Decididamente Portugal entrou na alta roda dos milionários famosos e depois do espanto em receber Madonna, Christian Laboutin ou John Malkovitch, entre muitos, os portugueses habituaram-se às notícias de que o seu país, à beira-mar plantado, é um pequeno oásis que atrai estrelas de todo o mundo. E muitas mais virão. Há cerca de três meses instalou-se em Portugal a The Agency, consultora de um dos mais mediáticos empresários imobiliários dos Estados Unidos – Mauricio Umansky, estrela da Netflix no reality show “Buying Beverly Hills”, que acompanha o dia-a-dia de agentes e clientes. No seu palmarés, o dono da The Agency tem mansões transacionadas com Kim Kardashian, Prince ou Lady Gaga.
O mercado português foi escolhido como porta de entrada na Europa e rampa de lançamento para a internacionalização da The Agency Real Estate a nível europeu. E os resultados excederam todas as expetativas. Se dúvidas houvesse de que Portugal está na rota do imobiliário de luxo bastaria olhar para os números das angariações da consultora. No espaço de pouco mais de um mês somou angariações de imóveis (incluindo somatório de unidades em empreendimentos) superior a mil milhões de euros.
Para o representar em Portugal, o empresário convidou Ayres Neto, um luso-brasileiro com uma carreira bem sucedida no mercado imobiliário português, para liderar os negócios da empresa.
Em entrevista à Visão Imobiliário, o sócio-administrador lamenta o anúncio do término dos vistos Gold, refuta a ideia de bolha imobiliária no nosso mercado e lembra o contributo dos endinheirados clientes para a economia portuguesa. E eles vão continuar a vir porque Portugal não se esgota como mero destino de glamour. “O luxo não é uma questão de preço, é uma experiência, é isso que as pessoas abastadas querem e conseguem encontrar aqui em Portugal”, frisa Ayres Neto.
A The Agency está já em 50 destinos. Como é que o Maurício descobriu Lisboa para a integrar nessa lista?
Os últimos 10 anos marcaram uma mudança de paradigma em Portugal. Portugal abriu as portas para o mundo e o mundo veio. Existe uma miríade de fatores. O clima sensacional, a qualidade de vida, as pessoas… Portugal é o sétimo país do mundo com melhor proficiência em inglês, segundo o ranking “EF English Proficiency Index”… Eu já vendi casas em Portugal a famílias escandinavas que viviam em Barcelona e que lá não conseguiam fazer atividades normais do dia-a-dia porque comunicar com os espanhóis quase virava mímica… Espanha ocupa o 39º lugar no English Proficiency Index… Eu tenho centenas de clientes da Califórnia que vieram para cá, preocupados com o que está a acontecer nos Estados Unidos, os tiroteios, a bipolaridade política… E aqui encontraram um país seguro e com um clima muito semelhante ao californiano, o que é muito importante para eles. Portugal vai ao âmago das pessoas. Elas aproximam-se daquilo que elas conheceram a vida inteira. O mesmo fenómeno acontece com os brasileiros que estão a lotar os voos para vir para Portugal e amam o país. Para os americanos Portugal foi uma descoberta, para os brasileiros foi uma redescoberta. E foi tudo isso que encantou o Maurício.
O Maurício Umansky tornou-se um dos consultores imobiliários mais bem sucedidos dos Estados Unidos, é uma estrela da Netflix, casado com outra estrela da Nexflix e vendeu mansões a figuras tão mediáticas como Kim Kardashian, Kanye West, Prince, Lady Gaga, Michael Jordan ou Sofia Vergara. Vamos começar a ver mais estrelas americanas em Portugal?
O Mauricio é uma pessoa multicultural, nasceu no México, é de uma família judia convive, em Beverly Hills, com gente de toda a natureza. E a sua empresa é de facto, uma bazuca mediática. A mulher do Maurício é a atriz Kyle Richards, estrela do reality show “The Real Housewives of Beverly Hills”, é uma pessoa que toda a gente conhece, é uma Cristina Ferreira americana. Ele costuma dizer muitas vezes que o luxo não é uma questão de preço, é uma experiência e é isso que as pessoas abastadas querem e eles conseguem encontrar isso aqui em Portugal. Olhe, por exemplo, a 150 metros de onde estamos neste momento, bem perto do Cais do Sodré, vendi recentemente um T1 de 50 m2, remodelado por uma arquiteta neozelandesa que foi recuperado como se fosse uma obra de arte, da gaiola pombalina até ao chão, às portas, janelas, ficou um brinco. Isto é luxo. E foi vendido por pouco mais de 300 mil euros (a uma portuguesa).
Qual foi a casa mais cara que o Maurício vendeu?
A Mansão Playboy por 100 milhões de dólares. Mas há outras que não se pode referenciar o valor porque foram assinados acordos de confidencialidade. Já vendi para celebridades cá em Portugal e ninguém tem a menor ideia que essas pessoas famosas têm casa cá. Mas não posso mesmo dizer.
