Em dia de balanço e projeção de novos projetos, Pedro Guedes de Oliveira, coordenador Global da Iniciativa Incode2030 traça o primeiro retrato da iniciativa governamental de combate à infoexclusão e de reforço de competências digitais da população nacional.
Já é possível fazer um primeiro balanço do Incode2030?
É possível fazer um balanço não de resultados, mas sim de mobilização. A mobilização é importante. Esta área é tão vasta que não pode ser apropriada por ninguém. Ou se mobiliza a população ou esta iniciativa não funciona. O balanço da mobilização é francamente positivo. Neste momento apenas podemos reportar aquilo que coordenamos, mas iniciativas diversas da sociedade civil, das empresas, das universidades… sobre a Inteligência Artificial ou a Indústria 4.0. Tudo isso contribui para que haja mais sensibilização – e isso sente-se nos jovens. Nos cursos para os técnicos especialistas nos politécnicos aumentou 30% nestas áreas. O que é muito significativo. O facto de termos 12% dos estudantes terem escolhido estas áreas para estudar é muito relevante. Estamos a falar de 5500 jovens que se candidataram tendo as tecnologias digitais como primeira opção. Há, claramente, uma perceção a nível de especialistas e dos jovens para a importância que estas áreas têm. E há também uma quantidade de buzzwords, entre as quais, a Inteligência Artificial (IA)é uma das que mais atrai a atenção…
A IA é o próximo grande desafio a superar na AP…
Não se trata apenas de garantir um aumento da qualidade dos serviços prestados pela AP; trata-se também de tirar partido da grande quantidade de dados que se encontram na AP e de os tratar de maneira inteligente para produzir resultados. Foi muito importante a mobilização dos centros de investigação universitários para olhar para situações concretas e apresentarem projetos, e não menos importante foi a disponibilidade de órgãos da AP, muitas vezes vilipendiados, para disponibilizar dados ou saber fazer as perguntas para chegar a resultados. Muitas vezes, fazer perguntas é o mais difícil de se fazer. Estou a falar de 19 projetos (de IA na AP) – e muitos outros, que também são bons, ficaram de fora.
Será que os cinco eixos do Incode2030 estão a evoluir de forma homogénea?
Não, mas estes cinco eixos são apenas uma forma de organização. Na verdade, estes eixos não são disjuntos. Podemos ver o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) como uma entidade que trabalha em questões básicas de literacia com desempregados. Vemos que a educação liga a inclusão às coisas a jusante do ensino superior. Estes eixos são muito diferentes; mobilizam gente diferente e competências diferentes; mobilizam órgãos diferentes, quer sejam entidades privadas ou públicas; e além disso mobilizam populações diferentes. Trabalhar numa aldeia com populações idosas e dar acesso a ferramentas que permitem marcar uma consulta no centro de saúde, ou fazer uma comunicação por Skype com um filho que está em França não é a mesma coisa que pegar em miúdos de seis ou sete anos e começar a introduzi-los nas questões digitais. Há uma coisa que é muito importante: melhorar as qualificações da população num prazo alargado, e olhando para a plenitude das coisas em que é preciso mexer e que passam por ter mais pessoas mais aptas para usar as tecnologias, porque sem as pessoas usarem (serviços digitais) não há AP desmaterializada… se as pessoas não usarem não adianta. Já estou aposentado… mas, para mim o que é mais atrativo, é que tudo isto representa claramente uma opção global estratégica, por parte do governo e das entidades públicas, de olhar para estas coisas num período longo e com uma amplitude larga.
Quando é que conseguiremos à infoexclusão zero?
Infelizmente, essa é das tais coisas que acontecem com o tempo… até porque, geralmente, são os mais velhos os infoexcluídos. É um pouco como o analfabetismo… já tratámos de fazer com que todas as populações jovens sejam alfabetizadas, e estamos a tratar de que todas as populações jovens tenham um mínimo de competências digitais. É algo que vai evoluir no tempo. É absolutamente impressionante a evolução registada nos últimos tempos. A própria natureza acaba por fazer parte do seu trabalho, mas não podemos esperar que os mais idosos morram e nós não façamos nada para combater a infoexclusão…
Não se quer comprometer com uma data?
… Em 2030 (risos)!