergar o gado. Construíram-se também nas imediações de cada povoação vários grupos de currais. Estes edifícios eram propriedade da respetiva casa da comunidade. O segundo piso funcionava também como loja, área de arrumos onde estariam armazenados os cereais, a talha com o azeite, a salgadeira com a carne, as alfaias agrícolas e a adega.
Natureza
Tem uma topografia bastante irregular onde predominam as serras, os montes, os vales, bastante encaixados. Estas tipologias, associadas a uma climatização própria, permitiram o aparecimento de uma fauna e flora muito próprias desta região.
Do património natural riquíssimo destacam-se os Penedos de Góis, ex-líbris da região, e o Parque Florestal da Oitava, habitat de aves em vias de extinção e de mamíferos, como os veados e corços, que dificilmente se encontram noutras zonas do País.
História
As primeiras formas de povoamento que se conhecem no concelho de Góis datam do período Neolítico ou Bronze I, como testemunham os diversos vestígios e achados arqueológicos, encontrados a norte deste território.
A origem do nome
Muito provavelmente, terá a sua raiz em cômoro, combro ou cômbaro – com o significado de pequeno socalco de terra – de onde terá derivado para combareira, termo que ainda ecoa na memória dos habitantes, o qual terá evoluído para Comareira.
Cerdeira
Aqui mora a tranquilidade. Percorrer a aldeia é um exercício físico e sensorial
Ao entrarmos na Cerdeira, descendo até ao pequeno regato, deparamos com o perfil desalinhado das construções. O tom dominante do xisto sobrepõe-se ao verde das encostas, ao azul do céu ou ao branco das nuvens.
Os edifícios foram implantados sobre um morro rochoso, não ocupando as escassas áreas mais planas que dedicaram à agricultura. Uma obra de engenharia rodeou a aldeia com uma escadaria de socalcos, que seguram a terra que as chuvas e a erosão levavam encosta abaixo. A implantação e a arquitetura das construções parece que obedeceu a um plano que teve como objetivo maravilhar os visitantes no séc. XXI.
A Cerdeira é um local mágico. Logo à entrada, uma pequena ponte convida-nos a conhecer um punhado de casas que espreitam por entre a folhagem. Parece que atravessamos um portal para um mundo fantástico. Tudo parece perfeito neste cenário romântico. O chão de ardósia guia-nos por um caminho até uma fonte no meio de uma frondosa vegetação.
Entre encostas declivosas, rasgadas por linhas de água que se precipitam lá do cimo, a Cerdeira aninha-se na mais bucólica envolvente. Esta é uma aldeia que a arte e a criatividade ajudaram a refundar. Aliás, em certos momentos do ano, esta aldeia é animada por encontros temáticos que juntam arte e botânica.
A Cerdeira é hoje um local de criação, através de residências artísticas internacionais, da realização de workshops de formação e de pequenas experiências criativas. Um lugar para retiros de artistas, de bem-estar, tirando partido da sua riqueza natural, do silêncio e das infraestruturas desenvolvidas para isso: os alojamentos, a Casa das Artes, os ateliers, a biblioteca, a galeria, o forno comunitário, o Café da Videira.
A aldeia dispõe de uma ruela, declivosa, que liga o seu topo à ribeira que corre no fundo do vale. As construções dispõem-se irregularmente ao longo dela, com pequenos recantos entre elas.
O material de construção predominante é um xisto escuro e nenhuma fachada se encontra rebocada.
Os edifícios da Cerdeira guardam, depois de recuperadas, as memórias e a arquitetura de outros tempos. A tradicional pedra de xisto é usada tanto nas habitações como nos currais para animais, e ganha reflexos muito especiais quando o sol atravessa o ar húmido da serra. Ao crescer sobre o terreno inclinado, o casario foi-se implantando de frente para o astro-rei e os caminhos esculpiram-se nos afloramentos rochosos sem distinção clara entre o público e o privado, resultando em ambientes intimistas, como autênticas gravuras.
