A Rows, startup de origem alemã cofundada pelo português Humberto Ayres Pereira, atual diretor executivo, lançou uma nova ferramenta de análise automática de tabelas com base em Inteligência Artificial (IA). O AI Analyst, como é apelidado, está integrado diretamente na plataforma de folhas de cálculo, que é um concorrente direto de sistemas como o Microsoft Excel e o Google Sheets.
E o nome da nova ferramenta não foi escolhido ao acaso. Se na Rows já existia um sistema que funcionava como assistente – para permitir, por exemplo, importação de dados através de comandos escritos –, a empresa sublinha o carácter de análise de dados da nova funcionalidade. “O nosso sistema analisa o que está a acontecer. Ele vai olhar para os meus dados e automaticamente gera conhecimento, estatísticas e conclusões sobre aqueles dados”, explica o CEO.
Numa demonstração do novo sistema, a Rows usou uma tabela com dados de performance de campanhas publicitárias em redes sociais. A partir daí o sistema foi capaz, sozinho, e mesmo antes de o utilizador lhe fazer qualquer pergunta, de gerar conclusões que o analista considera serem relevantes dado o contexto (como a tipologia das palavras usadas nas diferentes colunas): quanto foi gasto no total nas campanhas, qual a taxa de conversão das campanhas, qual o custo médio de cada clique e qual a campanha mais bem sucedida, entre outros elementos.
Em entrevista à Exame Informática, Humberto Pereira garante que o sistema de análise funciona da mesma forma e demora o mesmo tempo a processar a informação caso a tabela tenha 20 linhas ou 20 mil. O processamento da informação por parte do motor de Inteligência Artificial, feita pelo GPT da OpenAI (o sistema de linguagem que está por trás do famoso ChatGPT), apenas demora mais na análise mediante a complexidade (nº de colunas, por exemplo) que a tabela apresenta.
“[Este sistema] É para toda a gente que faz análise de dados e importa dados diretamente para uma folha de cálculo. Retira a primeira inércia de [o utilizador] ir buscar conclusões aos dados. Esta versão funciona só em cima de tabelas e depois vamos estender isto para gráficos”, adianta Humberto Ayres Pereira.
O Rows AI tem ainda uma função de análise aprofundada que permite, por exemplo, encontrar padrões através da análise de dados ao longo de um determinado período de tempo.
Zero liberdade
Tratando-se de um sistema de Inteligência Artificial que gera conhecimento e resumos, sobre os quais é suposto serem tomadas decisões, quão confiáveis são as análises feitas pelo analista da Rows? Totalmente confiáveis, segundo Humberto Ayres Pereira. O executivo explica que quando é feita uma integração com o GPT da OpenAI, o programador tem a oportunidade de definir o nível de liberdade do sistema na forma como deve analisar e gerar texto. No caso da Rows, a liberdade dada aos modelos de linguagem é praticamente nula, o que significa que as respostas só terão em conta os dados e os textos inscritos na tabela, não sendo usada qualquer outra informação para gerar as respostas.
Além disso, para dar um maior nível de confiança aos utilizadores, será possível pedir ao sistema que revele a fórmula usada para os diferentes cálculos que fez, até para que o utilizador a possa replicar, no futuro, noutras situações em que precise de fazer um cálculo semelhante. “Posso copiar a conclusão, mas também posso copiar a fórmula que ele usou”, destaca o CEO da Rows.
Graças ao sistema de IA, o utilizador também pode fazer questões, por escrito, ao analista, para encontrar outras respostas além daquelas que o próprio algoritmo considerou relevantes. O Rows AI suporta português, ainda que Humberto Ayres Pereira admita que é mais eficaz com instruções feitas em inglês (algo que está diretamente relacionado com a forma como o GPT foi treinado). Em alternativa, pode simplesmente carregar num botão e gerar outras conclusões sobre os mesmos dados. “O truque daquilo que nós desenvolvemos é o nosso analista de IA que consegue traduzir as perguntas sobre os dados e até já fez perguntas antes [de o utilizador perguntar]. E em vez de ser ele a calcular essas métricas, ele traduz isso no nosso código e nós computamos esses cálculos. Nós conseguimos dividir aquilo que é a responsabilidade de gerar perguntas e interpretar perguntas, e depois calcular as tabelas”, refere o líder da Rows.
Ou seja, a componente de fazer os cálculos é desenvolvida pela Rows, o sistema de IA da OpenAI é responsável apenas por traduzir esses resultados em algo que o utilizador consegue perceber. “O ser humano é preguiçoso, podia extrair dez conclusões, mas só extrai três. O nosso objetivo é encurtar o tempo que demora a gerar e a chegar a conclusões”, adianta.
À semelhança de outras ferramentas de IA que são atualmente populares, o objetivo da Rows é continuar a adicionar funcionalidades ao analista de IA. Além da capacidade de analisar gráficos, no futuro a startup pretende que o sistema ajude ainda mais os utilizadores. Além de tirar conclusões sobre os dados, também dirá ao utilizador o que deve fazer para concretizar determinados objetivos – por exemplo, como aumentar o alcance das publicações nas redes sociais.
“Nós sendo uma startup, temos o trabalho giro de pensar como é que as coisas vão ser mais à frente”, resumiu o responsável.