Luís Pedras, 45 anos, era despachante, um ofício comum para quem, como ele, cresceu perto da fronteira (neste caso, em Elvas). Uma profissão que deixaria de fazer sentido quando, em 1991, os postos fronteiriços entre Portugal e Espanha se tornaram vazios, praticamente invisíveis. O que fazer? Luís acreditou numa carreira como ceramista. E hoje sente que fez uma aposta certa.
No dia em que a Caravana VISÃO esteve estacionada, de porta aberta para a população, em Elvas, Luís apareceu, apressado, na Praça da República, com um objetivo: apresentar-nos o seu trabalho na recuperação da ronca, um instrumento musical que quase ninguém (re)conhece. Consiste numa espécie de púcaro de barro, com uma membrana no bocal atravessada por uma cana; o som resulta do movimento dessa cana, para cima e para baixo. Simples. Com a sua dedicação a este objeto ancestral, às vezes reinterpretado com outras formas, Luís já ganhou vários prémios em concursos de cerâmica. Podemos encontrá-lo no seu ateliê, e loja, junto ao castelo de Elvas, provando que, às vezes, vale a pena arriscar (inventar?), com imaginação, um caminho só nosso, por improvável que pareça.
A ronca é tocada, na noite de Natal, por grupos de homens que percorrem as ruas de Elvas – e não se sabe bem como ficou esta tradição circunscrita a um só lugar. Mas a associação da ronca ao Natal, celebração de um nascimento, tem a ver, diz-nos Luís, com as origens africanas do instrumento (introduzido na Península Ibérica no século XVI): no continente africano estava ligado a rituais de fertilidade e iniciação sexual.
Agora, Luís Pedras alimenta o sonho de criar um recorde no Guinness, juntando o maior número possível de tocadores de roncas no mesmo espaço. Acreditamos que não deve ter muita concorrência por esse mundo fora…