Depois de perder o cargo de CEO por ordem dos tribunais, Pedro Sinogas perdeu igualmente os 52% do capital que detinha na Tekever. Ao que a Exame Informática apurou, a perda da participação do acionista maioritário foi determinada por um denominado mecanismo de amortização, que foi acionado pela própria empresa, na sequência de três processos na justiça que levaram ao arresto dos bens de Pedro Sinogas e de empresas para onde se suspeita que o ex-CEO tenha desviado cerca de 10 milhões de euros.
Com a saída de Sinogas, a Tekever passou a ser detida pelos outros dois sócios fundadores, ambos com 50% do capital: Ricardo Mendes, que assumiu o cargo de CEO depois do litígio iniciado com Sinogas, e Vítor Cristina, que é o líder pela área tecnológica da empresa que se tem destacado com o fabrico de drones.
Os processos de arresto impedem a venda ou qualquer tipo de movimentação ou usfruto dos bens abrangidos até que a Justiça apure as reais responsabilidades de Pedro Sinogas no que toca à acusação de desvio de fundos da Tekever. Num primeiro processo que levou à suspensão de Sinogas enquanto CEO, o Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa havia detetado gastos alegadamente indevidos num carro, obras de arte e férias de luxo, entre vários levantamentos que aparentemente contrariaram as melhores práticas de gestão.
Quando a Exame Informática publicou a primeira notícia sobre este assunto, Pedro Sinogas justificou a perda do cargo de CEO como resultado de uma «estratégia» de Vítor Cristina e Ricardo Mendes.
O ano de 2018 é considerado de má memória para aquela que será a startup portuguesa mais bem-sucedida do setor aeroespacial, tendo no currículo a participação em projetos de diferentes agências espaciais, bem como o desenvolvimento do primeiro satélite integralmente português e missões de patrulhamento para a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA). Além do diferendo entre os três sócios que começaram a projetar a empresa quando ainda eram alunos do Instituto Superior Técnico (IST), a folha contabilística da empresa registou no ano passado um prejuízo de 3,5 milhões de euros, face a uma faturação de cerca de oito milhões de euros.
No final de 2019, o período de «arrumação da casa», que teve início com a entrada de um novo diretor financeiro e novas regras de controlo de investimentos e receitas, já deverá produzir efeito: entre os líderes da empresa há expectativa de fechar o ano com uma faturação de 15 milhões de euros e um lucro de dois milhões de euros.
«O nosso objetivo é entregar mais produtos e serviços durante o ano de 2020, mas admitimos poder vir a encontrar parceiros estratégicos que nos ajudem a fazer crescer a empresa», refere Ricardo Mendes, recusando fazer qualquer comentário sobre o litígio em tribunal com Pedro Sinogas.