Que medidas devem ser acauteladas quando se avança com projetos junto às zonas ribeirinhas?
A lista de medidas para se adaptar a costa e as zonas ribeirinhas, que sofrem com o efeito da subida do nível médio das águas do mar, está muito bem definida. São medidas de três classes: proteção (com engenharia pesada, nomeadamente na construção de diques e elevação da cota dos terrenos, etc.); adequação (em que as infraestruturas continuam no mesmo local mas são elevadas em cota – por exemplo, os edifícios podem deixar de ter piso térreo e passam a ter aí apenas colunas, ficando habitáveis só a partir do primeiro piso), e relocalização, ou seja abandonamos o local.
Pode dar alguns exemplos de projetos que, no seu entender, deveriam optar por esta opção?
A envolvente do rio Jamor, em Oeiras, é uma zona que deveria ser devolvida à cidade como uma área de lazer. Sabendo que, mais cedo ou mais tarde, o mar vai começar a invadir aquela área, se não tivermos lá nada de valor, os danos serão mínimos, mas, se construírem um hotel, uma marina ou outro projeto qualquer, a subida do nível das águas do mar vai encarecer cada vez mais qualquer medida de adaptação para se proteger essas infraestruturas. O ónus de se ter optado por construir, apesar do que sabemos que vai acontecer, acaba por ter um custo muito elevado. É o que se passa, por exemplo, com o Ocean Campus, anunciado pela anterior ministra do Mar, em Algés, numa área suscetível quanto ao nível médio das águas do mar – e mais grave do que isso: esta é das zonas mais suscetíveis de virem a ser inundadas por um tsunâmi. Outro exemplo é um projeto que já está construído: o Hospital da CUF, em Alcântara, já tinha autorização de construção quando fizemos o estudo, para a Câmara Municipal de Lisboa, sobre a subida do nível do mar. Do lado de quem gere os municípios, é preciso pensar numa perspetiva de longo prazo no que toca aos elementos que vão ocupar o território, bem como no facto de estes elementos terem de ser adaptados à realidade futura do nível do mar. Mas a maior parte dos presidentes de câmara não tem minimamente esta visão, porque eles governam em ciclos de quatro anos e não se preocupam com o que vai acontecer daqui a meio século.