Donald Trump juntou-se esta semana ao Twitch, a plataforma de streaming que pertence ao império da Amazon, como estratégia para promover a sua campanha de reeleição para a Casa Branca em 2020. Esta é uma das plataformas que gamers de todo mundo mais usam para fazer e ver streamings de videojogos e a primeira transmissão em direto aconteceu esta quinta-feira à noite, durante um comício em Minneapolis, no estado do Minnesota.
De acordo com o The Wall Street Journal, uma porta-voz da plataforma de streaming confirmou que o canal é oficial e será usado para fazer as próximas transmissões da campanha de Donald Trump.
Curiosamente, em agosto deste ano, Bernie Sanders, senador do partido Democrata americano, criou também um canal na Twitch através do qual transmitiu alguns vídeos dos comícios que tem vindo a organizar e atualmente tem já 88700 seguidores. Nas primeiras 24 horas de existência o canal recebeu cerca de 20 mil assistentes.
Segundo a publicação The Verge, a primeira transmissão feita pelo canal do senador de 77 anos do estado de Vermont aconteceu na noite em que se realizou o primeiro debate do partido Democrata para a campanha presidencial de 2020. Mas esta não foi a estreia da política americana na plataforma, pois em julho de 2018 já Andrew Yang, também candidato à presidência pelo partido Democrata, tinha dado os primeiros passos nas transmissões diretas online.
À mesma publicação, Josh Miller-Lewis, diretor de comunicações digitais de Bernie Sanders, contou que «esta é mais uma oportunidade para angariar o potencial do apoio de uma audiência à qual podemos não estar a chegar». Continuou dizendo que «o objetivo (dos Democratas) no Twitch é não só informar as pessoas do que estamos a fazer na campanha diariamente e o que o Bernie faz, mas também ouvir o que o público tem a dizer e integrar a sua opinião no processo político.»
Não é por acaso que os políticos se têm cada vez mais focado nas plataformas digitais e redes sociais. Aliás, é por saberem que existe uma grande camada jovem (potenciais votantes) online que têm vindo a reforçar a presença política em nichos que à partida não envolvem discussões políticas, como, por exemplo, as comunidades de videojogos online.
No caso específico do Twitch, de acordo com as declarações de uma porta-voz da plataforma ao The Wall Street Journal, não é permitido que sejam comprados ou vendidos espaços publicitários diretamente relacionados com matérias políticas. É-lhes, no entanto, permitido que redirecionem ou indiquem aos utilizadores outros métodos para fazerem doações, ergo, PayPal.
A qualquer altura do dia, o Twitch tem em média 1,3 milhões de utilizadores a utilizar a plataforma e, por dia, recebe mais de 15 milhões de pessoas, sendo que, na sua esmagadora maioria, a plataforma é utilizada pelos internautas com a finalidade de ver outros jogadores a jogarem videojogos ou a competirem em diferentes modalidades de eSports.
Recorde-se, no entanto, que a relação do atual presidente dos Estados Unidos da América com os videojogos tem tido os seus altos e baixos, mesmo que agora esteja a tirar partido de uma das plataformas de streaming de videojogos mais famosas da atualidade.
No passado mês de agosto, após os tiroteios em massa no Texas e no Ohio, Donald Trump acusou a indústria dos videojogos de «glorificar a violência na nossa sociedade» e urgiu para a gravidade de permitir que «adolescentes problemáticos pertençam a uma cultura que celebre a violência.»
Aliás, já é uma tendência no seu mandato apontar o dedo a esta indústria, pois após o tiroteio que ocorreu o ano passado numa escola secundária de Parkland, na Florida, em que morreram 17 pessoas, o presidente norte-americano reuniu na Casa Branca com alguns membros da indústria do gaming e grupos que se opõem à violência nos videojogos, para discutir o problema.
Contudo, esta semana o ataque à sinagoga de Halle, na Alemanha, foi transmitido em tempo real na Twitch por cinco utilizadores. A empresa norte-americana conta que ao todo o conteúdo foi visto por cerca de 2200 pessoas antes de ser removido e garante que não foi mostrado em qualquer lista de recomendações ou diretório, ainda que a sua divulgação tenha sido feita maioritariamente através do serviço de mensagens instantâneas da plataforma.
Num comunicado de imprensa, a Twitch reforçou ter «uma política de tolerância zero contra condutas de ódio e qualquer ato de violência é levado muito a sério. Trabalhamos com urgência para remover o conteúdo e vamos suspender permanentemente qualquer conta que publique ou republique o conteúdo deste ataque abominável.»
No início deste ano, uma situação semelhante ocorreu com os tiroteios nas mesquitas de Christchurch, na Nova Zelândia, em que o perpetrador dos ataques recorreu a diferentes plataformas (Facebook, YouTube e Twitter) para divulgar as gravações que fez dos seus crimes.
Rapidamente tornou-se viral na Internet e, nas 24 horas após o ataque, a Facebook informou, através da sua conta de Twitter, que removeu cerca de milhão e meio de cópias do vídeo original que tinham sido publicadas noutras páginas. No entanto, a ação foi apenas levada a cabo após as autoridades neozelandesas terem alertado a rede social de que o assassino recorreu ao serviço de streaming da plataforma para divulgar os ataques.
Num comunicado de imprensa, o vice-presidente da Facebook, Chris Sonderby, contou que o vídeo foi visto aproximadamente quatro mil vezes antes de ser apagado e que só 29 minutos após o início do streaming é que os utilizadores fizeram soar os alarmes da rede social.