Nunca o nosso consumo tecnológico foi tão elevado e nunca o seu impacto foi tão forte no meio ambiente. É mais fácil compreender os efeitos nefastos deste consumo olhando para a produção de telemóveis, computadores e outros dispositivos do nosso dia a dia; mas não esqueçamos, por exemplo, os eletrodomésticos, que em 2020 representavam 52,7% dos equipamentos eletrónicos recolhidos na Europa, num ano em que foi recolhido o equivalente a 10,3 quilos de resíduos por habitante da UE.
Da nossa relação tóxica com a tecnologia, talvez os comportamentos no mundo virtual sejam os menos escrutinados. A má notícia é que há algo que todos estamos a fazer, diariamente, por vezes de forma massiva, e que contribui altamente para a nossa pegada carbónica: o simples envio de mensagens de correio eletrónico. Talvez por ser um ato virtual, criamos a ilusão de que a comunicação digital não causa impacto no ambiente, o que não corresponde de todo à verdade
Só em 2019, a correspondência digital foi responsável pela produção de cerca de 150 milhões de toneladas de CO2 equivalente no mundo. Dependendo de vários fatores, em especial da eficiência dos servidores, cada e-mail pode ter um custo ambiental médio de 0,03 a 26 gramas de CO2, calcula o professor e investigador Mike Berners-Lee no livro How bad are bananas – the carbon footprint of everything. Portanto, lembra-se daquele e-mailque dizia apenas «obrigado» e que foi enviado com o conhecimento de três pessoas? É um exemplo de comportamentos que talvez valha a pena rever.
O consumo energético é o elemento fulcral da poluição digital. A cada ano, os servidores de todo o mundo produzem mais de 900 mil milhões de toneladas de CO2, ou seja, 3,7% das emissões globais de gases poluentes. A pegada total dos servidores já ultrapassa a pegada dos transportes aéreos; e se pensarmos na cloud como um país, esta já é o quinto consumidor mundial de eletricidade. Alguns estudos estimam que, em 2030, a Internet consumirá 20% da energia do mundo.
Se tinha dúvidas, pode dissipá-las: a comunicação digital está, definitivamente, a influenciar a sua pegada carbónica e a da sua empresa. E se cada e-mail importa, importa também sensibilizar os colaboradores para um conjunto de práticas e comportamentos sustentáveis no meio digital, a chamada Green IT.
Gestos tão simples como limpar o lixo digital esquecido nos seus dispositivos (apps sem uso, e-mails desnecessários, fotografias e vídeos duplicados) podem realmente fazer a diferença no consumo energético mundial. Veja-se o exemplo da iniciativa Digital Cleanup Day, que em março juntou cerca de 400 mil pessoas de 108 países com o objetivo de apagar 4 milhões de gigabytes de dados. O resultado foi a redução das emissões de 1,7 milhões de quilos de CO2.
Apagando ficheiros obsoletos, também prolongamos o tempo de vida dos nossos dispositivos e criamos hábitos digitais mais saudáveis. Uma das sugestões do Digital Cleanup Day é passar a trabalhar em espaços abertos de cowork ― e não terá de enviar mais e-mails para dizer «obrigado» a alguém!