Bastam cem segundos para um computador quântico desencriptar códigos que num computador clássico tardariam mais do que a idade do universo. Estas máquinas ainda não estão disponíveis comercialmente, mas estão prestes a saltar dos laboratórios para o mercado e é preciso estar preparado. Instituições bancárias, agências governamentais e também cada um de nós, utilizadores de Internet banking, adeptos de compras online e por aí fora. Tudo isto pode estar em causa no chamado mundo pós-quântico. “Quando falamos de tecnologia quântica temos de distinguir entre os computadores quânticos, que estão a ser desenvolvidos, com grande investimento de muitos países, e as questões relacionadas com a defesa, que têm como objetivo a proteção de infraestruturas críticas das ameaças quânticas”, nota o empreendedor austríaco Werner Strasser, fundador da empresa de armazenamento seguro Fragmentix, participante num simpósio internacional sobre cibersegurança organizado pelo Ministério da Defesa, Instituto de Telecomunicações e Deimos Engenharia, que decorreu em Oeiras em setembro.
Na base de funcionamento dos computadores quânticos estão fenómenos físicos como a sobreposição – uma propriedade verificada ao nível das partículas subatómicas, que podem estar em diferentes estados em simultâneo, o que amplifica de forma extraordinária a capacidade de processamento. Uma das áreas de impacto mais imediato é precisamente a criptografia, como se pode ler num artigo publicado em julho na revista Nature: “As máquinas quânticas atuais ainda são rudimentares, mas assim que se tornarem suficientemente grandes, serão capazes de realizar certas tarefas de maneira exponencialmente mais rápida que os computadores comuns. Em particular, os computadores quânticos serão excelentes a decifrar as chaves secretas dos sistemas de criptografia mais usados atualmente.” É por isso que muitos governos de todo o mundo têm vindo a apostar em investigação nesta área – um investimento que vai muito além do interesse científico. “O que temos visto é que mesmo sem a computação quântica, há muito a fazer em termos de cibersegurança”, diz Werner Strasser. “Os decisores – governos, empresas, autarquias – estão preocupados e dispostos a investir para proteger os seus bens. Hoje a ciberameaça representa um novo tipo de insegurança para a qual não estamos preparados. A quântica é uma ameaça adicional”, diz o formador em ciência forense digital das Forças Armadas austríacas.