Stefano Cobello, Coordenador da Rede “Polo Europeu do Conhecimento” e mentor do projeto Robótica contra o Bullying, veio a Lisboa participar na conferência STEM: Robótica Educativa e explicar como é que pretende lançar um projeto em 10 estados-membros (Portugal incluído) com o objetivo de usar robôs na erradicação do bullying em ambiente escolar.
Quando é que o projeto vai arrancar?
O projeto vai arrancar em janeiro de 2020, uma vez que já foi aprovado pela Comissão Europeia. Vamos começar por organizar três cursos para professores sobre como a robótica pode evitar o bullying em grupos de diferentes idades. Estamos a trabalhar nestes três cursos em articulação com a Clementoni Europa, e estamos a preparar uma edição especial com informação que temos vindo a desenvolver, com o objetivo de promover novas atitudes nas salas de aula e criar um exemplo que poderá ser usado pelos professores para evitar o bullying. Teremos de desenvolver algumas recomendações e medidas para os nossos governantes poderem implementar novas estratégias de combate ao bullying, ou outras problemáticas sociais…
Que problemáticas?
Por exemplo, a exclusão. Ou o individualismo. Estamos essencialmente a trabalhar com valores sociais. Para nós, todos são iguais em termos de qualidade. Não queremos que apareçam uns génios que ganham tudo, mas queremos que os alunos de um grupo se ensinem uns aos outros, a fim de criarem um ambiente em que toda a gente gosta de aprender.
E não é preciso ensinar nada sobre bullying?
Os próprios miúdos vão começar a trabalhar em ideias sobre bullying e ciberbullying… e através de alguns itens que disponibilizamos vão criar as suas ideias para resolver este problema. Queremos que os miúdos estejam atentos ao problema e que encontrem dentro do grupo soluções para estes problemas, antes que aconteçam.
É isso tipo de trabalho que têm feito em Itália?
Começámos há três anos. Começámos com formação para professores. Fornecemos-lhes robôs para uso nas salas de aulas, para que percebam este problema. Os miúdos não sabem o que é o bullying, mesmo se alguma vez já fizeram maldades… mas acabam por perceber o que está em causa através dos jogos. É nesse momento que percebem as suas atitudes. Costumamos dar como exemplo um miúdo que se chama Andrea, que era um miúdo cheio de problemas, que estava no primeiro ano da escola, e que percebeu a atitude que tinha através do trabalho feito com os robôs. No final do ano estava muito calmo a brincar com os colegas de turma e sem os problemas que lhe eram conhecidos. O jogo passava por libertar o agressor. E o jogo exigia que se descrevesse o agressor. Logo, o rapaz começou a perceber como deveria comportar-se de forma correta.
Mas para isso não são necessários robôs!
Sim, mas os robôs são atrativos, e são um prémio para quem joga. O tempo em que se distribuía conhecimento (às crianças) já passou. As crianças têm de conseguir aprender por si próprias; aprendem a fazer coisas. Damos-lhes alguns meios e eles vão atrás de algum conhecimento. O processo de aprendizagem torna-se muito mais rápido. Se nos limitarmos a dar-lhe os conteúdos eles podem aceitá-los ou recusá-los – porque nós somos adultos. No nosso caso (dos robôs) há uma educação entre pares e eles ensinam-se entre eles. Cada um desses grupos e cada criança tem um papel específico – e portanto ninguém fica de fora. E cada papel é criado para deixar a pessoa como orgulhosa.
E por isso o vosso projeto segue o lema de Cooperação, Solidariedade e…
… Educação entre Pares. Chamamos a isto ambiente de aprendizagem por proximidade.
E quando acabam as aulas com os robôs… volta o bullying?
A atitude certa é levar os miúdos ajudarem-se mutuamente. Quando o problema se torna comum a todos, então o grupo tem de encontrar soluções juntos. E fazem-no porque querem jogar. E assim aprendem línguas, matemáticas, história, e criam as suas aulas sobre matemática, história e línguas. Fazem isto sozinhos e não precisam de mais ninguém.
Esse método pode ser aplicado mesmo quando não há robôs?
Sim. Até pode ser um robô de papel. As crianças têm fantasia. Até podem ser os dinossauros que aparecem nos filmes. Eles podem criar este tipo de brinquedos… mas os robôs podem ser muito atrativos, divertidos, inteligentes, rápidos e alegres. O robô é um brinquedo que atrai atenção. Não é o principal foco. A educação é que é o principal foco.
Como é que o projeto vai ser implementado na UE?
Já tivemos uma experiência de três anos em Itália. Agora temos mais três anos. Começamos com professores de 10 estados-membros, mais a Clementoni como parceira.
Este projeto não pode ser levado a cabo com robôs de outras marcas?
Mas este projeto tem por base o estudo em robôs especiais. Não queremos que as crianças se foquem na programação, mas sim nos brinquedos para aprenderem enquanto jogam. Se uma pessoa se focar na programação chega a um determinado nível porque é essa a intenção. Os professores podem fazer o que quiserem, mas nós temos o interesse de criar aulas que podem ser distribuídas em todo o mundo, e que mostram o que o robô pode fazer para resolver um problema. Porque há uma questão de empatia. Um miúdo que veja um robô a resolver um problema ganha a noção de que pode resolver esse problema também. Claro que continua a haver casos de bullying, mas o grupo diz para parar e lembra o agressor que está a fazer bullying, e que é algo que não querem que aconteça. Os alunos fazem o estudo da vítima. De alguma forma, as vítimas tendem a ser atrativas; mas neste caso saíram reforçadas com poder. As vítimas mudaram a atitude depois de o grupo dizer o que deveria fazer. Temos professores preparados e formadores. Já estivemos em Espanha a formar 80 professores sobre o tema robótica contra o bullying.
Quantos professores serão envolvidos na Europa?
Se contarmos não só com professores, mas também com alunos, contamos chegar aos milhares de pessoas envolvidas. Neste momento, já contamos com 4000 instituições envolvidas em Itália. Mesmo que sejam só 500 entidades noutros países… ou que apenas usem os robôs durante um mês… o que importa é criar espaço para a criatividade. O bullying assume muitas variações. Se uma pessoa escrever: «tu és estúpido», ou mandar a mesma imagem 20 vezes, isso já pode ser bullying. Não queremos que eles lutem; queremos prevenir (o bullying); queremos que o grupo compreenda que excluir é bullying; que substituir alguém que é lento a fazer as coisas é também um tipo de bullying.