Erina Brown, investigadora da Universidade de Strathclyde, assume que “pode parecer um contrassenso que façamos reciclagem de plásticos para proteger o ambiente, mas acabemos por aumentar um problema diferente e potencialmente mais perigoso”. A académica conduziu o estudo numa instalação de reciclagem de plásticos (que permanece anónima) e conclui que as múltiplas lavagens a que o plástico é sujeito acabam por gerar partículas de microplásticos, em fragmentos com dimensões inferiores a cinco milímetros e que, se não forem captadas, acabam por ir parar ao sistema de abastecimento de água das cidades.
Nesta fábrica concretamente estavam a ser instalados filtros capazes de apanhar partículas com mais de 50 mícrones (um mícron é um milionésimo de metro), pelo que a equipa conseguiu mesmo fazer um retrato do antes e depois da colocação destes filtros.
Mesmo com os filtros colocados, os microplásticos que se escapam e podem acabar nos canos podem chegar a até 75 mil milhões de partículas por metro cúbico de água. Por outras palavras, recorrer à reciclagem de plásticos para salvar o ambiente pode acabar por contribuir para piorar a situação.
Judith Enck, presidente da Beyond Plastics, citado pelo Ars Technica, considera que “isto prova o facto de que os plásticos fundamentalmente não são sustentáveis”. Já Kara Pochiro, porta-voz da Association of Plastic Recyclers dos EUA, considera que “as instalações de reciclagem trabalham juntamente com as entidades municipais para assegurar que as águas residuais estão conforme a capacidade e qualidade exigidas pelas estações de tratamento” e que o processo está completamente regulado pelas autoridades.
Pela positiva, a aplicação do sistema de filtragem ajuda a baixar este volume de microplásticos gerado: antes destes filtros, o volume chega a 3200 toneladas, enquanto depois dos filtros aplicados fica-se pelas 1500 toneladas, por instalação.
Uma das falhas deste estudo é que só olhou para os microplásticos com até 1,6 mícrones. Abaixo disso, na escala dos nanoplásticos, a poluição não foi contabilizada e os investigadores admitem que deve haver muitas destas partículas também.
O âmbito completo do problema ainda não é conhecido também porque a equipa analisou apenas uma instalação de reciclagem, ficando a faltar um estudo mais abrangente e exaustivo.