A ALDEIA QUE DEU UM FILME
O nosso mundo pode acabar de muitas maneiras. Para os três últimos habitantes primitivos da Cerdeira, o fim do mundo aconteceu na década de 1970, após uma discussão sobre a partilha de um bem escasso: a água. Augusto Constantino teve o azar de esboçar com o sacho um golpe ameaçador, mas que bastou para acabar com a vida na aldeia. O realizador português João Mário Grilo, em 1992, adapta a história para argumento do seu filme O Fim do Mundo, de 64 minutos, ficcionando o fim desse ciclo naquele lugar.
A ver
Fonte
Construída, em 1938, pela Câmara Municipal da Lousã, no caminho pedonal de acesso à aldeia. Com água de nascente.
Alminha
Corresponde a um nicho na fachada de uma casa particular. No seu interior, há uma tábua pintada que é um ex-voto dedicado ao Senhor dos Aflitos.
Casa das Artes e Ofícios
Foi reconstruída ao abrigo do programa ECO-ARQ, segundo critérios de ecorreabilitação: emprego de materiais e técnicas de construção locais, com baixa emissão de CO2 (pedra de xisto e argamassa de barro, madeira de castanheiro e placas de granulado de cortiça como isolamento térmico). Hoje alberga iniciativas de turismo criativo e artístico.
História
No início do séc. XIX, apenas o Candal e a Cerdeira escaparam ao saque do exército napoleónico. Em 1885, a população das sete aldeias (as cinco Aldeias do Xisto, mais Catarredor e Vaqueirinho) corresponderia a 8,7% do total da freguesia da Lousã (5 340 habitantes). Teve seis moinhos hidráulicos e dois rebanhos, com um total de 800 cabeças. O Plano de Fomento Florestal do Estado Novo, do início da década de 1940, arborizou as áreas de pastoreio e ditou o declínio desta e das outras aldeias.
Referem os censos que o maior número de habitantes se registou em 1940: eram 79.
Natureza
Parece um presépio disposto na encosta da serra voltada a sul e a poente, um teatro entrecortado pelo sulco serpenteante da ribeira da Cerdeira, que transporta as águas das encostas da serra da Lousã.
A origem do nome
Cerdeira ou Sardeira, em português antigo, identifica a árvore que, hoje em dia, é mais vulgarmente designada por cerejeira.
Gondramaz
Um poema de Miguel Torga dá as boas-vindas a quem chega a este lugar mágico de vistas espetaculares
A aldeia estrutura-se a partir de uma rua principal que se sobrepõe à linha de festo, até ao limite em que o declive permitiu construções. Desta rua, sai uma rede de ruelas estreitas e sinuosas que apetece percorrer com curiosidade.
As boas-vindas são-nos dadas com um poema de Miguel Torga, que se encontra numa placa metálica na área de receção da aldeia.
Gondramaz distingue-se pela tonalidade específica do xisto, que nos envolve da cabeça aos pés. Até o chão que se pisa é exemplo da melhor arte de trabalhar artesanalmente a pedra. Esta é, aliás, terra de artesãos cujas mãos hábeis criam figuras carismáticas que são marca da serra e que levam consigo o nome do mestre e da aldeia além-fronteiras.
Situada na vertente ocidental da serra da Lousã, a paisagem que envolve Gondramaz é uma obra de arte da Natureza. Há nas ruas desta aldeia uma fina acústica que nos desperta todos os sentidos. Dentro das suas ruas, a voz das pessoas torna-se mais nítida e convidativa.
Com uma notável aplicação em xisto, o pavimento permite mesmo a deslocação de pessoas com mobilidade reduzida.
Numa das mais bem sucedidas intervenções de requalificação da Rede das Aldeias do Xisto, não é de estranhar o surgimento de novos habitantes e o ambiente animado que aqui se vive em cada fim de semana. As provas de BTT que arrancam a partir daqui trazem praticantes e uma movimentação que os habitantes já não estranham.
O material de construção predominante é o xisto e a grande maioria das fachadas não se apresenta rebocada. Em Gondramaz preservou-se o genuíno espírito de aldeia num aglomerado muito agregado que mantém uma leitura tradicional.
