
No último mês, a página biográfica de Marcelo Rebelo de Sousa na Wikipédia teve mais de 200 alterações – até que no dia 12 de janeiro, com o período oficial de campanha eleitoral ainda no início, um dos internautas decidiu classificar de «fascista» Baltasar Rebelo de Sousa, ministro do Estado Novo e pai do atual candidato a presidente da República, que merece uma breve menção naquela página da enciclopédia online. Foi a gota de água que faltava para que os editores da Wikipédia portuguesa decidissem bloquear a página biográfica de Marcelo Rebelo de Sousa.
O bloqueio da edição vigora até 26 de janeiro e limita as alterações aos editores que tenham uma conta com mais de dois dias outenham já contribuído com mais de 10 alterações em textos publicados na Wikipédia.
Até à próxima terça-feira, nenhum internauta que se identifique apenas com o número de IP ou que tenha uma conta com menos de dois dias e 10 edições não poderá alterar a página do ex-comentador da TVI. «A proximidade das eleições costuma levar ao aumento da participação nos artigos relativos aos candidatos e nem sempre é feita da forma mais saudável», explica João Miguel Vasconcelos, presidente da direção da Wikimédia Portugal, apontando uma razão para o aumento de edições e consequente bloqueio da página do candidato presidencial.
Os números são reveladores da participação gerada pelo clima de campanha eleitoral: entre a 2005 e a atualidade, a página de Marcelo Rebelo de Sousa contou com mais de 500 edições – sendo que as últimas 200 ocorreram entre dezembro e janeiro. «As pessoas baralham ou confundem um pouco o que é informação e o que é opinião, e propõem coisas que não deveriam ser publicadas», acrescenta o João Miguel Vasconcelos, numa alusão a algumas edições que não são aceites.
Atualmente, a Wikipédia dispõe de mecanismos que detetam boa parte das participações consideradas agressivas. Além da monitorização automática, os textos apresentados nesta enciclopédia que pode receber contributos de qualquer internauta tenta dão prevalência a versões consideradas mais «estáveis» ou a fontes consideradas credíveis. O que tem como consequência a eliminação de edições que, aparentemente, não são mal intencionadas e até correspondem à realidade.
Analisando as alterações efetuadas à página de Marcelo Rebelo de Sousa é possível descobrir não só termos agressivos ou associados ao vandalismo, como também algumas questões associadas à vida familiar do candidato presidencial (exemplo: uma alteração de pormenor que ajuda a perceber por que é que Marcello Caetano, o último presidente do Conselho de Ministros do Estado Novo, não foi padrinho do célebre professor de direito e ex-comentador da TVI). Também são notórias várias atualizações que acabam por enriquecer a biografia do candidato com informação relativa ao passado, ou que dão conta das movimentações políticas da atualidade.
É possível que o bloqueio de edição possa ser levantado antes do prazo definido, caso se verifique que as disputas em torno da página de Marcelo Rebelo de Sousa acalmaram.
Uma coisa é certa: os editores que não foram abrangidos pelo bloqueio deverão atualizar a página com os resultados eleitorais do próximo domingo. E neste caso há apenas três opções: derrota, passagem à segunda volta ou vitória à primeira volta.
Se os números apresentados pela Wikipédia valessem como indicadores de popularidade, Marcelo Rebelo de Sousa estaria agora perante um duelo renhido com… Sampaio da Nóvoa, o candidato presidencial que reúne o apoio de parte do PS. É que Marcelo Rebelo de Sousa lidera nas edições de página, enquanto a página de Sampaio da Nóvoa lidera com 22.824 visualizações em janeiro – contra 14.512 visualizações do professor de direito no mesmo período.