A zona ribeirinha vai competir com o centro da cidade para as rendas mais caras de Lisboa no que diz respeito ao mercado de escritórios. O metro quadrado que em 2019 atingiu um máximo histórico de 25 euros para a Zona 1 Prime CBD da Avenida da Liberdade ao Saldanha, já está nos 23 euros na zona de Cais Sodré.
“E porquê esta zona? Porque é aquela que mais está a atrair a geração millennial”, explicou André Almada, Diretor da área dos Escritórios da consultora CBRE durante a conferência Building New Cities – Tendências do Mercado Imobiliário 2020, que ontem se realizou no Capitólio, em Lisboa e que contou com uma animada participação de todos os diretores da CBRE.
O ambiente propício a vivências sensoriais proporcionado pelo rio ali tão perto (que permite a prática do exercício físico ou o simples desfrute da envolvente) ou a animação pós-laboral assegurada por vários espaços trendy que vão surgindo, são mais-valias que encaixam como uma luva na filosofia nesta geração de profissionais mais jovens que valorizam a partilha de experiências no local ou perto do local onde trabalham.
Os exemplos, aliás, sucedem-se. Da zona de Marvila onde vai nascer o Hub Creativo do Beato até ao Cais Sodré e Alcântara são vários os espaços que estão a atrair a geração millennial, entre os quais se incluem, por exemplo, o edifício da LACS Óbidos, em Alcântara, o Second Home (integrado no Time Out, do mercado da Ribeira) ou o mais recente Heden Santa Apolónia, junto ao Terminal dos Cruzeiros.
“Para 2020, o eixo ribeirinho vai estar, sem dúvida, taco-a-taco com a zona mais cara de Lisboa (Zona 1 – CBD) e as rendas deverão crescer entre os 5 e os 10%, podendo bater os €28/m2”, afiança André Almada, acrescentando que neste momento existe procura (sem a correspondente oferta) de novos espaços na área de Lisboa ou grande LIsboa por parte de empresas nacionais e estrangeiras que excedem os 300.000 m2.
Os millennials (nascidos entre 1981 e 1996) também estão a revolucionar o mercado de escritórios do Porto, reforçou Luís Mesquita, responsável pelo escritório da CBRE, no Porto. “O perfil das empresas está a mudar e valorizam muito os chamados ‘amenities’ porque sabem que os colaboradores que a empresa quer atrair, desejam também espaços agradáveis para passear ou beber um copo no final do dia”, referiu o responsável dando como exemplo a zona de Matosinhos, que tem estado no foco dos investidores nos anos mais recentes.
Esta revolução, que está a acontecer nos espaços de trabalho de todo o mundo, chegou a Portugal com algum atraso, mas veio para ficar. A geração Milénio que cresceu a ver os pais a trabalhar desalmadamente, muitas vezes em locais de trabalho sem condições, exige agora das empresas um ambiente mais inclusivo e acolhedor, em todos os sentidos. As organizações ajustaram-se e estão a criar espaços que se encaixam na filosofia desta nova geração.
“Depois do ‘living style’, existe agora o ‘work style’ que leva as empresas a olhar para as pessoas de outra forma, proporcionando-lhes mais satisfação pessoal e com isso, um melhor desempenho no trabalho. E não há dúvida que os novos talentos não buscam apenas uma boa remuneração, querem também as melhores condições para fazer o seu trabalho”, disse, por seu turno, Duarte Cardoso Ferreira, diretor do departamento de Arquitetura, da CBRE e que conta com mais de 20 projetos recentes em edifícios de escritórios de todos os sectores.
Estes espaços aprimorados e com capacidade para atrair este segmento podem fazer subir a renda “na ordem dos 15 a 20% em comparação com edifícios na mesma zona mas sem este tipo de ‘amenities”, reforçou ainda Duarte Cardoso Ferreira.
Salas de meditação e ioga, refeitórios com luxuriantes jardins verticais, espaço de diversão (literalmente) onde não falta uma mesa de matraquilhos ou de ping-pong, concertos de música no final do dia no topo do edifício, a criatividade para conceber espaços de descompressão tem sido infinita.
O que se segue, em termos de tendências e que já vai ao encontro da geração mais jovem, a Z (que em 2030 terão entre 18 e 33 anos), junta tudo isto e um uso ainda mais intensivo da tecnologia. “O futuro, que não é longínquo, passa acima de tudo, pela tecnologia”, realça Mónica Pinto Coelho, responsável de Marketing da CBRE no mercado ibérico, dando como exemplo, o uso de aplicações que ligam o trabalhador à empresa de uma forma integral e que vai para além do trabalho. Perguntar à Alexa ou ao Ok Google como vai ser o dia de trabalho passará assim a incluir a agenda extra-laboral dentro da empresa como por exemplo a que horas vai realizar-se a aula de ioga no ginásio do edifício, qual a ementa vegan do dia ou que DJ vai tocar na ‘sunset party’ que vai fechar a semana, exemplificou a responsável.
A maior tendência de todas para os próximos anos será assim bem-estar dos colaboradores. “As pessoas, que antigamente eram chamadas de recursos humanos, são hoje a principal preocupação das empresas que querem reter os seus talentos”, rematou Cristina Arouca, diretora do departamento de Consultoria da CBRE Portugal.