Queda de cabelo, afrontamentos, suores noturnos, palpitações, olhos e pele secos, fadiga e alterações de humor são apenas alguns dos sintomas da menopausa, há muitos e muitos mais. Não é uma doença, mas uma condição: a partir de determinada idade (média de 51 anos), as mulheres deixam de ter o período menstrual e entram na menopausa. Antes disso, passam pela pré-menopausa, uma fase que a médica descreve como “a mestra do disfarce”, já que os sintomas são inúmeros, mas muitas mulheres não os associam à menopausa porque ainda têm ciclos menstruais.
Em Menopausar – Com Espírito Positivo, Sem Stress e Sem Dramas (Lua de Papel, 365 págs., €18,90) – Livro do Ano 2023 da The British Book Awards – a coautora (em parceria com a apresentadora britânica Davina McCall) deslinda, em 14 capítulos, as vicissitudes desta “segunda primavera”, como alguns lhe chamam. Está lá tudo, desde os sintomas, passando pelos fármacos – incluindo a tão malvista, durante vários anos, terapia de reposição hormonal –, os esquecimentos ou a vida sexual, tudo ilustrado com casos reais. Aos 48 anos, Naomi Potter – que foi médica no Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido durante 16 anos e que, em 2003, fundou a clínica Menopause Care – diz que, assim como se fala de maternidade e de menstruação, a menopausa devia fazer parte das conversas do dia a dia desde a infância.
O tema da menopausa ainda é um tabu?
Menos do que antes, definitivamente menos. Quando se está no local de trabalho, ainda existe, sim, um tabu associado: a mulher sabe que se disser “bem, na verdade não posso fazer esta apresentação hoje porque o meu corpo não está a funcionar bem” ou que já não consegue fazer o mesmo trabalho tão depressa como fazia antes, sente-se como se tivesse um alvo nas costas. Tenho pacientes que dizem que falam sobre o assunto com os amigos e outras que não falam de todo, varia muito. Vejo que é mais falada nos média, mas não sobre coisas que penso que devemos ensinar às crianças na escola, aos estudantes de Medicina e aos empregadores. Fala-se sobre menstruação e maternidade, mas pouco ainda sobre menopausa.
E se não falarmos…
Se não discutirmos o assunto, como é que as mulheres sabem o que devem esperar dessa fase? Como é que podem pensar que não estão a enlouquecer? Como é que sabem o que está disponível para as ajudar a ultrapassar os sintomas? Falar é crucial.
Falemos, então. O que é exatamente a menopausa?
A menopausa é uma fase na vida da mulher em que, basicamente, os ovários param de funcionar e deixam de produzir óvulos e hormonas [estrogénio, progesterona e testosterona]. Quando passa um período de 12 meses sem menstruação, considera-se que a mulher está na menopausa.
Qual a idade típica de início da menopausa?
A idade média para a interrupção da menstruação de uma mulher, no Reino Unido, é de 51 anos – que deverá ser também a média europeia –, mas antes disso poderá haver a sintomatologia da pré-menopausa. Os sintomas que acontecem quando as hormonas se alteram começam a surgir muito antes dessa idade, acima dos 45 anos é considerado normal. Tem sido um problema em todo o mundo, porque é difícil diagnosticar. A pré-menopausa tem sido maltratada ou subtratada há muito tempo. Só agora é que começa a ser reconhecida.
Qual é a diferença entrepré-menopausa, menopausa e pós-menopausa e porque é tão importante distingui-las?
A menopausa é quando se deixa de ter menstruação, os ovários deixam de funcionar e não se produzem mais hormonas. Na pré-menopausa, acontece haver menstruação. É um momento de turbulência hormonal, as dores e os sintomas podem ser muito mais caóticos. Aliás, os períodos menstruais até podem ser regulares. É importante distinguir principalmente porque, na pós-menopausa, não é preciso haver preocupação com a contraceção, no entanto, se houver sangramento, este deve ser investigado.
Quais os sintomas mais comuns na menopausa?
Existem provavelmente mais de 100 sintomas e é difícil saber quão comuns são porque nem sempre são identificados. Os mais típicos são ondas de calor/afrontamentos, suores noturnos e a mudança ou interrupção da menstruação. Nós temos recetores de estrogénio literalmente por todo o corpo, por isso pode haver sintomas em todos os sistemas orgânicos: o cabelo cai mais, os olhos, a boca e a pele ficam secos, acontecem palpitações e alterações no sono. A menopausa pode afetar qualquer parte do corpo e é diferente de mulher para mulher.
E os efeitos desses sintomas no corpo?
Há o tipo de sintomas físicos que resultam de uma espécie de deterioração. Por exemplo, se já existem sintomas urinários anteriores, então eles vão acontecer com mais frequência: acorda-se durante a noite para fazer chichi e as infeções podem surgir mais vezes. Se houver ansiedade ou depressão, isso pode ter impacto nas relações amorosas, sociais ou no trabalho. Com a névoa mental, outro dos sintomas, algumas pessoas não conseguem funcionar bem laboralmente.
Qual é a fase mais complicada, pré-menopausa ou menopausa?
Penso que a pré-menopausa é mais difícil. O que digo sempre às minhas pacientes é que a minha clínica está cheia de mulheres na mesma situação, são maioritariamente mulheres entre os 40 e os 50 anos. Na faixa etária dos 60, 70 e 80 anos as coisas já estão mais calmas, mas, às vezes, os sintomas continuam.
Quanto tempo dura a pior parte da menopausa? Os sintomas podem durar dez anos?
