Os nomes das ruas e dos habitantes da Mouraria entre 1610 e 1910 constam de documentos recentemente descobertos numa despensa daquela paróquia e podem servir de censos e mapa para uma Lisboa anterior ao terramoto de 1755.
Numa caligrafia perfeitamente desenhada lê-se no topo de cada página o nome da rua e a indicação “esquerdo” ou “direito” como identificação do lado da artéria. Já o nome dos moradores está abaixo das referências a “primeira casa, segunda casa” e, assim, por diante, como chama a atenção o padre Edgar Clara, à medida que folheia os cadernos que mantém à sua guarda.
À frente de cada nome estão traços verticais feitos por padres, ao longo dos anos, para identificar quem se confessou e comungou por altura da Páscoa, como obrigavam os ditames do Concílio de Trento (século XVI).
Há cerca de dois anos, Edgar Clara encontrou “toda a coleção” do rol de confessados numa arrecadação do Convento do Coleginho, onde funciona a sede da paróquia do Socorro.
Parte dos cadernos foi já limpa do pó de séculos e o padre admite à agência Lusa a vontade de ver os documentos digitalizados, “mas já ficaria muito contente se se expurgasse”.
“A ideia que tenho é que se possam conservar e procurar que não se deteriorem mais. Tenho levado o rol ao expurgo e depois, seguramente, deve ser tratado, mas isso seguramente os investigadores é que podem vir cá e fazê-lo”, diz.
Com o arresto de bens da igreja católica, a partir de 1910, muitos dos registos de confissões, além dos de batismo e de óbito, foram transferidos para arquivos como a Torre do Tombo.
“Há muitas paróquias que [os] têm e que podem não ter sido ainda encontrados. Este [arquivo] seguramente nunca se descobriu”, nota o pároco, referindo haver ali “250 a 300 livros”.
Na sede da paróquia da Mouraria/Socorro houve mais História encontrada, em documentos que não eram mexidos há pelo menos um século e que garantem a permanência da igreja no Coleginho.