Emmett Shear, cofundador e líder da Twitch até março deste ano, foi a pessoa escolhida para liderar temporariamente a OpenAI, depois do despedimento do anterior diretor executivo, Sam Altman. Já o cofundador da OpenAI está mesmo de saída da empresa que liderou durante oito anos e vai juntar-se à Microsoft, tecnológica na qual vai liderar uma nova equipa de desenvolvimento e investigação em Inteligência Artificial (IA).
Este é, por agora, o resultado de um fim de semana muito agitado na OpenAI e repleto de reviravoltas. Vale por isso a pena fazer um pequeno recapitular dos acontecimentos.
Um fim de semana de negociações
Na sexta-feira à noite, no horário português, Sam Altman foi inesperadamente despedido da OpenAI. Em solidariedade, Greg Brockman, presidente do conselho de administração da tecnológica, demitiu-se. As saídas de dois dos principais rostos da startup (e do mundo da IA no geral) provocou uma verdadeira ‘onda de choque’ no mundo da tecnologia, inclusive num dos maiores investidores da OpenAI, a Microsoft, que só soube das saídas um minuto antes de a informação ser tornada pública (apesar de já ter investido na empresa mais de 10 mil milhões de dólares). Mira Murati, até então diretora de tecnologia da OpenAI, passou a ocupar o cargo de CEO interina (ou seja, temporariamente).
No sábado, nova reviravolta. A OpenAI tentou negociar com Sam Altman e Greg Brockman o regresso à empresa. Mas segundo várias publicações norte-americanas, os executivos até admitiam voltar, mas o conselho de administração atual teria de sair. As negociações para o regresso, que terão sido lideradas por Mira Murati, prolongaram-se até domingo. Depois chegou a decisão: Mira Murati deixaria o cargo de CEO (que ocupou menos de 72 horas), Emmett Shear seria o novo CEO da OpenAI e Sam Altman estava definitivamente fora da empresa.
Mas a história não acaba aqui. A Microsoft anunciou a contratação de Sam Altman e Greg Brockman, que vão liderar uma nova equipa de investigação de tecnologias de Inteligência Artificial na gigante norte-americana. Numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter), Satya Nadella, líder da Microsoft, disse que a empresa espera disponibilizar os recursos necessários aos dois novos elementos para que possam começar o trabalho. Além disso, Nadella referiu que os dois juntam-se à Microsoft “juntamente com colegas”, o que dá a entender que mais elementos da OpenAI vão seguir caminho para a empresa responsável por tecnologias como o sistema operativo Windows, o motor de busca Bing e as ferramentas de produtividade Office 365.
Apesar desta ‘aposta’ em várias figuras da OpenAI, a Microsoft garantiu que continua comprometida com o investimento feito na startup de Inteligência Artificial.
Uma oportunidade única
Emmett Shear é conhecido no mundo da tecnologia por ter sido o fundador da plataforma de transmissão de vídeos em direto Twitch, que vendeu em 2014 à Amazon por mil milhões de dólares. O executivo manteve-se à frente da empresa até março deste ano, altura em que se demitiu. Apesar de referir que a demissão da Twitch foi uma decisão tomada a propósito do nascimento do seu primeiro filho, a saída de Emmett Shear da plataforma coincidiu com uma fase na qual a empresa protagonizou (à semelhança de outras grandes tecnológicas) duas grandes vagas de despedimento. Mas isso são águas passadas.
“Recebi uma chamada na qual me convidaram a considerar uma oportunidade única na vida: ser o diretor executivo interino da OpenAI. Depois de consultar a minha família e refletir apenas algumas horas, aceitei”, escreveu Shear na rede social X. “Aceitei este trabalho porque acredito que a OpenAI é uma das empresas mais importantes que existem atualmente”, acrescentou, dizendo estar consciente do estado de tumulto no qual a empresa se encontra.
Enquanto novo CEO, Emmett Shear já estabeleceu três prioridades: contratar uma empresa independente para investigar todo o processo que levou ao despedimento do anterior executivo; manter uma comunicação constante com funcionários, parceiros e investidores sobre a situação da empresa; reformular a equipa de direção para responder às saídas de pessoas em cargos de chefia.
“A estabilidade e o sucesso da OpenAI são demasiado importante para permitir que a agitação a perturbe desta forma”, sublinhou ainda o novo líder da empresa.
OpenAI, a empresa do momento
A OpenAI é uma das mais proeminentes tecnológicas do momento. A empresa, especializada em sistemas de Inteligência Artificial, lançou no final do ano passado o ChatGPT, um assistente digital que é capaz de interpretar e escrever texto com uma qualidade próxima à de um humano. O sucesso deste produto de Inteligência Artificial generativa, que já tem mais de 100 milhões de utilizadores por semana, gerou uma verdadeira corrida pelo lançamento de ferramentas de IA generativa, incluindo por gigantes como a Google e a Microsoft.
Além do ChatGPT, a OpenAI tem lançado outras ferramentas baseadas em Inteligência Artificial que provocaram ‘choques’ na comunidade tecnológica pelas avançadas capacidades das ferramentas. São exemplos o Dall-E, que consegue transformar comandos de texto em imagens, e o Copilot, que é capaz de gerar código de programação também com uma qualidade semelhante à dos humanos.
O grande passo para a ribalta da Inteligência Artificial foi dado em 2018, quando a startup lançou o seu primeiro grande modelo linguístico (large language model, LLM, no original em inglês) denominado GPT (transformador generativo pré-treinado, em tradução livre). Este sistema melhorou dramaticamente a capacidade de um sistema para reconhecer e gerar, por meio de texto, a forma como os humanos comunicam, a chamada linguagem natural. Esta é a tecnologia que está na base do ChatGPT. Atualmente, o LLM da OpenAI já vai na quarta grande versão, tendo sido recentemente anunciado o GPT-4 Turbo e confirmado que o GPT-5, com capacidades de “superinteligência”, já está em desenvolvimento.