Percorremos o trilho de terra por entre uma pequena floresta de silvas, urtigas, flores selvagens, ervas aromáticas, couves. São quase três da tarde e está um calor abafado que leva a que os poucos visitantes desta pequena selva se escondam do sol num dos recantos protegidos pela vegetação mais alta, em assentos de rede, estrategicamente colocados. Uma garça real dá o ar da sua graça e poisa num mini-lago, a meio do jardim Anna’s Tuin & Ruigte, um espaço de permacultura, com um hectare, localizado no Science Park, onde está a Universidade de Amsterdão. O nosso guia durante esta visita ao campus, que junta laboratórios de investigação, salas de aula, escritórios de startups e também de empresas como a Microsoft, é Fernando Pascoal Santos, especialista em Inteligência Artificial e professor na universidade holandesa desde 2021.
Depois de um mestrado e doutoramento na área da computação, feitos no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, Fernando, que nasceu na Guarda, passou dois anos nos Estados Unidos, num pós-doutoramento em Princeton. Apanhado pela pandemia, quis regressar à Europa e então concorreu a uma posição na Universidade de Amsterdão, que conquistou. Desde o doutoramento que o professor e investigador se interessa por questões relacionadas com a cooperação entre indivíduos. E por isso, nos EUA, integrou um grupo de Biologia e Ecologia, no qual se estuda a forma como decorrem estas interações entre indivíduos e a sua evolução ao longo do tempo. Tudo a partir de modelos teóricos, em que a base matemática assenta na Teoria dos Jogos que estuda, e caracteriza, as decisões tomadas pelos jogadores e o impacto que estas têm na comunidade em que se inserem. Quando se diz jogador, também nos podemos estar a referir a um agente da bolsa de valores, um cidadão inserido na sua comunidade ou um utilizador das redes sociais.
Um parque onde cabe quase tudo
No Science Park, em Amsterdão, convivem realidades muito diferentes. Nos 800 hectares coexistem a Universidade de Amsterdão, incubadoras de empresas acabadas de nascer e também grandes multinacionais, como a Microsoft, laboratórios de investigação e até um jardim de permacultura aberto à comunidade educativa e aos cidadãos das redondezas. Um edifício com uns trinta andares e sem uma única janela alberga um dos maiores centros de armazenamento de dados da Europa. Num ambiente em que predominam os edifícios envidraçados, com o telhado coberto de plantas, contentores pintados de cores vivas estão convertidos em escritórios.