Há uma revolução a acontecer no uso e na forma como usamos os edifícios. A pandemia tornou imediatamente evidente essa necessidade nas habitações assim que os confinamentos começaram impulsionando alterações arquitetónicas nos projetos que ainda estavam em curso (que ganharam mais exposição solar, varandas, área de cowork no prédio, etc). Agora, com a vacinação a avançar um pouco por todo o mundo e os desconfinamentos a trazerem as pessoas de volta para os seus locais de trabalho, de estudo ou lazer, está em curso uma nova vaga de alterações estruturais destes espaços que terão de se adaptar forçosamente a esta realidade.
É esta realidade que começa a ser sentida na Tétris, empresa de construção e arquitetura do universo JLL, a multinacional do imobiliário, que em plena pandemia, em 2020, somou 110 projetos nas áreas do retalho, hotelaria, escritórios e ativos alternativos (como a área do Multifamily, residencial destinado a arrendamento ou residências universitárias).
A empresa que tem projetos de norte a sul do país, e com forte presença na Avenida da Liberdade e ruas próximas – só aqui são mais de 44 projetos em lojas de marcas tão icónicas como a Cartier, Furla, Gucci, Louis Vuitton, entre outras – tem acompanhado os investidores nas adaptações arquitetónicas impostas pela pandemia não só no retalho mas nas outras áreas do imobiliário comercial.
“A pandemia trouxe a necessidade de preparar os imóveis para outras funcionalidades, com outros requisitos de segurança e com áreas maiores. Já não é possível ter o mesmo número de pessoas no mesmo espaço por isso, ou se reduz o número de pessoas mantendo a área, ou se amplia para as pessoas que se quer continuar a receber”, diz João Marques, que após seis como diretor-geral da Tétris Portugal (sucedido entretanto por Carlos Cardoso) passou este ano a liderar o “Southern Cluster (Portugal, Espanha e Itália)” dentro da multinacional.
O responsável dá como exemplo o muito afamado restaurante Solar dos Presuntos, procurado por nacionais e estrangeiros, que durante a pandemia aproveitou para dar gás às obras de ampliação do espaço.
“Começámos a obra há dois meses, é um investimento avultado e é um exemplo entre muitos de como há investidores com coragem para avançar mesmo nestas circunstâncias porque acreditam que o turismo vai voltar a ser como era ou até melhor”, diz João Marques, destacando também a recente aposta da empresária Paula Amorim que fez obras no restaurante de luxo JNCQUOI Ásia para integrar a sua loja da Fashion Clinic.
Entre os seus clientes, boa parte internacionais, a Tétris tem aqueles que continuam a apostar nos mesmos ativos, ajustando-os à nova realidade, mas também os que percebem que as suas apostas imobiliárias vão necessitar de uma reconversão, em alguns casos total, para manter as rentabilidades.
“Estamos a desafiar os investidores proativa e reactivamente para os ajudar a transformar os seus imóveis. Por exemplo, existem alguns hotéis corporativos que vão ter de repensar o seu uso porque as viagens de trabalho vão diminuir e as pessoas vão continuar a reunir-se através das novas tecnologias. Ou edifícios de escritórios desocupados onde se podem arranjar soluções mais ecológicas e inovadoras que se ajustem à pandemia e que permitam potenciar a rentabilidade dos investidores”, exemplifica o responsável.

Mas para João Marques, o impacto da pandemia no edificado poderá ser ainda mais abrangente. “Se calhar é ir um bocadinho mais longe mas não sei até que ponto não será também necessário repensar as salas do teatro e as salas de cinema para que fiquem equipadas com outras soluções sanitárias. Ou as residências universitárias e as próprias escolas e universidades”.
Com “uma linha de crescimento a dois dígitos que nem a pandemia conseguiu inverter”, a Tétris fechou 2020, o primeiro ano da pandemia, com uma faturação de 51 milhões de euros, depois de em 2019 ter faturado 43 milhões, detalha o responsável. “No universo JLL existem 18 países na Europa com a Tétris e Portugal foi o único que não só atingiu o budget previsto como até o ultrapassou”, sublinha ainda João Marques.
Este ano, a Tetris soma já uma carteira de encomendas na ordem dos 40 milhões de euros.