Mais de 20 mil pessoas de vários pontos do mundo juntaram-se, nos últimos tempos, ao denominado Estado Islâmico. O número supera largamente o total de recrutas estrangeiros que a guerra do Afeganistão registou nos anos 1980 – e a capacidade de persuasão da Internet poderá estar relacionada com o sucesso das campanhas de captação de jovens soldados da organização terrorista.. É neste contexto que surge o software Advanced Crime Analytics da Wynyard. A empresa britânica garante ter criado as ferramentas necessárias para detetar, na Internet, tentativas de recrutamento de organização terrorista. O que permitirá atuar antes dos jovens ou adultos seguirem viagem para a Síria ou para o Iraque.
O software da Wynyard opera com base em repositórios de dados recolhidos junto de contas de Twitter, publicações em blogues, ou mesmo sites de partilha de ficheiros. A esta informação são adicionados dados relativos a comunicações processadas por e-mail, telemóvel ou computadores.
Todos estes dados são analisados por um algoritmo capaz de “compreender” os textos publicados na Web e estabelecer relações que indiciam um potencial recrutamento. No final, a informação é apresentada através de um interface gráfico que reflete uma rede de suspeitos jihadistas e recrutas. De acordo com a NewScientist, as análises da plataforma da Wynyard também podem ser refinadas através da análise levada a cabo por investigadores dos serviços secretos que poderão, a qualquer momento, ampliar a visão sobre cada um dos nós da rede e tentar obter mais informação sobre cada uma das pessoas que estabeleceu relações com esses nós.
Estará a plataforma da Wynyard a ser usada na atualidade? A própria marca não indica que serviços de inteligência recorrem na atualidade a este software de análise de padrões na Internet. A NewScientist questionou os serviços secretos britânicos e o FBI, dos EUA, mas não obteve qualquer resposta sobre o assunto.
A Internet acelerou substancialmente os processos de persuasão e recrutamento de potenciais soldados radicais e o uso de software que analisa as diferentes comunicações na Net pode representar um ganho de tempo – mas não é a solução definitiva: num evento especializado na temática que se realizou em Londres, houve quem recordasse o caso de um suspeito radicalista que já tinha criado 140 contas de Twitter, na sequência dos vários bloqueios de que foi alvo. O que confirma que a tecnologia pode não ser suficiente para mudar mentalidades.
Jonathan Russell, membro do grupo de especialistas antiterrorismo da Fundação Quilliam, lembra que o combate à propaganda dos radicais islâmicos não se pode limitar à identificação de suspeitos ou à censura de conteúdos na Net: «(as plataformas de análise de conteúdos) Não tentam saber por que é que as pessoas querem ir (para o denominado Estado Islâmico). Apesar de estar a favor do uso destas soluções, não hesito em lembrar que estamos a descurar outras estratégias de contra-narrativas».