Nunca perde a calma. Mesmo em situações de emergência. Joana Delgado Silva, 36 anos, já teve muitas oportunidades de testar o seu “sangue frio”. Cardiologista, com passagem por uma unidade de cuidados intensivos e pelo INEM, aprendeu a controlar o seu nível de stresse, até quando lhe morrem pessoas nas mãos. “É perturbador mas, sempre que isso me aconteceu, tive consciência de que tinha feito tudo o que era possível”, conta-nos, com os olhos azuis muito abertos.
Era ainda pequena quando decidiu ser médica. Uma opção sem eco na família o pai é advogado, a mãe técnica de contas e a irmã arquiteta. A convicção só estremeceu aos 16 anos, “aquela idade em que questionamos tudo”. Nessa altura, considerou optar pelo desporto, muito por influência do judo, que praticou durante oito anos. Hesitações ultrapassadas, seguiu para Medicina, na Universidade de Coimbra, e, logo no terceiro ano, começou a fugir para a unidade de cuidados intensivos, gastando lá todo o seu tempo livre. Manteve um ritmo intenso até ao fim do curso e frequentou a especialização num hospital de Barcelona, na área da ecografia intracoronária. “Quase não passava por casa”, conta a médica, nascida e criada em Coimbra.
Casada com um médico, só abrandou em 2011 para poder dedicar-se à filha, hoje com 2 anos. Agora, organiza-se em dois turnos. De dia, está no Centro Hospitalar do Médio Tejo; à noite, depois das dez, quando Carolina adormece, volta para os livros. “É uma especialidade exigente, que obriga a uma atualização permanente”, justifica. Apesar do percurso exemplar, Joana Delgado Silva não conseguiu um lugar no Hospital dos Covões, em Coimbra, onde se especializou.
“Não abriram vagas”, lamenta. Em Torres Novas, não tem oportunidade de aplicar os seus conhecimentos na área da cardiologia de intervenção (cirurgia de desobstrução das artérias, ou angioplastia). “Tenho pena mas vou aumentando os meus conhecimentos noutras áreas”, diz, otimista. Porque ter doentes satisfeitos e com melhor qualidade de vida é toda a compensação que procura.
“É um prazer enorme. É tudo!”
BI
Idade: 36 anos
Atividade: Cardiologista, especializou-se em cardiologia de intervenção, área na qual está a preparar um doutoramento. Trabalha no Centro Hospitalar do Médio Tejo
A escolha de… Manuel Antunes
Cirurgião cardiotorácico do Hospital Universitário de Coimbra
A Joana Delgado Silva escolheu fazer um doutoramento a seguir à especialidade. É claramente alguém que está a ver o futuro. A cardiologia é uma disciplina que evolui à velocidade da luz e é desde novo que o médico tem de se convencer de que é necessário manter-se em permanente formação, para conseguir estar a par. A Joana percebeu isso muito bem.