![SydneySiege_elitedaily-800x400.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/2946599SydneySiege_elitedaily-800x400.jpg)
Duas selfies ao pé do recente sequestro de Sidney
![alterada1.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/2946762alterada1.jpg)
Uma selfie com a combinação rara de WC, toca branca, óleo de origem duvidosa, nudez, óculos de mosca e imagem tremida
![0102-fish-brown-2.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/29466010102-fish-brown-2.jpg)
Nem todos os beijos são românticos
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A gravidez é um momento de extrema beleza, mas não neste o caso
![alterada2.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/2946763alterada2.jpg)
Ummm… e que tal não publicar esta foto?
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A questão é: aquele púcaro voltou a aquecer chá?
![alterada4.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/2946765alterada4.jpg)
Talvez a idade explique
![fc02c5aadc93fe2bc7698013bc9c96ce__550_413_fitwidth__span.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/2946606fc02c5aadc93fe2bc7698013bc9c96ce__550_413_fitwidth__span.jpg)
Não,um funeral não é um concerto
![jessica-simpson-selfie.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/2946607jessica-simpson-selfie.jpg)
Por baixo daquela máscara, encontra-se Jessica Simpson
![alterada5.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/2946766alterada5.jpg)
Luana Piovani mostra uma borbulha e também o sítio onde guarda intimidade
Domenica Mendes
![alterada6.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/2946767alterada6.jpg)
Kim Kardashian, desta vez, em versão vermelha viscosa
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A selfie da selfie
Não há propriamente uma ciência exata que ensina a tirar uma selfie. Um pouco de bom-senso e de genuidade talvez cheguem para evitar 99% dos casos pouco edificantes, mas há que ter em conta 0,9% dos casos em que o imprevisto, o enquadramento e o cenário traem o sentido artístico e as boas intenções. Subtraídos estes 99,9%, ficam apenas os 0,1% em que, regra geral, o mau gosto é óbvio – menos para os protagonistas das fotos – e que por vezes chega mesmo a ter efeitos trágicos (não são raros os danos físicos e mesmo mortes causadas em selfies arriscadas ou irresponsáveis).
O fenómeno – ou moda – tem evoluído à boleia de duas grandes tendências: a proliferação de telemóveis com câmaras; e as redes sociais que disseminam essas fotos. O bom senso diz que não é por ser possível tirar uma foto na sanita que essa foto na sanita vai “funcionar bem”; mas por algum motivo insondável a arte do “possível” suplanta o bom senso – e o resultado muitas vezes é a chacota generalizada. O que levanta a questão: será que os retratados veem ao menos as fotos antes de as publicar na Web?
Um exemplo recente: no perímetro de segurança imposto pelas autoridades australianas, durante o sequestro de Sidney, houve quem aproveitasse para tirar uma foto junto ao aparato. Porquê? Essa será a questão que vale um milhão de dólares para os sociólogos que se dedicarem ao tema.
Por que há de um cidadão comum interromper o ramerrame de casa-trabalho para se mostrar ao mundo junto ao aparato policial? É difícil acreditar que seja uma razão altruísta ou uma qualquer solidariedade com a tragédia que tomou de assalto pessoas inocentes; e também é difícil acreditar que se trata de uma indómita vontade de testemunhar um acontecimento importante para a sociedade – a ser assim, o autor da selfie não teria necessidade de se mostrar, sobrepondo-se ao que realmente alarma a sociedade. Poderá ser só estupidez; ou, o que é mais provável, apenas não pensar no significado daquela foto – mas dificilmente se o autorretratista se livra da acusação de narcisismo.
Na Internet, não é preciso vasculhar muito para concluir que é um filão longe de esgotar – e não seria de admirar que um dia alguém se lembrasse de criar uma app de aconselhamento que indica aos autorretratistas de que “aquela foto” a comer banana talvez possa ser sugestiva de mais.
Uma coisa é certa: os denominados famosos não dispensam a ambivalência desta moda. Mais um exemplo: Barack Obama, o primeiro presidente negro dos EUA, destacou-se na cerimónia fúnebre de Nelson Mandela, o último dos heróis do século 20 e o primeiro presidente negro da África do Sul depois de 27 anos de prisão, ao contracenar com a primeira-ministra dinamarquesa numa selfie.
Pode ter sido um momento de descontração a que todos os seres humanos livres têm direito, mas o impacto mediático foi muito além do desrespeito pelo protocolo ou pelo decoro. No final terá havido quem questionasse o grau de intimidade de Obama e da governante, deixando a figura de Mandela (o tal senhor que não aceitou ser libertado enquanto o Apartheid não terminasse) para um segundo ou terceiro planos. Pior: há uma grande probabilidade de, dentro de 100 anos, quase ninguém saber da tal selfie de Obama, mas haverá muita gente que sabe quem foi Nelson Mandela – mais que não seja porque o desrespeito pelos direitos humanos poderá estar longe de ter terminado e será necessário procurar inspiração no passado. O que não invalida o aparecimento de outra moda: hoje, abundam as selfies em funerais com o rosto do defunto como cenário. Um ato, que mesmo que corresponda ao último desejo de quem partiu, não deixa de ter um gosto duvidoso.
Para quem tem como ídolo Kim Kardashian ou Jessica Simpson tudo é diferente. Nestes casos, a selfie presta-se à idolatria positiva e à idolatria negativa. A positiva: que leva milhares ou milhões de pessoas a seguirem os passos das celebridades. A negativa: que leva milhares ou milhões de pessoas a seguirem os passos das celebridades para depois se rirem ou dizer mal. Ambas são lícitas, mas no final importa não esquecer a máquina industrial que está por detrás. Kardashian tira uma foto borrada com um creme vermelho viscoso? Provavelmente, está a promover o creme viscoso que alguém quer vender, além de estar a promover a Kardashian que alguém quer vender como produto mediático. Há algum mal nisto? É proibido? É uma desonestidade? Não, faz parte da liberdade que levou Mandela e muitos outros seres maiores que as respetivas vidas a lutar contra a injustiça social.
Na sociedade perfeita, as selfies continuarão a existir – apenas deixarão de ser estúpidas ou arriscadas. Nessa altura, o Google deixará de dar sugestões de pesquisa worst moms selfies – e as respetivas crianças serão poupadas a cenas pouco felizes e estarão sujeitas a menos riscos para a integridade física.
Nesta lista, pode descobrir algumas das selfies que foram tiradas ou publicadas em 2014. Algumas são de famosos. Outras são de famosos só pelas selfies que tiraram.