
Por uma vez, a Nuix saiu da discrição: foi esta empresa australiana que desenvolveu uma ferramenta essencial para ajudar os jornalistas que participaram no projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas de investigação (ICIJ) a analisarem o enorme volume de dados que compõe os denominados Panama Papers. De acordo com a Reuters, a Nuix doou o software de análise para o consórcio de jornalistas e órgãos de comunicação com o objetivo de facilitar a deteção de relações entre as várias operações descritas em mais de 2,6 TeraBytes de e-mails, imagens e PDF que foram extraídos da sociedade de advogados Mossack Fonseca, do Panamá.
Angela Bunting, líder da Nuix, não enjeitou a oportunidade de reclamar o feito quando chegou a hora de ser entrevistada pela Reuters: «O que nós fizemos foi criar as condições para o ICIJ fizesse algo que não conseguiria fazer em meses ou anos».
O caso dos Panama Papers é revelador de uma nova ferramenta de apoio a jornalistas: depois de terem procedido à digitalização de um arquivo com mais de 40 anos (e que contém revelações do caso Watergate, dos anos 1970), os membros do ICIJ ficaram em condições de usar o software para as já banalizadas pesquisas por termos, e também para usar ferramentas que detetam padrões, relações entre ocorrências distantes no tempo e no espaço, entre outras funcionalidades que distinguem as plataforma de do denominado “big data”.
A Nuix contribuiu com o fornecimento da ferramenta – mas manteve-se alheada de todo o processo, desconhecendo mesmo a existência e o teor dos Panama Papers. O que exigiu que alguém com conhecimentos técnicos fizesse a descrição técnica dos recursos necessários para fazer correr um processo de dimensão equivalente, antes da cedência e respetiva configuração da ferramenta de análise de dados.
Além dos jornalistas, também é possível encontrar outras profissões entre os potenciais utilizadores da Nuix. Hoje, a empresa sedeada em Sidney, fornece soluções para as Nações Unidas e serviços secretos dos EUA, entre outras entidades governamentais que já recorreram à análise de dados para desmontar redes de pedofilia, tráfico humano e evasão fiscal.