Na idade em que gostar de alguém implica pôr outro de parte, Maria Filomena Mónica escolheu ler Stendhal em vez de Balzac. Lembra-se que aos 16, 17 anos, leu O Tio Goriot, foi lendo outros títulos, mas só muito mais tarde conheceria A Mulher de Trinta Anos, que é oferecido com a VISÃO desta semana.
“Quando estava a escrever a biografia de Eça de Queirós, fui ler as biografias e todos os romancistas seus contemporâneos ou que de algum modo o influenciaram. A vida do Balzac é apaixonante, e decidi-me a ler mais algumas obras dele, incluindo A Mulher de Trinta Anos”, conta a escritora. Foi no ano 2000. Lembra a escrita de grande intensidade de Balzac e o modo como ele tratou um dos temas que faz parte de muitos clássicos da literatura: o adultério feminino.
“Recordo sobretudo o ambiente do livro e a protagonista”, afirma, dizendo o nome em francês, Julie. “Eu estava interessada em perceber como é que ele via a mulher numa altura em que ela tinha um papel completamente dependente do homem, como a fazia falar, como construía os diálogos. Balzac não divergia dos escritores da sua época, também ele achava que o adultério era o maior pecado de uma mulher, para quem a única salvação era a morte ou o castigo. Veja-se Anna Karenina. A Julie, não restaria outro destino. Ela desafiou o pai ao casar com um homem que ama, mas que é inadequado para ela, que a fazia sofrer. Outro clássico”, continua, ironizando que esse, contrariamente ao do pecado feminino, se prolongou no tempo. Maria Filomena Mónica fala, detendo-se em pormenores da vida e do caráter de Balzac, mas sublinhando que a sua obra mantém o fulgor.
“Ler este romance agora é perceber, por exemplo, como evoluiu o papel da mulher e, sobretudo, é mergulhar na escrita soberba de Balzac, apesar da voracidade que o caracteriza. Apreciem.”