Susana Fonseca, 38 anos, é ambientalista e ex-presidente da Quercus, trabalha em investigação na sociologia do ambiente.
Certo dia, os professores de uma escola secundária no Seixal decidiram promover uma recolha de papel. Uma coisa simples: os miúdos traziam o papel usado que tivessem em casa e depositavam-no à porta da sala dos docentes, que, depois, o encaminhavam para a reciclagem. Triste ideia. Amontoou-se tal quantidade que os professores rapidamente acabaram com o projeto. E uma boa parte da culpa foi de uma miúda do 11.º ano que, todos os dias, lhes atafulhava a entrada com papelão e ainda convencia – obrigava – os colegas a fazer o mesmo. Assim despertou Susana para o mundo da sustentabilidade. Depois disso, nunca mais parou de tentar acordar os outros.
Nessa altura, Susana Fonseca, hoje com 38 anos, ainda não sabia, mas a paixão pela defesa do ambiente há muito que lhe enchia o coração. A rapariga da Margem Sul passava as longas férias de verão a brincar, descalça, nos bosques que rodeavam as “terras” do pai e da mãe, perto de S. Pedro do Sul e de Arouca, e, mais do que isso, a receber lições involuntárias dos avós. “Na aldeia, nada se desperdiçava”, conta, no estilo expressivo e entusiasmado que lhe ficou de menina. “Ainda agora, percebo que os mais velhos recebam melhor a mensagem da sustentabilidade, por causa das dificuldades por que passaram.”
Enquanto tirava o curso de Sociologia no ISCTE, em Lisboa, ouviu falar de uma associação ambientalista chamada Quercus. “Em 1997, fui lá perguntar se precisavam de voluntários.” A sua energia e paixão pela causa levaram-na, em pouco tempo, à direção do grupo e, em 2009, seria mesmo eleita presidente, cargo que ocupou durante dois anos. Profissionalmente, tornou-se investigadora, com reconhecidos trabalhos na área (claro) do desenvolvimento sustentável.
A responsabilidade não a tornou cínica: Susana continua a dizer-se otimista. Estes tempos de crise, no entanto, não são fáceis para o Ambiente. “As pessoas estão menos sensibilizadas. Mas não há outro caminho que não a sustentabilidade. Aceito que se faça dinheiro, mas preocupa-me a ideia do crescimento infinito num planeta finito. Não é viável.” Susana vive a sua vida segundo os mesmos princípios que prega. Garante que só mudará de televisão no dia em que a sua avariar. Raramente compra roupa. Tem uma carteira castanha e outra preta, que diz cobrirem todas as ocasiões. Não mora na sua casa de sonho, mas sente-se bem onde está. Adora acampar nas férias. “Há duas formas de se ser feliz: consumir mais ou desejar menos”, assegura. “E o futuro é esse. Desejar menos.” Susana já passou esse espírito à filha, de 4 anos. “Há pouco tempo, comprei-lhe um segundo livro com histórias do Winnie-the-Pooh. Quando lho dei, perguntou-me porquê outro. ‘Já tenho um, mãe.'”
A escolha de…Viriato Soromenho-Marques – Professor universitário
“A Susana tem duas características muito importantes: é uma académica com um trabalho muito significativo e é também uma militante, uma ativista de organizações não-governamentais. Como investigadora, distinguiu-se nomeadamente no seu doutoramento, sobre política de ambiente, no domínio da eficiência energética. Como ativista, de certeza que muitos portugueses se recordam dos anos em que ela foi presidente da direção nacional da Quercus e dos programas de televisão que realizou – o Minuto Verde, um grande programa de educação ambiental que a Quercus mantém há vários anos. Além disso, a Susana Fonseca tem qualidades humanas, pessoais, um sentido de equilíbrio, um sentido do outro, dos consensos, que a tornam muito importante no trabalho cívico. E consegue conciliar esta vida pública com uma vida privada. É uma mãe orgulhosa, e também, no caso da Susana, se percebe o talento que só as mulheres têm para conciliar tantas dimensões da vida pública e privada.”