É um país a duas velocidades: no ano letivo de 2017/2018 cerca de 5500 jovens portugueses escolheram como primeira opção de acesso ao Ensino Superior um curso na área das tecnologias, e telecomunicações. O que perfaz 12% do total de candidatos. Estes números levam a crer que, paulatinamente, a escassez de mão de obra qualificada que afeta o setor das tecnologias poderá vir a ser superada, mas não escondem uma realidade menos animadora: 22% da população nacional foi colocada à margem da corrida às tecnologias – ou melhor, é vítima de infoexclusão. Estes e outros indicadores constam do primeiro relatório de balanço da iniciativa Incode2030 e foram alvo de debate numa conferência realizada esta quarta-feira em Lisboa, com a participação dos ministros da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, da Modernização Administrativa, e ainda da Educação e das Infraestruturas.
Como a Exame Informática informou numa recente entrevista a Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, o programa Incode2030 vai ser reforçado com um investimento de 23 milhões de euros, que serão repartidos por cinco eixos de atuação: inclusão, educação, qualificação, especialização e investigação.
Em menos de um ano de atividade (o Incode2030 só foi formalizado em fevereiro de 2018), a iniciativa já conta com alguns números para apresentar: no ano letivo passado quase 65 mil alunos participaram em formações e atividades de robótica e programação. Através de 10 centros de competências nas áreas das tecnologias foram formados mais de 8000 professores.
O relatório revela ainda 8314 projetos escolares com vista a gerar parcerias de colaboração através da Internet com escolas europeias. Cerca de 4000 alunos tiveram a possibilidade de aprender matemática no telemóvel e 12 mil assistiram a formações na área da cibersegurança, enquanto mais de 30 mil pessoas deram resposta aos desafios SeguraNet.
Destaque ainda para um dado apurado pelo relatório de balanço do Incode2018: cerca de oito por cento dos trabalhadores da Administração Pública precisa de fazer formação numa área tecnológica, revelam os resultados do exame de autodiagnóstico em que participaram 8074 profissionais de entidades estatais.
Na abertura da conferência de balanço e projeção do Incode2030, Maria Manuel Leitão Marques, ministra da Presidência e da Modernização da Administrativa, recordou os propósitos sociais desta iniciativa governamental. «Não podemos deixar ninguém para trás».
A ministra lembrou que o combate à infoexclusão não se faz apenas através da pirâmide etária, que tem vindo a deixar os mais velhos fora da evolução tecnológica, mas também pela via de políticas de igualdade de acesso ao mercado trabalho entre géneros. «Temos de perceber o porquê das escolhas das mulheres», disse a ministra na hora de lembrar que o género feminino ainda é minoritário em profissões relacionadas com as tecnologias que, por sinal, «são muito bem remuneradas».