Uma coligação militar liderada pelos EUA deixou um rasto de destruição na Síria, mais concretamente em Raqqa. As forças militares envolvidas admitem apenas 10% das mortes, mas uma investigação exaustiva da Amnistia Internacional e da Airwars conclui que houve mais de 1600 mortes e mais de 11 mil edifícios destruídos como resultado de milhares de ataques aéreos conduzidos pelos EUA, França e Reino Unido, entre junho e outubro de 2017. Além destes, houve registo de outros milhares de ofensivas de artilharia só das forças norte-americanas. O objetivo dos militares passava por destituir o Estado Islâmico no poder, que acusavam de crimes de guerra, contra a Humanidade, tortura e assassinato de qualquer oposição.
O estudo foi conduzido por investigadores no terreno, que passaram dois meses a analisar mais de 200 locais alvos de ataques aéreos e a entrevistar mais de 400 testemunhas e sobreviventes. Além deste esforço no local, a Amnistia Internacional lançou o projeto Strike Trackers, que permitiu identificar quando é que mais de 11 mil edifícios foram destruidos. Para este estudo, contribuiram 3100 ativistas digitais em regime de voluntariado, a partir de 124 países. Segundo o comunicado de imprensa, Portugal surge no top 10 desta lista. Estes voluntários analisaram imagens captadas durante os ataques e vídeos dos locais antes e depois dos bombardeamentos. Os investigadores compararam diversos fluxos de informação e cruzaram os nomes de mais de mil vítimas com os nomes que foram sendo recolhidos nas entrevistas no terreno.
O site interativo que foi preparado, em Strike Trackers, explica que qualquer pessoa com ligação à Internet e um telemóvel ou um computador pode tornar-se um voluntário e ajudar a analisar fotografias, vídeos e imagens de satélite. Ao todo, esta equipa de voluntários dedicou mais de quatro mil horas a realizar este trabalho.
As organizações partilharam as suas conclusões com os militares, que acabaram por reconhecer apenas 159 mortes como resultado dos ataques, alegando que as restantes conclusões não seriam credíveis.
O estudo continua descrevendo ataques que dizimaram prédios completos, matando dezenas de pessoas e famílias completas de uma só vez. O repto final é que os membros da coligação admitam responsabilidades, sejam transparentes sobre as táticas e meios de ataque, escolha dos alvos e que precauções foram tomadas no planeamento e execução. Por fim, é feito o apelo de que seja criado um fundo de auxílio às vítimas e famílias afetadas.