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À frente de uma bancada cheia de placas e chips, Cláudio Rodrigues não regateia explicações a quem quiser conhecer a mais recente inovação made in Aveiro. Fora da Altice Labs, poucos o conhecerão. Dentro dos laboratórios, é apresentado como o “homem que criou o NGPON2”. Cláudio Rodrigues faz a devida emenda: «O NGPON2 foi criado por várias pessoas de várias equipas». Independentemente do espírito de equipa e da repartição da autoria, há um dado que não merece discussão: a NGPON2 foi desenhada para disponibilizar 80 Gbps tanto em upload como em download sobre redes de fibra ótica. Na Altice Labs, a solução que multiplica por 32 a largura de banda da fibra é descrita como «única no mundo». Cláudio Rodrigues lembra que a evolução tecnológica não parou e aponta para um pequeno chip fotónico que reúne metade da capacidade hoje disponibilizada por uma placa da NGPON2: «É um projeto que estamos a trabalhar para os próximos dois ou três anos». Nessa altura, é possível que já ninguém confunda a Altice Labs com a PT Inovação.
Não é a primeira vez que os laboratórios de investigação de Aveiro mudam de nome. Em 1950, a unidade estreia-se com o nome de Grupo de Estudos de Comutação Automática (GECA); em 1972 passa para Centro de Engenharia de Telecomunicações; em 1999 tornou-se PT Inovação; e em 2015, é a vez de se tornar Altice Labs, devido à aquisição da PT pela Altice. Aquando da compra não faltou quem augurasse o fim do braço tecnológico da operadora que, entre outras coisas, desenvolveu as soluções associadas ao Meo Go ou às pequenas caixas que permitiram levar Internet sobre ADSL para zonas remotas do País.
Alexandre Fonseca, recém-empossado líder dos laboratórios, aproveita uma conferência com jornalistas para dissipar dúvidas: A Altice Labs, que outrora foi GECA, CET, e PT Inovação, vai ser também o «quartel-general» das operadoras do grupo Altice. Os números descrevem a relação de forças: nos laboratórios de Aveiro há 650 engenheiros; nos laboratórios da Altice em Israel, França, República Dominicana e EUA não deverão ser muito mais de 350, que deverão trabalhar em complementaridade, adaptando soluções aos mercados locais ou acrescentando inovação ao que sai do «quartel-general».
Alexandre Fonseca não se coíbe de dizer ao que vem: «queremos ser líderes em todas as geografias. Para isso, temos de ter qualidade e inovação e ser extremamente eficientes a nível operacional».
Quanto custa manter os Altice Labs? O CTO não responde, mas reitera que os laboratórios são geradores de receita. E apresenta as três “velocidades” com que a unidade de inovação da Altice se vai fazer à estrada: uma projeção que tem por horizonte temporal o ano de 2016 e que é dominada pela aposta na rede de fibra ótica, postos de pagamentos, conectividade entre máquinas e sistemas de gestão de redes; uma segunda que vai de 2017 a 2018 e que tem como objetivos a Internet das Coisas, o Big Data, a automação de processos, e as redes físicas e virtuais; e por fim, uma terceira previsão que compreende 2019 e 2020 e que envolve as cidades inteligentes, a domótica, os objetos inteligentes, o 5G ou as novas gerações de redes de fibra ótica.
O CTO da Altice Labs logo esclarece que o plano não é obra de um homem só: «recebemos contributos das várias áreas do grupo Altice».
A nova Altice Labs vai passar a funcionar com um núcleo central de inovação, que gere não só o que é feito nos quatro laboratórios situados no estrangeiro, como também cinco departamentos internos: sistemas de redes, controlo de redes e plataformas de serviços; sistemas de operações de suporte; Internet; e desenvolvimento de negócio. É neste último departamento que se encontra a venda de soluções para operadores, e fabricantes de telecomunicações. O CTO da Altice Labs admite que o grupo Altice deverá ter prioridade na aplicação das mais recentes inovações, mas sublinha que pretende manter os negócios dentro e fora do grupo «meio por meio», a fim de garantir um equilíbrio entre as necessidades de um operador que pretende distinguir-se da concorrência e as soluções que não enjeita vender aos concorrentes.
A visita aos laboratórios permite confirmar que muito do que foi a PT Inovação por ali continua: Os equipamentos de testes à resistência ao calor e à chuva, ao ruído e às cargas de processamento; o desenho dos dispositivos que funcionam como terminais óticos e routers das redes de fibra (120 mil unidades vendidas nos EUA) ; o desenho de redistribuidores de sinal ótico para dentro das casas dos consumidores, e até um protótipo do primeiro telemóvel 4G, que está acoplado a uma mochila de campismo com umas antenas curiosas em cima e que suscita sorrisos às visitas que se deparam com um vislumbre do passado. Pelo contrário, o Sapo, também deram como certo de regresso a Aveiro, deverá manter-se em Lisboa, informaram ontem os responsáveis da Altice.
Muitas das inovações que hoje espantam acabarão por seguir a mesma evolução caricatural que só o tempo pode dar. E muitas haverá que nunca sairão da gaveta. Em média, são necessários três protótipos até chegar a uma solução definitiva – que poderá ser produzida em massa por empresas em regime de outsourcing (a Altice Labs tem um acordo com uma fábrica nacional, mas não descarta recorrer ao estrangeiro se for necessário).
Nas suas novas funções, Alexandre Fonseca sabe que grande parte do seu sucesso passa pelo equilíbrio entre a «aplicação de uma percentagem das receitas em inovação e novas tecnologias» que têm permitido os operadores manter-se na linha da frente e as condicionantes de uma unidade de investigação, que como todas as outras do género, também «cria coisas que nunca vão ver a luz do dia». Tudo leva a crer que não será esse o destino do Centro de Dados da Covilhã: «Há uma clara aposta em usar o data center da Covilhã como um polo de prestação de serviços», confirma Alexandre Fonseca.