Susie Wee é, também, mais um caso das mulheres que ganham relevância dentro do setor da Tecnologia que é, tipicamente, dominado por homens – que estão em maior número, ocupam os lugares de chefia e ganham mais para desempenhar a mesma função que as mulheres. O tema da diversidade (a falta dela, neste caso) tem sido central a algumas intervenções na Web Summit e a conversa da Exame Informática com Susie Wee começou exatamente por aí.
A diversidade é um dos temas mais frequentes na Web Summit (desde a primeira edição em Portugal). Acha que a situação está a mudar? Há mais mulheres na tecnologia?
Está a mudar, sim, mas em áreas muito específicas. Tenho a responsabilidade de gerir o programa da Cisco para developers que foi fundado por mim. E esta área, a da programação, é muito técnica e dominada por homens. A minha equipa de liderança tem o mesmo número de homens de mulheres. Aliás, a diretora sénior da equipa é uma mulher. Esta equipa tem sido muito eficiente e é importante referir que trabalhamos com pessoas de todas as áreas da Cisco. Tudo está a correr bem e estamos a ajudar a transformar a Cisco. É como o que se passa na Web Summit (que tem feito um esforço grande para trazer mais mulheres ao evento): se fazemos a mudança a possibilidade é de as coisas ficarem melhores. Porque precisamos de diversidade na inovação.
É crítico que exista diversidade para que exista inovação?
Absolutamente! Está num dos slides que vou mostrar na talk que vou dar aqui na Web Summit. Os novos problemas que estamos a resolver como, por exemplo, os relacionados com as cidades inteligentes… são desafios que envolvem homens e mulheres. A inovação é sobre as pessoas que vivem nessas comunidades e vão ser impactadas pela tecnologia. A diversidade de pensamento vai criar uma maior empatia pelos problemas que essas pessoas têm.
Qual é a dimensão da comunidade DevNet?
Começámos há cinco anos e temos agora 500 mil programadores. Meio milhão de developers…
Um número impressionante…
Sim, é incrível. Ainda mais se tivermos em consideração que a Cisco não é uma empresa da área do consumo. Ajudamos as empresas que estão a gerir as maiores redes de transportes do mundo, as redes mais críticas… são algumas das áreas onde atuamos.
Ter conseguido todos esses programadores, isso quer dizer que a Cisco está a começar a abrir o espetro para as plataformas abertas? É que a empresa sempre foi conhecida por ser algo fechado a tudo o que fossem soluções externas. Estamos perante uma grande mudança…
Sim, estamos mesmo perante uma grande mudança. Quando fundei a DevNet, há cinco anos, essa era a reputação da Cisco. Bem, ainda há algumas pessoas que não perceberam que mudámos. Mas o que disse na altura era que precisávamos de uma comunidade de programadores e de ajudar essa comunidade. Na verdade, já tínhamos algumas APIs (plataforma que permite o desenvolvimento o de aplicações) desenvolvidas para os nossos produtos, mas o processo, para desenvolver software para esses produtos não era simples. Por isso, a primeira coisa que decidimos fazer foi criar um portal (developer.cisco.com) onde colocámos todas as APIs disponíveis aos programadores. Depois foi primeiro darmo-nos a conhecer. E aproveitámos o nosso evento, o Cisco Live, que nos EUA recebe 25 mil participantes – e na Europa conta com 17 mil pessoas – e decidimos fazer o nosso evento… dentro desse evento. Organizámos várias sessões e correu muito bem (Susie mostra-nos uma foto no telefone onde é possível ver corredores repletos de participantes).
Foi fácil dar a perceber à administração da Cisco a importância de ter uma conferência para developers (algo que a Apple, a Google e a Microsoft já têm há muito tempo), de abrirem a empresa ao exterior?
Nada é fácil quando estamos a mudar as coisas. Bem, é como no empreendedorismo, mas dentro de uma grande empresa. Tentamos, falhamos. Tentamos… e se formos bem-sucedidos, aprendemos com o erro. E foi muito interessante por que não sabíamos, mesmo, se iríamos ter sucesso na primeira conferência que fizemos para programadores. É preciso perceber que não havia nada feito nesta área. Não podíamos copiar o que outros faziam nas suas conferências, porque esta era completamente diferente – os produtos deles não se parecem com os nossos, nem a comunidade deles tem semelhanças com a nossa. Por isso, começámos pelo site e por colocar o evento da DevNet dentro do Cisco Live. Mas não sabíamos se a comunidade estava preparada. Mas eles apareceram! E começaram a aprender e a ensinar outros!
O que mudou na Cisco com a criação dessa comunidade de 500 mil programadores? Que conhecimentos foram ganhos?
Recebemos o feedback desses programadores e trabalhamos com as nossas equipas de produto. Dessa forma podemos melhorá-los, trazer novas funcionalidades e melhorar as nossas APIs. Além disso, percebemos que se lançarmos um produto acompanhado de uma boa oferta de APIs desenvolvidas pelos programadores… o mercado percebe que a Cisco é uma empresa aberta a outras plataformas. Já ninguém colocará isso em causa.
E a administração ficou contente com esses resultados…
Sim! (risos) Estava nervosa quando fiz essa apresentação à administração. Mas eles gostaram muito do projeto.
Mudando de tópico. A Inteligência Artificial volta a ser tema central na Web Summit. Qual é a sua opinião sobre os desafios inerentes a essas tecnologias. Por exemplo, como é possível desenvolver sistemas de Inteligência Artificial mantendo a privacidade dos dados?
Temos de dar inteligência aos nossos sistemas. Acho que vamos ter um mundo que junta a inteligência humana e a inteligência das máquinas. Vai ser uma combinação de ambas. A Cisco tem a Talos – uma equipa que reúne analistas e engenheiros dedicados à deteção de ameaças eletrónicas – que analisa a rede para detetar e prever ataques informáticos. Ameaças que mudam constantemente e que se tornam cada vez mais perigosas. E no centro Talos temos 300 especialistas em segurança que estão sempre a tratar informação e a lançar atualizações para que estas ameaças não se concretizem. Ou seja, temos pessoas e sistemas de informações focados nesse objetivo.
É preciso perceber que se conseguirmos abrir em segurança a informação… estaremos a abrir um novo mundo para a inovação… para os programadores. E esse é o desafio. Há informação que é de difícil acesso, os dados de saúde, por exemplo. Mas há formas de o fazer em segurança, se estes sistemas forem embutidos na infraestrutura. No entanto, é imperativo que não se mova a informação de local. Por isso, é determinante criar uma infraestrutura segura para que os programadores possam construir dentro desse ambiente de forma responsável.
É muito difícil ser a mulher responsável pela inovação dentro da Cisco?
(hesita) Há sempre desafios em todas as áreas, mas é divertido, certo? Não faria um trabalho se ele fosse fácil e, na verdade, tenho tido muito apoio por parte do CEO e de diferentes grupos dentro da Cisco. E sou muito optimista e, por isso, foco-me nos temas e nas pessoas que também o são. (risos).