É tomada pelo embaraço, ao ser nomeada como uma das 20 caras do futuro, aos 57 anos. Maria Manuel Oliveira carrega décadas de um percurso sólido, mas discreto, sem nunca se ter preocupado em construir uma carreira ou assumir protagonismo. “A minha vida profissional decorreu de uma série de acidentes, o que também me permitiu fazer escolhas diferentes.” Em 2012, partilhou as luzes da ribalta com Guimarães, ao ver o Largo do Toural (cujo projeto de requalificação é da sua autoria), transformado em salão de festas da Capital Europeia da Cultura.
Uma obra que conjuga a contemporaneidade com uma visão respeitadora da História, revelando um olhar particular sobre as cidades e as questões urbanísticas.
“Estudo o passado para compreender o presente. Mas para construir o presente tenho de olhar para o futuro.” Natural da cidade berço, sabia que este seria um processo delicado. “Os vimaranenses sentemse sempre muito envolvidos no que lhes diz respeito. Mexer no Toural abria um campo infindo de discussão.” Desde o início, organizaram-se sessões de apresentação do projeto, abertas a toda a população. “Temos o compromisso ético de estar disponíveis para ouvir e explicar.” Conseguiram-se consensos e foi possível edificar um espaço público capaz de compatibilizar o quotidiano com uma utilização extraordinária.
Licenciada pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, concilia a docência, a investigação e o exercício da arquitetura, atividades que exerce a partir da Escola de Arquitetura da Universidade do Minho, onde dirige o Centro de Estudos. Foi, em 2007, a primeira a doutorar-se por aquela instituição, com a tese In memoriam, na Cidade, sobre os espaços ligados à ritualização da morte. Procurava responder às numerosas interrogações deixadas no ar, após a conclusão, em 2004, do cemitério municipal de Guimarães. Um projeto arrojado (assinado em coautoria, com Pedro Mendo), onde tanto se permite a reconstituição do arquétipo católico como a personalização dos rituais fúnebres. “Não devemos banalizar os cemitérios, referentes cruciais na história da cidade, nem proibir a expressão da diferença.” Mais uma vez, era a possibilidade de criar múltiplas apropriações do espaço público a estar no centro das suas preocupações. Sem esquecer as novas solicitações do tempo.
BI
Idade: 57 anos
Atividade: Arquiteta, professora auxiliar da Escola de Arquitetura da Universidade do Minho e diretora do Centro de Estudos da mesma faculdade
A escolha de… Nuno grande
Arquiteto
“A Maria Manuel Oliveira cruza, na sua atividade, duas escalas de pensamento e de desenho cuja relação nem sempre é fácil: a da arquitetura e a do urbanismo. No projeto de reabilitação do Toural, assume um olhar historicista (no bom sentido), retomando alguns valores arcaicos do espaço público, mas, ao mesmo tempo, introduz um desenho mais contemporâneo, mostrando que o espaço público pode atualizar-se, mesmo numa cidade classificada como Património da Humanidade pela UNESCO. Consegue, com este projeto, levar a tradição dos grandes arquitetos que passaram por Guimarães, como Fernando Távora e Nuno Portas, para a sua geração.”