A ver
Capela de Nª Srª da Conceição
Templo de feição singela que guarda imagens de Nª Srª da Conceição e de Nª Srª das Candeias.
Alminha
Incorporada na fachada de uma casa particular.
Lavadouro e Fontanário
O Lavadouro, que está localizado no centro da aldeia, bem como o Fontanário, que disponibiliza água canalizada, são os únicos equipamentos coletivos da aldeia.
História
Não muito longe da aldeia do Gondramaz foi edificada a cidade de Conímbriga, que influenciava este espaço geográfico. Tendo presente a provável origem do seu nome – villa Gundramaci corresponderia a “quinta de Gundramaco”, nome próprio de origem germânica –, o nascimento da aldeia poderá estar relacionado com a presença visigótica na região.
Natureza
A envolvente florestal imediata da aldeia é dominada por castanheiros, a que se juntam carvalhos e alguns azevinhos, que saltam à vista pelo verdejar das suas folhas e tonalidades de fogo no outono.
Os veados percorrem, discretamente, as encostas que rodeiam a aldeia.
A Veronica micrantha, uma pequena e rara planta, refugia-se nas bermas dos trilhos. E o azereiro marca presença nesta aldeia, acantonando–se junto da ribeira de Alheda.
Ferraria de S. João
A fixação de novos proprietários com novas ideias, que lhe mudaram o destino, é um caso exemplar de uma aldeia do séc. XXI
Os novos habitantes que ao longo dos anos se têm fixado, gerindo os seus negócios ou simplesmente por opção de vida, têm mudado a face da aldeia e estimulado uma nova energia entre as pessoas.
A Ferraria abriu-se ao mundo sem deixar de ser o que é. As intervenções na aldeia, tanto por parte da Rede das Aldeias do Xisto como dos agentes locais e do município, assentam no que de mais identitário e genuíno aquele local é e tem para oferecer.
Na Ferraria de São João, convivem a ruralidade e o turismo ativo.
A aldeia possui um conjunto de aspetos que a distinguem das demais: um magnífico sobreiral, um numeroso conjunto de currais tradicionais, um Caminho do Xisto, um Centro de BTT, um FunTrail para os mais pequenos e muitos trilhos para descobrir.
Alcandorada numa crista quartzítica no extremo sul da serra da Lousã, aqui descobre-se como o xisto e o quartzo se casam numa união perfeita. O material de construção predominante é o quartzito, embora algumas fachadas dos edifícios se encontrem rebocadas e pintadas de branco.
A malha urbana possui um núcleo central, mais denso, construções alinhadas ao longo das ruas do aglomerado e um numeroso conjunto de currais, agrupados num dos extremos da aldeia.
O cenário de fundo perfeito para emoldurar o ex-líbris da aldeia: um grupo de currais comunitários na orla de um imenso e mágico montado de sobreiros. Um dos projetos mais visíveis e de maior sucesso da Associação de Moradores, revitalizada pelos novos habitantes, é a adoção de sobreiros.
As estruturas urbanas existentes na aldeia são um exemplo da sua vivência rural, predominando a agricultura e a pastorícia de subsistência.
A origem do nome
O nome “Ferraria” estará ligado à existência, no passado, de uma pequena exploração de ferro. “São João” refere-se ou à serra de São João, que enquadra a aldeia, ou à existência – na encosta, um pouco acima da povoação – de uma capela dedicada a São João. Ali perto está a Ermida de São João do Deserto.
A ver
Capela de São João
Pequeno templo de linhas sóbrias, sem elementos decorativos no exterior.
Alminha
Nicho encastrado no muro que ladeia a rua que desce para o centro da povoação, com a inscrição em cimento MS 1969. Possui pintura sobre chapa metálica representando as almas no Purgatório.
Alminha na saída norte
Com a inscrição gravada em pedra calcária JT 1925. Ainda possui a chapa metálica sobre a qual existira pintura.
Currais
O conjunto de currais corresponderá a um dos mais numerosos que, em bom estado de conservação, ainda existe em Portugal.
