Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.” A frase tornou-se um símbolo e em simultâneo uma espécie de síntese de A Quinta dos Animais, a parábola criada pelo escritor britânico George Orwell que satiriza o totalitarismo e em particular a figura de Josef Estaline. Para Orwell, que se designava um comunista democrático, o Estalinismo representava uma traição aos princípios do comunismo. Através de uma fábula, que arranca com a revolta dos animais – liderada por um grupo de porcos inteligentes – contra os homens, e socorrendo-se do curso da História, o escritor constrói uma narrativa segundo a qual qualquer revolução pode conter em si a semente do totalitarismo.
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A ação do livro decorre na Quinta do Infantado. Major, o velho e sábio porco, convoca todos os animais da quinta para lhes contar um sonho e alertá-los para uma “verdade” que aprendera na sua longa vida na quinta: “Nenhum animal de Inglaterra é livre.” Com isso, pedia-lhes que não se resignassem. Criou o Hino do Animal, e instigou-os à revolta, um movimento de libertação e de luta pela igualdade de direitos entre animais e humanos. Depois da morte de Major, o ideólogo, a revolução passou a ser conduzida por Bola-de-Neve e Napoleão, dois porcos jovens e carismáticos capazes de mobilizar todos os animais da quinta e que criaram o Animalismo, cujos princípios se resumiam a sete mandamentos. “Todas as criaturas que caminham sobre duas pernas são nossas inimigas”, era o primeiro. E o último: “Os animais são todos iguais.”
Ao contrário do brilhantismo intelectual e forte convicção moral de Bola-de-Neve, Napoleão é maquiavélico e paranoico, ambiciona o poder e domínio sobre os outros animais. Ele é a metáfora de Estaline e de todos os que com o argumento da libertação dos povos se tornam seus opressores. Rapidamente se estabelece uma hierarquia de poder. E assim os mandamentos determinados democraticamente se transformam no mandamento déspota: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.”
Concluído em 1944, o livro só encontrou editor um ano depois. A referência em tom jocoso ao líder soviético e ao que se considerava a experiência comunista em vigor por parte de um dos países aliados não agradou a muitos editores. Temiam mal-entendidos. Seria publicado em 1945, a data das bombas de Hiroxima e Nagasáqui, do final da Segunda Guerra Mundial, e pouco antes do início da Guerra Fria e do braço de ferro entre os poderes da União Soviética comunista e dos Estados Unidos capitalistas que disputavam a sua influência no mundo.
Lido como uma parábola sobre os tempos modernos, escrito de forma aparentemente simples, e obedecendo a uma estrutura clássica, o livro em tom de fábula recebeu críticas que o comparavam pelo poder de observação e de denúncia a A República, de Platão, ou a Cândido, de Voltaire. Se a União Soviética de Estaline era apontada como alvo óbvio de Orwell, o livro foi lido de forma mais abrangente, como um hino contra qualquer forma de totalitarismo e teve um sucesso imediato, com muitas das suas parábolas a entrarem no discurso global. Foi publicado em Portugal um ano depois, em 1946, com o título O Porco Triunfante, mas seria popularizado com o título de uma edição seguinte, O Triunfo dos Porcos. Só mais tarde lhe seria atribuído aquele que é mais fiel ao original: A Quinta dos Animais.