É a segunda vez em menos de seis meses que um alto responsável europeu do TikTok vem a Portugal. Desta vez foi Emer Cassidy, líder de políticas de produto da tecnológica na Europa, Ásia e Médio Oriente (EMEA), quem veio a Lisboa para apresentar, num encontro com a imprensa, as novas funcionalidades de controlo parental da plataforma. Mas no final foram várias as mensagens fortes deixadas pelos responsáveis da plataforma. Uma delas relacionadas com o bloqueio do qual o TikTok está a ser alvo em alguns países.
O TikTok tem estado sob forte escrutínio na Europa e já foi, inclusive, banido de dispositivos de governantes nos principais órgãos políticos da União Europeia e em países como França e Noruega, devido a receios de segurança pelo facto de a dona do TikTok (a Bytedance) ser uma empresa chinesa. A tecnológica diz que, em Portugal, “até agora não há uma proibição oficial nos dispositivos dos membros do Governo”, sublinhou Adela Leka, responsável de comunicação do TikTok para Portugal, Itália e Grécia. “Nós, enquanto empresa, na Europa e em Portugal, temos todo o prazer em colaborar, partilhar mais detalhes (…) e endereçar as preocupações [dos governos]”, sublinhou a porta-voz da empresa.
O TikTok tem ainda sido alvo de várias críticas ao longo dos últimos meses, sobretudo pela forma como gere tópicos sensíveis, como o impacto da rede social no tempo que as pessoas, em especial os menores, passam na aplicação, na propagação de conteúdos potencialmente perigosos e na forma por vezes errada como faz a gestão dos dados pessoais dos utilizadores. Neste sentido a resposta da empresa tem sido apostar em cada vez mais funcionalidades para garantir uma utilização segura da rede social.
“As pessoas para quererem partilhar no TikTok, têm que sentir-se seguras e que podem partilhar em segurança. Temos 40 mil pessoas a moderar conteúdos, 24 horas por dia, sete dias por semana, em 70 idiomas. Temos diretrizes de comunidade que dizem o que podes e o que não podes fazer na plataforma”, sublinhou Emer Cassidy na apresentação à imprensa.
A mais recente funcionalidade permite aos pais, através da opção Acompanhamento Familiar, definir palavras-chave de conteúdos que não querem que seja mostrado aos seus filhos (as contas dos menores e dos adultos têm de estar vinculadas entre si para funcionar). “É uma ferramenta que permite filtrar, através de palavras e palavras-chave [hashtags], o feed dos mais novos. E todos os conteúdos bloqueados pelos pais, o adolescente consegue saber quais são. O objetivo é que isto permita gerar uma conversa”, detalhou Emer Cassidy.
O TikTok atualizou também, em abril, as políticas e termos de utilização da plataforma, tendo para isso contado com os contributos de mais de 100 especialistas e organizações que trabalham o tema da segurança na internet. A empresa diz que trabalha com parceiros em Portugal, com Emer Cassidy a indicar Ricardo Estrela, da Linha Internet Segura, e o projeto MiúdosSegurosNaNet, fundado por Tito de Morais, como parceiros na definição de novas medidas de proteção para menores.
A ‘luta’ para manter as crianças fora do TikTok
Um dos problemas que a plataforma tem enfrentado é, justamente, a criação de contas por pessoas com menos de 13 anos, a idade mínima definida pelo TikTok para que alguém possa ter um perfil na plataforma. Entre outubro e dezembro do ano passado, o TikTok removeu inclusive mais de 17 milhões de perfis de jovens com menos de 13 anos de idade.
Apesar desta luta constante, Emer Cassidy não explicou por que motivo a plataforma não tem ainda um mecanismo mais robusto de verificação de identidade na plataforma (como validação do bilhete de identidade, por exemplo) – atualmente, aos utilizadores basta meramente indicar uma data de nascimento alternativa para contornar o sistema (algo que, diga-se, é comum a outras redes sociais). “Estamos continuamente a evoluir a nossa abordagem para identificar contas abaixo dos 13”, respondeu Emer Cassidy sobre o tema.
A responsável detalhou, no entanto, que a data de nascimento indicada no ato de registo é aquela que fica para sempre associada ao perfil e que existe uma “aplicação contínua” da análise da idade dos utilizadores mesmo após a criação do perfil. “Analisamos o que as pessoas escrevem na biografia”, exemplificou a executiva. E se durante a revisão de um conteúdo (seja por denúncia, seja por deteção automática da plataforma), um moderador suspeitar que o utilizador tem menos de 13 anos, a conta é bloqueada (sendo depois possível submeter um recurso a protestar a decisão).
Moderação constante
Além de tentar impedir a entrada de crianças abaixo da idade permitida, o TikTok mantém uma gigantesca máquina para eliminar conteúdos maliciosos – violentos, discriminatórios ou de ódio, entre outros – de fora da plataforma. Segundo os dados que constam no mais recente relatório de transparência da empresa, foram removidos mais de 80 milhões de vídeos no último trimestre de 2022. Um número significativo mas que, num todo, corresponde a menos de 1% dos conteúdos carregados pelos utilizadores nesse período.
O TikTok revela ainda que 96,2% dos vídeos foram removidos de forma pro-ativa pelos sistemas automáticos e moderadores da plataforma, com 91,2% a serem removidos num período de até 24 horas depois da sua publicação.
Questionada sobre quantos moderadores de conteúdos o TikTok tem contratados em Portugal, a responsável por definir a estratégia das políticas de segurança da plataforma disse não saber quantos são, nem indicou sequer uma ordem de grandeza. A responsável justifica-se dizendo que este é um número variável, por exemplo, em função de eventos específicos.
“A maioria do conteúdo é moderada por tecnologia”, garante. “Todo o conteúdo do TikTok passa por uma moderação automática. E se a tecnologia não identificar nada, [o vídeo] entra na plataforma. Se identificar algum problema, pode enviar para um moderador ou bloquear logo. Os moderadores humanos são a segunda barreira. Há coisas que necessitam de mais contexto ou de uma análise com nuances”, concluiu a responsável.