Vivemos numa época de transformação acelerada, em que a liderança feminina se torna cada vez mais visível e, ao mesmo tempo, confronta desafios profundos e persistentes. O “teto de vidro” — essa metáfora utilizada para descrever as barreiras invisíveis que impedem as mulheres de ascenderem aos cargos mais altos das organizações — continua a ser uma realidade, mesmo nos setores mais progressistas. Mas, como podemos ultrapassá-lo? A construção de uma marca pessoal forte pode ser uma das respostas mais eficazes.
Uma marca pessoal não se resume a uma mera estratégia de autopromoção. Trata-se, antes, de uma construção autêntica que reflete a combinação única de competências, valores, paixões e estilo de liderança de uma pessoa. É, essencialmente, a forma como uma mulher se posiciona, comunica e influencia dentro e fora da sua organização. Mais importante ainda, é uma ferramenta poderosa para superar preconceitos institucionais e culturais que continuam a persistir.
No mundo empresarial, onde o acesso ao poder e à influência continua a ser dominado por homens, muitas mulheres líderes têm conseguido destacar-se através de uma marca pessoal clara e assertiva. Num ambiente de competição acirrada, esta diferenciação permite-lhes criar uma presença que transcende as hierarquias formais. Mas como pode uma marca pessoal forte ajudar a romper as barreiras?
Em primeiro lugar, ela confere visibilidade. Não podemos subestimar o impacto de uma presença visível, especialmente em setores onde as decisões são tomadas, muitas vezes, com base em quem é visto e ouvido. Uma marca pessoal bem construída oferece às mulheres uma plataforma para amplificar a sua voz, desafiar as normas e questionar o status quo. Pensemos em mulheres como Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, que construiu a sua carreira com base numa identidade forte, marcada pela competência técnica, mas também pela coragem em confrontar problemas de frente. A sua capacidade de articular a sua visão e de o fazer de forma autêntica, mas determinada, ajudou-a a quebrar barreiras em instituições tradicionalmente dominadas por homens.
Além disso, uma marca pessoal sólida permite às mulheres redefinir as regras do jogo. Ao invés de tentarem adaptar-se a modelos de liderança masculinos, podem, com sucesso, criar novos modelos que reflitam as suas competências e valores. Jacinda Ardern, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, por exemplo, conseguiu liderar com empatia e compaixão — características frequentemente desvalorizadas no universo corporativo —, sem nunca comprometer a eficácia e os resultados. A sua marca pessoal não apenas a diferenciou, mas também influenciou uma mudança de paradigma em torno de como olhamos para a liderança global.
As barreiras institucionais e culturais que sustentam o teto de vidro são muitas vezes subtis, mas profundamente enraizadas. Desta forma, a construção de uma marca pessoal forte pode ajudar a desafiar e desmantelar algumas dessas barreiras. Um exemplo claro é o de Ursula Burns, a primeira mulher afro-americana a liderar uma empresa da Fortune 500, a Xerox. Através da sua marca pessoal autêntica — baseada na transparência, trabalho árduo e num compromisso inabalável com a excelência — Burns não apenas superou preconceitos, mas também alterou o discurso em torno das expectativas colocadas sobre as mulheres negras na liderança.
Para além disso, a marca pessoal é um motor de credibilidade e influência. Uma líder que se posiciona de forma clara e consistente ganha a confiança dos seus pares, subordinados e superiores. Este capital de confiança é muitas vezes o que permite a essas líderes questionar abertamente práticas empresariais injustas ou ineficazes. A construção de alianças internas e externas, apoiada por uma reputação pessoal robusta, pode ajudar a perfurar as estruturas tradicionais de poder que sustentam o teto de vidro.