Paul Furber, um sul-africano, é apontado como sendo o escritor original por trás do movimento QAnon. O programador, que foi um dos primeiros a chamar a atenção para o movimento das teorias da conspiração, terá depois perdido o controlo da conta para Ron Watkins, administrador do site 8kun (sucessor do 8chan), que passou a escrever as mensagens e a assinar com o pseudónimo Q. Duas equipas independentes usaram software de aprendizagem automática distintos para investigar traços linguísticos nas mensagens e chegaram às mesmas conclusões no que toca à identidade dos dois homens e identificam-nos como os mentores do movimento de teorias da conspiração.
A equipa suíça é constituída por dois investigadores da startup OrphAnalytics e usou software para desconstruir as mensagens de Q em sequências de três caracteres e monitorizou a repetição destas sequências. A equipa francesa treinou um algoritmo de Inteligência Artificial para identificar padrões no texto. Ambas limitaram a análise a publicações feitas nas redes sociais e afirmam que a dupla Furber e Watkins é a que mais provavelmente corresponde a serem Q, o nome pelo qual é conhecido o criador do movimento QAnon.
Florian Cafiero e Jean-Baptiste Camps, os investigadores franceses, explicam ao The New York Times que “no início, a maior parte do texto é de Furber”, com 98% de identificações corretas. Depois, com o passar do tempo, “a assinatura de Watkins aumenta durante os primeiros meses, à medida que a de Furber vai diminuindo até desaparecer completamente”, deixando entender que Watkins tornou-se progressivamente em Q.
Este tipo de metodologia já foi usado com sucesso, por exemplo, para identificar J. K. Rowling como autora do Cuckoo Calling, uma novela de ficção escrita em 2013 e assinada com o pseudónimo Robert Galbraith pela autora da saga Harry Potter. Outro exemplo de sucesso foi quando o FBI usou o método para identificar Ted Kaczynski como o Unabomber.
Furber e Watkins já reagiram às notícias negando serem Q. Os investigadores esperam que a identificação de Q sirva para o movimento perder força, lembrando que, apesar de não haver novas publicações de Q desde 2020, a população, sobretudo a americana, continua a alimentar as teorias da conspiração avançadas inicialmente.