O Grande Gatsby é um dos livros que fica por uma simples razão: trata-se de um grande escritor e de uma boa história. Editada em 1926, a obra catapulta Fitzgerald, então com 29 anos, para a fama e proporciona-lhe receitas que ele gasta sem preocupações de poupança e ultrapassando muitas vezes as suas disponibilidades. Francis e Zelda chegam a arrendar uma mansão com 27 quartos, convidam para festas barulhentas e escandalosas, regadas por rios de álcool, até o sol nascer.
O livro dá-nos conta desse ambiente (basta ler a sumptuosa descrição das festas em casa de Gatsby) e da crueldade vazia em que nele decorriam as relações de poder e as ligações sentimentais. Conduz-nos também a outras atmosferas, desde a casa do garagista Wilson à dos Buchanan, desde a vida dupla de Myrtle, a mulher do garagista, aos mundos, apenas aflorados, da golfista Jordan Baker ou do tenebroso judeu Wolfsheim. Explica–nos, por outro lado, o que, naquela sociedade nova-iorquina do pós-guerra, significava e valia a força do dinheiro. E, talvez mais do que isso, a importância das classes sociais: Daisy e Tom, os Buchanan, acabam por atravessar todo o drama quase incólumes, porque pertencem a uma classe alegadamente superior, onde, afinal, Gatsby nunca conseguiria entrar.
Mas o livro é muito mais do que isso. É a capacidade de contar uma história que, para além de ter princípio, meio e fim, contém uma dose de suspense servida até à última página. Em O Grande Gatsby, o que mais impressiona é, em suma, a grande qualidade da prosa e o modo como ela é posta ao serviço da narrativa.