Sim, podem. Há quem tenha sintomas mais leves e quem os tenha piores, às vezes duram menos e outras mais. E também podem mudar. Não é de todo possível prever quem vai ter o quê e durante quanto tempo.
Já conheceu alguma mulher que não tivesse sintomas?
Ouço mulheres dizerem que tudo o que aconteceu foi a interrupção da menstruação. Mas quando se fazem algumas perguntas sobre afrontamentos, olhos secos ou comichão na pele, a resposta costuma ser: “Ah, não tinha percebido que era por causa da menopausa.” Não é muito comum que as mulheres não apresentem qualquer sintoma.
Quanto tempo dura cada fase da menopausa (pré-menopausa, menopausa, pós-menopausa)?
A menopausa é mesmo uma linha na areia. É aquilo a que chamamos diagnóstico retrospetivo. Só se está na menopausa 12 meses após a última menstruação. Antes esteve na pré-menopausa e depois fica na pós-menopausa para sempre. E a pré-menopausa pode durar dois anos, três anos, cinco anos ou sete anos.
Todas as mulheres engordam durante esta fase?
Não, nem todas. Com o avançar da idade, os homens e as mulheres engordam e perdem massa muscular. O que parece acontecer na menopausa é que existe uma espécie de alteração metabólica que faz com que alguém ganhe mais peso mais depressa do que em qualquer outro momento. Não acontece a todas as mulheres, mas é um sintoma comum.
Qual é a melhor maneira de prevenir o ganho de peso na menopausa?
Bem, podemos dizer que o exercício físico é brilhante e que se deve seguir uma dieta saudável, balanceada e nutritiva, mas este é o mesmo tipo de conselho que se daria a todos. Sabemos que, de uma forma geral, uma mulher de 60 anos pesa mais do que uma de 50 e esta mais do que uma de 40 e é cada vez mais difícil lutar contra isso. O estilo de vida pode fazer a diferença. Além da dieta e da atividade física, é importante não se “automedicar” com alimentos cheios de açúcar ou bebidas alcoólicas.
Que superpoderes da menopausa as mulheres devem ter para seguir em frente?
Sabedoria. Na menopausa as mulheres deixam de ter de se preocupar com a menstruação e com a contraceção. Os filhos já são mais velhos, já saíram do ninho, e elas podem concentrar-se em si próprias e isso pode ser muito libertador. Muitas vezes chamam a esta fase segunda primavera, porque é uma oportunidade de começar de novo.
A terapia de reposição hormonal (TRH), na qual o estrogénio sozinho ou com progesterona é administrado por via oral ou através de adesivos transdérmicos para aumentar os níveis hormonais e, assim, ajudar a aliviar os sintomas da menopausa, tem uma reputação perigosa. É uma boa ideia?
A terapia de reposição hormonal é muito, muito, segura. Será que todas as mulheres precisam dela? Penso que não. Normalmente, é muito boa para aliviar os sintomas e sabemos que traz alguns benefícios positivos para a saúde. E, sim, é mais segura do que fomos levados a acreditar durante algumas décadas.
Por causa de um estudo de 2002 que a associava a um aumento de risco de cancro da mama, doenças cardíacas ou coágulos sanguíneos.
Os resultados da investigação foram mal interpretados. As manchetes por todo o mundo fizeram com que as mulheres ficassem com medo de fazer a terapia e assustaram os médicos que a prescreviam. Demorou muito tempo para que tudo voltasse ao normal. Hoje temos dados que sugerem que os tipos modernos de TRH são seguros e sabemos que protegem os ossos, o coração e os vasos sanguíneos. E sabemos, principalmente, que fazem as mulheres sentirem-se melhor. É verdade que algumas pessoas ainda têm aquela visão muito arreigada de que a TRH causa cancro da mama. Embora essa opinião esteja a mudar, ainda há muito trabalho a fazer nesse domínio.
A TRH trata todos os problemas, funciona bem para todos?
Todas as pessoas são diferentes, não conseguimos prever o que vai funcionar com quem. Trabalhamos muito por teste e erro, alterando as dosagens ou o tipo de produtos, mas a verdade é que pode funcionar para a maioria das pessoas.
E qual a terapia para mulheres que não podem tomar hormonas?
Há muito que pode ser feito. Além das mudanças no estilo de vida, também existem medicamentos para vários sintomas, como as infeções urinárias ou os afrontamentos. Ainda não existe um medicamento específico para a menopausa, existem outros, para outras doenças, que podem aliviar os sintomas.
O estilo de vida pode influenciar o início e a gravidade dos sintomas da menopausa. Tem algum conselho específico para manter as coisas sob controlo?
Quando se reconhece os sintomas, sabe-se o que não se deve fazer. Vejo muitas mulheres que se sentem ansiosas e usam o álcool para se “automedicarem” porque é a única coisa que as relaxa à noite. Dormem, mas é claro que quem bebe meia garrafa de vinho antes de ir para a cama dorme mal. No dia seguinte, a mulher vai estar ainda mais ansiosa porque o sono não foi reparador. Tem de se levantar para iniciar o seu dia e, então, vai ingerir todo o tipo de comida para ter energia porque está lenta e cansada. No fim da jornada diária, estará com um alto teor de açúcar e cafeína e vai beber álcool novamente para acalmar a ansiedade. Não se pode entrar neste ciclo. O melhor conselho que posso dar é que as mulheres entendam o que é a menopausa e quais são os seus sintomas e não se agarrem a círculos viciosos.