A aldeia possuiu um rebanho comunitário que ascendia a mais de mil cabeças. Era nestes currais que cada proprietário guardava seu o gado.
Eira
Junto a uma das ruas do centro da aldeia ainda existe uma eira, em bom estado de conservação, cujo pavimento é em lajes de calcário, material mais fácil de ser aparelhado do que o quartzito que ocorre no local.
Casal de S. Simão
Uma rua que reúne um mundo
Nesta aldeia há um novo sentir coletivo, feito de pessoas que recuperaram as casas com as suas próprias mãos. São novos aldeões que vieram da cidade e que trouxeram nova vida a estas paragens. Todos os fins de semana, e sempre que podem, juntam-se todos nas casas uns dos outros e entreajudam-se nas refeições, nas obras, no convívio. “Que venha quem vier por bem”, parecem dizer-nos.
E o apelo é irresistível…
Esta é uma pequena aldeia de praticamente uma só rua. Situa-se num dos flancos da crista quartzítica que dá origem às Fragas de São Simão e possui o templo mais antigo do concelho de Figueiró dos Vinhos.
A aldeia estende-se ao longo de uma cumeada quase paralela ao curso da ribeira de Alge. A entrada fica no extremo mais elevado e a povoação termina onde os declives tornaram difícil a continuidade dos arruamentos.
O material predominante é o quartzito, decorrente da implantação do povoado na lateral de uma crista deste material. O aparelho de pedra das fachadas encontra-se exposto em quase todas elas, o que atribui uma identidade muito própria à aldeia. A malha urbana é simples e linear, estruturada ao longo da única rua da terra.
A ver
Ponte de São Simão
Pensa-se que a base construtiva é do período do domínio romano.
O tráfego automóvel provocou alterações significativas no seu tabuleiro, que lhe alteraram a configuração primitiva.
Casa particular
Uma casa, porventura uma das mais antigas da aldeia, tem gravada na face exterior da padieira a data de 1701.
Fontanário
A água provém de uma nascente situada na encosta do outro lado do vale. Está datado de 1939.
Ermida de São Simão
Vem do séc. XV e localiza-se à entrada da aldeia, quase no topo do Monte de S. Simão.
É dedicada a este santo, que está no altar-mor, e a S. Judas Tadeu. Recebeu como ampliação, em 1678, a sala para a receção de esmolas. A ermida possui uma inscrição gótica (séc. XV) com o seguinte teor “Esta capela mandou fazer João Vicente, Prior de Aguda, criado do Conde D. Fernando e foi acabada na era de 1458”. Tem um vão gótico, estilo que domina na parte mais antiga do templo. No portal tem gravada a data 1698, mas o vão do lado sul possui gravada na pedra de fecho do arco a data 1675.
Eira e forno
Tal como os inúmeros pequenos socalcos que envolvem a aldeia, testemunham um passado de atividade agrícola e de práticas de autossubsistência.
História
Local de lendas e de superstições, o recôndito Casal de S. Simão era local de pecuária e de pesca, contando também, já no séc. XIX, com múltiplos lagares de azeite e moinhos de vento, aproveitando a sua posição cimeira. Em 1860, viviam na aldeia cinco famílias.
O mestre pintor José Malhoa imortalizou a sua beleza natural num quadro intitulado O Baptismo de Cristo, visível no altar-mor da Igreja Matriz de Figueiró dos Vinhos. Os anos 50 a 70 trouxeram a desertificação da aldeia, que só sofreu um ímpeto de recuperação a partir dos anos 90. Hoje é uma das aldeias mais vivas e hospitaleiras.
Natureza
Rica em fauna – aves como a águia-real já nidificavam na região no séc. XIX – e em flora — com castanheiros frondosos, carvalhos e azevinhos –, o Casal de S. Simão tem o melhor de dois mundos: uma vista panorâmica sobre as colinas em redor, e uma praia fluvial junto à impressionante fraga que rasga os rochedos. Por aqui, a cegonha-negra esconde o seu ninho, a garça-cinzenta faz os seus voos discretos e o guarda-rios os seus voos rasantes sobre águas cristalinas.