Nos últimos tempos, a Inteligência Artificial tem estado no centro das atenções, e com razão. Estamos a falar de uma das tecnologias mais transformadoras de sempre, com o potencial de revolucionar setores inteiros e aumentar drasticamente a competitividade das empresas. Mas a verdade é que, em Portugal, esta revolução ainda anda a passo lento.
Os números falam por si. Segundo a Deloitte e a Eurostat, Portugal está entre os países da União Europeia com menor taxa de adoção de IA – apenas 35% das empresas, de acordo com a Strand Partners. E porquê? A resposta não é simples, mas há alguns fatores que explicam esta resistência.
Por um lado, existe ainda uma grande lacuna em literacia digital. Muitas empresas desconhecem as aplicações práticas da IA no seu setor e acabam por vê-la como algo complexo ou inacessível – um luxo reservado às grandes multinacionais. Outras, mais tradicionais, encaram esta tecnologia com desconfiança, receando que venha a desestabilizar o status quo.
Apesar de os custos estarem a baixar, a implementação da IA continua a exigir um investimento inicial significativo. Isto torna-se um entrave para muitas PME, que, além de terem menos margem financeira, nem sempre conseguem perceber o real retorno da tecnologia a médio e longo prazo. E depois há outro problema incontornável: a falta de talento especializado. O país precisa urgentemente de mais engenheiros de machine learning, cientistas de dados e outros especialistas que dominem esta área. Sem eles, muitas empresas não têm capacidade para desenvolver soluções internamente e acabam por depender de fornecedores externos, mais dispendiosos para o dia a dia das empresas de pequena e média dimensão, que optam pelo custo de oportunidade de deixar a IA à porta.
Mas nem tudo são más notícias, o futuro parece brilhante para a IA em terras lusas, já que Portugal apresenta alguns casos de sucesso nacionais. Empresas como a SoundParticles (software developer de som 3D), a Lovys (plataforma de seguros 100% digital), a Glartek (software developer de realidade aumentada para a indústria), a BHOUT (startup que combina tecnologia e a prática de boxe) e a SPEAK (plataforma que conecta migrantes e locais através da língua e cultura) integraram a IA no seu ADN desde o primeiro dia. Para estas empresas com sede em Leiria, a Inteligência Artificial é mais do que uma ferramenta adicional – é o motor do seu modelo de negócio. E os resultados estão à vista: cresceram, inovaram e mostraram que a IA não é só para as multinacionais, dando o exemplo a quem quer vir a seguir. Por outro lado, as ferramentas de IA generativa, com a sua simplicidade, vão entrando no dia-a-dia das empresas, sejam pequenas, médias ou grandes, permitindo aumentar a produtividade de trabalhadores em muitas tarefas.
Ainda assim, a responsabilidade de impulsionar esta mudança não pode recair apenas sobre as empresas e startups. O Estado e as instituições académicas precisam de entrar em campo com incentivos fiscais, políticas públicas e um forte investimento na investigação e formação de talento.
A Inteligência Artificial já não é uma tecnologia do futuro – é uma realidade do presente. E Portugal tem tudo para se destacar nesta área, para além de Leiria. Mas, para isso, não podemos continuar a andar a passo de caracol. É hora de acelerar.