Os conhecidos 15 minutos de fama podem não ser só 15 minutos. E ninguém garante que não se transformam em má fama. Anas Modamani, sírio que tem vivido na Alemanha com o estatuto de refugiado, pretende provar isso mesmo em tribunal com um processo interposto contra a Facebook. O motivo? As fake news que uma simples selfie pode gerar.
Em 2015, Modamani encontrava-se alojado com outros refugiados em Berlim. Até que chegou um dia especial, com a visita da Chanceler Angela Merkel ao abrigo de refugiados. Modamani não quis desperdiçar a oportunidade – e abeirou-se de Merkel para uma selfie. E num ápice Modamani iniciou a contagem dos denominados 15 minutos de fama ao ser catapultado para as primeiras páginas de jornais e para os filmes do dia nos telejornais. Não tardou muito para que o refugiado sírio acabasse mesmo por tirar partido da fama e ser acolhido por uma família alemã.
Final feliz? Nem por isso. Em declarações à CNN, Anas Modamani explica que, passados cinco meses na sua “nova vida”, tudo se alterou: em Bruxelas, um atentado vitima 35 pessoas e fere muitas outras dezenas. E Modamani, um dos dois rostos simbólicos da solidariedade europeia, logo foi usado como bandeira da intolerância.
No Facebook e no Twitter vários posts apontavam-no como um terrorista, que lograra tirar uma selfie junto da chefe de governo mais poderosa da UE. O refugiado sírio diz mesmo ter sido identificado, eventualmente por algumas das notícias falsas (as tais fake news), como sendo Najim Laachraoui, um dos operacionais que terá estado envolvido nos ataques do auto-intitulado Estado Islâmico em Bruxelas. Também houve quem, deliberadamente e sem qualquer intenção de aparentar fidedignidade das imagens, chegasse a usar a selfie em fotos do camião que foi usado no ataque que matou 12 pessoas em Berlim, pouco antes do Natal passado.
Se dependesse só do refugiado sírio, a imagem já teria saído das redes sociais há muito tempo – e foi com esse propósito que Modamani deixou de disponibilizar a imagem nas redes sociais e solicitou ao Facebook que eliminasse variações, derivados e ou maus usos que foram proliferando ao longo do tempo, como arma de arremesso político de quem está contra a vinda de refugiados, ou imigrantes em geral, para a Europa.
O pedido poderá ter sido aceite pela rede social, mas as medidas tomadas pelo Facebook não terão sido suficientemente eficazes. E agora o jovem refugiado anuncia um processo contra a maior das redes sociais, exigindo o uso de algoritmos que permitam eliminar automaticamente as imagens abusivas da selfie que juntou para posteridade uma chanceler alemã e um refugiado sírio, que pouco mais tinha que um telemóvel para enfrentar o mundo.
A Facebook já reagiu reiterando que cumpre a legislação alemã. À CNN, um representante oficial da rede social refere ainda: «Já eliminámos rapidamente o acesso a conteúdo que foi denunciado adequadamente pelos representantes legais de Modamani, e por isso achamos que este processo não é necessário e não é a forma mais efetiva para resolver esta situação».
O julgamento começou hoje – mas só em março deverá conhecer-se um veredito.