A disrupção das rotinas, o aumento dos níveis de stress devido ao receio da Covid-19, a mudança do escritório para o quarto de dormir ou a falta de exposição à luz natural são alguns dos motivos que fazem com que cada vez mais pessoas relatem ter sonhos muito vívidos e perturbadores. Estes fatores conduzem também a uma qualidade de sono pior e ao aumento dos níveis de ansiedade. Um estudo do Laboratório de Investigação do Sono Northumbria explica que “essencialmente, os nossos corpos estão num modo de fugir ou combater o que, como sabemos, é incompatível com o sono”. Jason Ellis, professor de Ciência do Sono naquela instituição, explica que já circunstâncias sem precedentes que conduzem à “tempestade perfeita” no que toca à qualidade do sono. Este perito afirma também que não se regista um aumento no volume de sonhos per si, mas sim no volume de sonhos de que nos lembramos, lembra a Cnet.
Num projeto independente, as irmãs Erin e Grace Gravley lançaram um site chamado I Dream of Covid onde os utilizadores podem registar a sua localização e o conteúdo dos seus sonhos. Com mais de 2100 entradas desde 26 de março, a página mostra que há temas recorrentes, como elevadores, dentes, água e tempestades e outros específicos relacionados com a nossa nova realidade, que envolvem máscaras, apertos de mão, idas às compras e vacinação.
Os sonhos podem ser divididos entre especulativos e de ansiedade. Os primeiros passam-se no futuro e descrevem uma mudança nas modas, na regulação ou outras alterações que aí vêm. Os sonhos de ansiedade relatam preocupações com a saúdo dos que nos são próximos, mostram casas, comida, práticas de higiene e de toque.
Jennifer Martin, que faz parte do conselho de diretores da Academia Americana de Medicina do Sono, explica que a razão por que sonhamos de noite ainda é motivo de debate e não gera consenso. O que se sabe é que a maior parte das pessoas sonha de noite durante a fase de REM (de rapid eye movement) e que só se acordarmos durante esta fase, algo muito raro, é que nos lembramos do conteúdo do sonho. Agora, com os padrões de sono alterados, acabamos por dormir pior e acordar mais vezes de noite, o que faz com que nos lembremos dos pesadelos. O confinamento leva a que as pessoas se afastem de outros escapes para aliviar o stress, como o exercício físico ou o desporto, o que configura mais um motivo para um sono cada vez mais irregular.
As recomendações para recuperar a saúde do sono passam por manter uma rotina para se deitar e acordar às mesmas horas, evitar smartphones ou tablets antes de deitar e manter-se afastado de notícias sobre o novo coronavírus. Entre o que se pode fazer para se ter sonhos mais prazerosos e calmantes estão atividades como ler um livro, ver um vídeo insólito ou absurdo do YouTube ou ver fotografias das últimas férias.