O condutor que perdeu a vida estava demasiado confiante nas capacidades de condução autónoma do Tesla ( Autopilot). Walter Huang, programador da Apple, estava ao volante, mas distraído a jogar ao telemóvel e essa terá sido outra das razões para o acidente. A equipa do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB na sigla em inglês) conclui ainda que houve mais fatores a contribuir para o acidente mortal, como os danos que se verificavam no sistema de proteção da estrada. Os investigadores acusaram a Tesla de ter uma abordagem relaxada na mitigação dos casos de mau uso do Autopilot, criticaram a falta de regulamentação atual sobre o setor da condução autónoma e criticaram também a Apple por não ter uma política que regule as distrações ao volante provocadas por smartphones.
“Pedimos à Tesla que continue os seus trabalhos para melhorar a tecnologia de Autopilot e à NHTSA para cumprir a sua responsabilidade de supervisão para assegurar as ações corretivas sempre que necessárias. É tempo de parar de colocar condutores em quaisquer veículos parcialmente autónomos que fingem possuir carros sem condutores”.
Em março de 20218, Huang, o condutor que perdeu a vida, circulava numa autoestrada de Mountain View, Califórnia, a bordo do seu Tesla Model X. O veículo terá perdido a visão das marcações das faixas na estrada e começou a orientar-se pela marcação mais à direita, dirigindo-se depois em direção ao separador da via. A ausência de barreiras de proteção foi outra das causas para a fatalidade, noticia o The Verge.
Os investigadores revelaram 23 descobertas e produziram nove recomendações de segurança depois de terem analisado o incidente durante quase dois anos. Uma das descobertas é que o Autopilot tem um sistema de processamento de visão limitado, por se basear em câmaras, sensores ultrassom e um radar frontal. Esta limitação fez com que o carro se desviasse e o veículo já tinha apresentado a mesma tendência em várias situações nos dias anteriores ao do acidente. O próprio sistema colocado no volante e destinado a garantir que o condutor está a prestar atenção, mesmo com o Autopilot ligado, não terá tido o efeito desejado e o sistema de alerta de colisão não avisou atempadamente o condutor. Na realidade, o Model X terá mesmo acelerado a caminho da velocidade predefinida pelo condutor, não tendo detetado o obstáculo em frente.
Entre as nove recomendações não há nenhuma dirigida à Tesla. A NTSB pede que os reguladores e autoridades governamentais produzam legislação efetiva para regular a condução autónoma, supervisionem os testes conduzidos pelos fabricantes e redefinam as grelhas de avaliação empregues atualmente.
O presidente da NTSB, Robert Sumwalt, aproveitou a sessão de apresentação para lamentar a falta de resposta da Tesla a várias preocupações levantadas pelo organismo. A Volkswagen, a Nissan e a BMW responderam rapidamente às perguntas sobre os seus sistemas autónomos e sobre as medidas colocadas em prática para evitar más utilizações, mas “infelizmente, um fabricante ignorou-nos e esse fabricante é a Tesla (…) Pedimos que todos nos respondessem em 90 dias. É tudo o que pedimos. Mas passaram 881 dias desde que o documento foi enviado para a Tesla e não ouvimos nada de volta”, disse Sumwalt.