“Como vai ser o mundo em 2030”, uma das muitas conferências com título sugestivo que decorrem no Web Summit. Três futuristas defenderam visões diferentes, embora todos estiveram de acordo que para os humanos não vão poder delegar tudo a máquinas porque se o fizerem deixam de ser… humanos. John Vickers, da Blue Abyss (a maior piscina do mundo, ainda em construção), defendeu que os humanos são, sobretudo, um somatório de experiências, dando como exemplo a condução autónoma: «pessoalmente, tenho prazer em conduzir, sobretudo motos, e não gostaria de deixar de poder ter essa experiência, mas também tenho situações em que preferia ter um carro com condução autónoma». Este futurista aponta para uma sociedade híbrida, onde humanos e máquinas vão partilhar tarefas, mas sempre com a decisão do lado humano.
Andra Keay, da Silicon Valley Robotics, está menos otimista. Na visão do futuro desta especialista em robótica, a capacidade económica das pessoas vai aprofundar a diferença entre classes: as famílias de maior capacidade económica vão ter casas energeticamente autossuficientes, assistentes digitais sofisticados, acesso a um sistema de saúde avançado e robôs para as tarefas diárias; por outro lado, os mais pobres vão ter de ver publicidade só para aceder aos dados e terão de trocar ADN e outros elementos orgânicos por cuidados de saúde.
O terceiro futurista em placo, Jacques Van den Broek (Randsat) também antecipa alguns problemas no futuro, sobretudo para quem exerce profissões que poderão desaparecer: «um em cada seis trabalhos vai desaparecer, mas mais importante será as grandes mudanças nos conteúdos dos trabalhos». E este especialista em emprego dá exemplos: «pelo menos alguns condutores poderão continuar a ser necessários, mas a condução deixará de ser a principal tarefa e talvez tenham de dedicar-se mais à socialização com os passageiros, à manutenção dos veículos e a outras tarefas relacionadas com a gestão do transporte».
A discussão acabou por evoluir para a gestão de recursos humanos e como os gestores mais autocráticos poderão ter a tentação de substituírem humanos por máquinas. Para Jacques Van den Broek este problema não existe porque «num mundo onde a informação vai ficar, cada vez mais, acessível a todos, não vai haver espaço para líderes autocráticos». Andra Keay reforçou esta opinião relembrando que «os sistemas de inteligência artificial complexos necessários para substituir humanos não vão ser mais baratos que as pessoas», adicionado «temos a tendência de considerar que as máquinas são mais baratas que as pessoas, mas isso nem sempre acontece e não vai acontecer em sistemas mais complexos.»