Uma equipa de investigadores dedicou anos a tentar perceber a razão pela qual alguns supermicróbios são imunes a antibióticos. Os cientistas colocaram o problema ao “Co-cientist”, uma ferramenta de Inteligência Artificial da Google, e o algoritmo demorou apenas dois dias a chegar a um conjunto de soluções semelhantes.
O professor José R. Penadés conta a experiência à BBC, explicando que as conclusões do estudo, que demorou anos a ser concluído, ainda não tinham sido publicadas, pelo que estavam fora do domínio público e o sistema de IA da Google não as poderia ver. O investigador fez um pedido conciso ao assistente de IA e ficou abismado ao ver o sistema a precisar de apenas dois dias para chegar às mesmas conclusões a que a equipa de cientistas humanos chegou ao cabo de anos de trabalho. “Escrevi um email à Google a perguntar ‘Têm acesso ao meu computador, não têm?’”
O que ainda impressionou mais Penadés é que o sistema não só propôs uma hipótese que coincidiu com a sua, como ainda avançou quatro outras que também fazem sentido no contexto do problema: “E uma delas, em que nunca tínhamos pensado, estamos efetivamente a trabalhar nela”.
O tema que a equipa quer ver esclarecido tem a ver com a forma como podem surgir alguns supermicróbios que são imunes a antibióticos. A resposta teórica a que chegaram é que alguns destes desenvolvem uma ‘cauda’ que lhes permite espalharem-se por diferentes espécies, com essas caudas a funcionarem como ‘chaves’ que lhes permitem passar de casa para casa ou de hospedeiro em hospedeiro. Sem que ninguém da equipa tenha partilhado a sua conclusão sobre as ‘caudas’, o algoritmo da Google forneceu a mesma explicação em apenas 48 horas de trabalho.
“Sinto que isto vai mudar a Ciência definitivamente. Estou perante algo espetacular e estou muito orgulhoso por poder fazer parte disto. É como ter a oportunidade de jogar num palco grande – sinto que estou finalmente a jogar na Liga dos Campeões com isto”, congratula-se Penadés.