Uma equipa de cinco investigadores, liderada por um estudante do doutoramento em Biologia e Ecologia das Alterações Globais da Universidade de Lisboa, realizou um estudo nas ilhas Malvinas, no Oceano Atlântico, sobre o efeito da temperatura da água do mar na população de albatrozes, e concluiu que esta afetava as taxas de separação da espécie monogâmica.
A investigação, intitulada de “Environmental variability directly affects the prevalence of divorce in monogamous albatrosses”, foi publicada na edição de novembro da revista científica Proceedings of the Royal Society B. e destaca a forma como as condições ambientais ligadas ao aquecimento global podem ter consequências nas populações de animais selvagens. Numa base de dados foram registados o destino de cerca de 500 casais de albatrozes ao longo de quase duas décadas e os cientistas monitorizaram a ocorrência do “divórcio”, ou seja, casos em que ambos os membros de um par já estabelecido estavam vivos na colónia, mas pelo menos um deles se encontrava a nidificar com um novo parceiro. Os investigadores descobriram que a taxa anual de separação variou no tempo entre 1% e 8% de ano para ano.
Os resultados da análise sugeriram que estas variações se deviam às mudanças das condições ambientais enfrentadas pelos albatrozes reprodutores, sendo que os casais são mais propensos a divorciarem-se em anos caracterizados por temperaturas da superfície do mar mais elevadas. As temperaturas da superfície do oceano são consideradas indicadores úteis da disponibilidade de alimento para as aves marinhas, com temperaturas mais baixas propiciando águas ricas em nutrientes e mais produtivas, e temperaturas mais altas indicando condições de poucos recursos.
Francesco Ventura, estudante de doutoramento em Biologia e Ecologia das Alterações Globais, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e investigador no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), liderou a investigação e reconheceu que a equipa já sabia que os albatrozes de sobrancelha de New Island tinham mais dificuldades em reproduzir-se com sucesso em temporadas com águas mais quentes, mas que o estudo “representa a primeira evidência quantitativa de um impacto direto no meio ambiente do divórcio”.
O artigo está também assinado por José Pedro Granadeiro, professor do Departamento de Biologia Animal e investigador no CESAM Ciências ULisboa, Paul M. Lukacs, investigador da W. A. Franke College of Forestry and Conservation da Universidade de Montana, nos Estado Unidos da América, Amanda Kuepfer, investigadora do South Atlantic Environmental Research Institute, nas ilhas Malvinas e Paulo Catry, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) do polo do ISPA – Instituto Universitário.