Não há datas exatas, mas por norma é em finais de abril, inícios de maio, que tudo começa. O frio despede-se, chega o calor e, com ele, as amoreiras enchem-se de folhas. No Centro de Artesanato de Freixo, instalado numa antiga casa de habitação, várias mulheres trazem os ovos de larvas (guardados em caixas de papel desde o ano interior) para as salas mais quentes.
Com a diferença de temperatura, as larvas começam a eclodir. “Quando nascem são do tamanho de pontas de alfinete”, conta Susana Martins, que nos guia, explicando passo a passo todo o processo.
Por esta altura, já as larvas devoraram centenas e centenas de folhas de amoreira (os tabuleiros são abastecidos cinco e seis vezes por dia). Em silêncio, o som que fazem enquanto reduzem a nervos as folhas verdes assemelha-se ao cair de uma chuva miudinha.
As larvas que vemos dispostas pelos diferentes tabuleiros têm já alguns centímetros e um toque sedoso quando as colocamos na mão. As que vemos a erguer a cabeça no ar (têm cerca de 45 dias), dizem que já está na altura de formar o casulo. Param de comer e começam a segregar a baba que mais não é do que seda.
Nesta altura, são levadas para novos tabuleiros e rodeadas de rosmaninho (que por estas bandas tem o nome de arçã). O cheiro, intenso, atrai as larvas e é aí, no meio dos ramos, que começam a formar as pequenas bolinhas, transparentes no início, mais tarde amarelas. “Quantas mais folhas tiverem comido mais qualidade tem a seda e mais fio dá”, diz-nos Susana. Passam dois ou três dias até os pequenos novelos ficarem completos.
Quando a obra fica concluída, é a mão humana a quebrar o ciclo da natureza. Para que a borboleta não nasça, furando o casulo e prejudicando a qualidade da seda, os casulos são postos ao sol. O mesmo choque térmico que fez nascer a larva, mata-a agora.
Cada casulo tem entre 800 e 1 500 metros de fio. Mas o fio final resulta da junção de mais de 200 fios!
Para extrair a seda, os casulos inteiros são mergulhados em água quase a ferver. Com a ajuda de uma escova de carqueja, encontra-se a ponta do fio. Mãos femininas enfiam-no na fieira e conduzem-no até ao sarilho, onde se vai enrolando. Com recurso à dobadoura, formam-se pequenos rolos de seda à volta de um pedaço de cartão. Só depois se faz o cubilho – junta-se a seda de 15 cartões para dar origem a um fio só, que se torce ou “fusa”.
A última etapa dita que o fio seja cozido em água e sabão, para expulsar a goma e ficar com o toque macio que lhe conhecemos. O tear transforma-o, por fim, em delicadas peças de vestuário ou para o lar. Os preços, esses, não são tão suaves como o fio…
Centro de Artesanato de Freixo de Espada à Cinta Largo do Outeiro, 6T. 279 658 190 Seg-Dom 9h-12h30, 14h-17h30