O alto luxo é, portanto, o vosso segmento alvo?
Não só. É o mercado médio alto, alto e alto luxo e um pouco por todo o país. Lisboa, grande Porto (em especial Gaia) e Algarve estão a crescer imenso… Braga está com um crescimento populacional muito grande… Há um fenómeno migratório de brasileiros para Braga, brincando chamamos até de Braguil… São fenómenos chain migration (emigração em cadeia). Tal como aconteceu em Luxemburgo, por exemplo, onde 25% da população é portuguesa. E isso está a acontecer com os brasileiros em Braga, também em Viseu, Guimarães… São cidades de médio porte com uma qualidade de vida extraordinária, historica e arquitetonicamente belíssimas. São cidades com condições ideais para educar os filhos do ponto de vista da segurança, tranquilidade e paz.
O primeiro-ministro anunciou o fim dos Vistos Gold. Como vê esta decisão?
O efeito dos vistos Gold é muito sobrestimado porque dá manchetes. Mas na realidade o seu peso é ínfimo se cruzarmos com o peso total do mercado. É uma discussão etérea… O que aconteceu no último ano com o Golden Visa foi um incentivo à construção no interior do país. Portugal tem um interior extraordinário e começaram a surgir reabilitações de palacetes antigos para os converter em turismo rural o que é fantástico. Começou a promover emprego para a juventude e emprego de padrão médio pois paga-se mais num hotel do que numa pastelaria, por exemplo. Isso ajuda a nossa juventude a ficar cá em Portugal. Há muitas localidades do interior de Portugal onde existe apenas 20% da população que existia há 40 anos e isso é inaceitável… Por isso, do ponto de vista de política pública do Governo seria triste se esses projetos morressem. O Governo tem que manter os incentivos para que crie emprego e também isso ajudará a retirar pressão de Lisboa e Porto. Conheço muitas pessoas que estão aqui em Lisboa mas que se calhar voltariam para as suas terras se pudessem trabalhar no turismo, por exemplo.
O que responderia a quem acredita que se corre o risco de bolha imobiliária em algumas localidades portuguesas?
Não existe bolha imobiliária, existe é pressão imobiliária. E quando se tem um balão muito cheio de ar é preciso tirar um pouco desse ar para que aquilo normalize. E aqui faz-se através de políticas públicas. Tal como o interior com os Vistos Gold, o mesmo deve ser feito com a questão da pressão nas áreas periféricas de Lisboa.
Se formos hoje à margem sul e se fizermos um quadrilátero durante seis ou sete horas por toda a região vamos ver milhares de casas a serem construídas, empreendimentos com 150, 180 ou 200 unidades em cada. O mesmo está a acontecer na Amadora, Odivelas, Loures… Essa construção que atualmente já existe, deve seguir e ser incentivada.
A questão da guerra e da inflação são fatores importantes mas a guerra não vai durar para sempre. E é preciso estarmos preparados para esse novo mundo pós-guerra. É preciso criar mecanismos agora e não quando a guerra acabar porque aí já vai ser tarde demais. Nessa altura vai haver ainda mais pressão imobiliária.
Os clientes de luxo brasileiros foram moldando o produto imobiliário em Portugal nos anos mais recentes. Os americanos, que são agora a nova coqueluche, também estão a fazê-lo?
Na realidade, os americanos ajustam-se mais a Europa… O mercado brasileiro é muito maior, para cada americano há 20 brasileiros. E os brasileiros têm muitas especificidades. Os apartamentos em Lisboa começaram a ser construídos com quatro suítes e um lavabo, como os brasileiros querem, e o cliente português, suíço ou americano ajusta para as quatro suites. A verdade é que o americano é mais adaptável que o brasileiro. E uma curiosidade – o americano é muito preocupado com o que o português acha dele. Houve uma época em que eu fazia mais de 20 chamadas por semana com americanos e era um tema recorrente: “será que estamos a incomodar em Portugal?”. E eu respondia-lhes – “bem pelo contrário, o país vos abraça porque vocês contribuem para a economia, fazem a roda girar”. São pessoas que sentem muita empatia pelos outros.
Quantos imóveis vocês têm na vossa carteira e qual o seu valor médio?
A The Agency Portugal conta atualmente com 600 imóveis em carteira distribuídos de Norte a Sul do país e ilhas e com um valor médio de 1,6 milhões.
Teve uma carreira de muito sucesso em outras consultoras imobiliárias e agora aceitou este desafio.
Eu nunca fui seduzido por dinheiro mas sim por projetos. E realmente buscava algo que representasse um diferencial grande em relação ao que temos no mercado imobiliário português. Quando a The Agency me procurou foi um processo muito longo de conversa e que realmente só ficou fechado no mês passado. E na base dessa negociação está algo que eu acho fundamental – o investimento em marketing. Porque se vamos vender casas de cinco, oito ou dez milhões o nível de atendimento tem de ser diferenciado, a marca tem de ser diferenciada, o cliente muito abastado tem de se sentir em casa.