Vera Gouveia Barros, economista e autora do ensaio Turismo em Portugal, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, fala do impacto da inflação, do aumento das taxas de juro e do crescimento dos preços da construção. O que vão fazer estes ingredientes aos preços da habitação? Veremos…
Estamos a viver uma bolha imobiliária?
Existe uma bolha imobiliária se o aumento da procura, que faz os preços subirem, acontecer apenas por as pessoas estarem convencidas de que o preço vai subir, uma profecia autorrealizável. Ou seja, um fenómeno especulativo implica a subida de preço, mas uma subida de preço não implica que estejamos perante uma especulação. Pensemos no seguinte: arrendar um imóvel só serve o propósito do consumo, não o do investimento; por isso, o valor das rendas corresponde ao valor de uso dos imóveis. Para um senhorio, as rendas são a remuneração do seu investimento, logo o valor de uma casa, numa lógica de investimento, decorre das rendas que se espera que ela vai gerar. Daqui resulta que olhar para o rácio entre o preço do metro quadrado na venda e o preço do metro quadrado no arrendamento seja um bom indicador para fenómenos especulativos. Se esse rácio estiver a aumentar, poderemos estar a viver uma bolha imobiliária, mas isso é só um indício. O que vemos é que não aumentou entre 2017 e 2020. Portanto, por aí, não temos razões para suspeitar de um movimento especulativo, embora a série do Instituto Nacional de Estatística seja curta.