Tingting Gu, investigadora na Universidade de Purdue e no Instituto Gemológico da América, liderou a equipa que usou técnicas não invasivas para analisar diamantes raros encontrados numa mina do Botswana e publicou agora as suas conclusões. A mais interessante é a de que as inclusões neste diamante parecem evidenciar que há presença de água mais fundo na Terra do que se julgava até agora. Esta evidência pode vir a afetar o entendimento atual sobre os ciclos de água nas profundezas e sobre a forma de funcionamento das placas tectónicas.
Até aqui, os cientistas acreditavam que havia água até uma profundidade de 322 quilómetros no nosso planeta, até ao manto superior. Mais para baixo, no manto inferior mais denso, os minerais terão menos água. Este estudo, no entanto, revela que o diamante analisado ostenta sinais de um minério chamado ringwoodite que se forma em ambientes com pressão e temperatura elevadas. As condições de formação deste minério são tão raras que só foram encontradas, até 2014, numa amostra de meteorito. No nosso planeta, este material forma-se a profundidades entre os 410 e os 660 quilómetros, na região entre os mantos superior e inferior.
A equipa usou micro-espectroscopias de Raman e difração de raios-X para analisar o diamante do tipo IaB e, em vez de detetar os minérios esperados provenientes da zona de transição entre mantos, encontrou minerais típicos do manto inferior apenas. O diamante serviu de conservador e preservou as propriedades como as encontraríamos nas profundezas. A equipa estima que este mineral tenha origem a 660 quilómetros de profundidade na Terra e uma análise posterior sugere que o ringwoodite estivesse em processo de se quebrar para outro tipo de minérios, sugerindo que a água possa penetrar mais fundo, da zona de transição para o manto inferior, explica o Space.com.
A combinação de materiais nesta inclusão é verdadeiramente única, notam os autores. A descoberta pode vir a ter implicações na forma como entendemos atualmente o ciclo de água profundo, o ciclo de água entre a superfície do planeta e o interior profundo. “A linha temporal para o ciclo é na verdade muito maior se estiver a acontecer a uma profundidade maior”, explica Gu. Outro impacto irá acontecer na forma como é feita a modelação atual das placas tectónicas. A equipa espera que as descobertas possam ser incorporadas noutras investigações posteriores.