Há dois anos que o mundo sofreu uma reviravolta com consequências inesperadas para a forma como vivemos e trabalhamos. O teletrabalho consolidou-se e muitos vaticinam que passará a ser, de facto, uma nova forma de vida para um número significativo de pessoas que se converterão em nómadas digitais aproveitando para trabalhar em qualquer ponto do mundo.
Um estudo elaborado pela plataforma Airbnb destaca o período em que vivemos como “a maior mudança no mundo das viagens desde o advento das viagens aéreas comerciais – pela primeira vez, milhões de pessoas podem viver em qualquer lugar”. A análise feita apurou, por exemplo, que uma em cada cinco noites reservadas na plataforma durante o terceiro trimestre de 2021 foi para estadias de 28 dias ou mais. E quase metade das noites reservadas no terceiro trimestre foram para estadias de pelo menos sete dias, face a 44% em 2019.
Muito antes da pandemia, o interesse em viajar e ver outros países levou a que a chegada de viajantes internacionais aumentasse de 25 milhões em 1950 para mais de 1,4 mil milhões em 2019, de acordo com a Organização Mundial do Turismo. As pessoas querem continuar a explorar novos países e isso já se reflete na forma como são feitas as reservas. Na Airbnb, as estadias familiares de longa duração cresceram 75% entre o verão de 2019 e o verão de 2021. E a proporção de utilizadores que reservam longas estadias para prosseguir o seu estilo de vida nómada cresceu de 9% em 2020 para 12% em 2021.
Uma outra conclusão mais orientada para o mercado americano apurou que durante o terceiro trimestre de 2021, as noites reservadas em destinos locais por hóspedes dos EUA em zonas rurais cresceram 85% em comparação com o mesmo trimestre em 2019.
“Mais pessoas começarão a viver no estrangeiro, outras viajarão durante todo o verão e algumas até desistirão dos seus contratos de aluguer e tornar-se-ão nómadas digitais”, preconiza-se na análise da Airbnb hoje divulgada.
Cidades e países competirão para atrair estes trabalhadores remotos e, como consequência, conduzirão a uma redistribuição dos destinos para onde as pessoas viajam e vivem, refere o estudo, acrescentando que há um número crescente de países a alterar as suas regras fiscais e de vistos, com mais de três dúzias de países a oferecer agora algum tipo de visto para os nómadas digitais.
Para promover este novo estilo de vida, a Airbnb lançou uma iniciativa que contou com mais de 300.000 pessoas a candidataram-se a uma das 12 vagas disponíveis para viver em qualquer lugar através da plataforma durante um ano e contribuir com as suas experiências como hóspedes para a melhoria e desenvolvimento do produto.
O próprio CEO e co-fundador da Airbnb, Brian Chesky, anunciou que também ele irá viver em alojamentos na Airbnb. Começando em Atlanta esta semana, Chesky ficará com anfitriões em diferentes cidades e vilas, e regressará a São Francisco de vez em quando, da mesma forma que muitos outros trabalhadores remotos regressam regularmente às suas cidades de origem para se encontrarem com amigos e colegas.
Uma nova forma de vida que já está a criar novas dinâmicas turísticas, económicas e sociais, um pouco por todo o lado.